sábado, 29 de novembro de 2008

QUEM MANDOU APOSTAR ?





Desvalorização do real: muitos sentiram o golpe.

A primeira a soar o alarme foi a Sadia. No final de setembro, com a disparada do dólar, a companhia processadora de carne de frango anunciava que poderia ter extrapolado os limites estabelecidos pela política de risco da empresa ao investir em mais derivativos cambiais do que necessitava para cobrir suas exportações. Instantaneamente, a companhia demitiu seu principal executivo financeiro, tirou Luiz Furlan de sua aula de tênis e o levou de volta ao conselho da Sadia.
Os anúncios que vieram na seqüência faziam crer que essa era apenas a ponta do iceberg. A Aracruz, maior produtora mundial de celulose de eucalipto, revelou que sua exposição em contratos de target forward poderia ser o dobro dos derivativos atrelados ao pré-pagamento de exportações. Uma situação crítica que só teve um sinal consistente em 4 de novembro, quando a empresa finalmente revelou o valor total da perda - US$ 2,13 bilhões, o maior anunciado -, e que esta já estava sendo renegociada com os bancos, eliminando com isso a exposição em 97% desses papéis.
A falta de informações concretas sobre o número de companhias e o montante envolvido nessa jogada pela solidez do real levava mais tensão ao mercado. A corrida das empresas para resgatar depósitos para cumprir contratos e a possibilidade de calote a bancos fizeram o mercado batizar o evento de subprime tropical. O governo estimou que cerca de 200 empresas estavam envolvidas nesse tipo de contrato, e muitos previam que o buraco poderia ser mais fundo. Afinal, ainda havia um universo inexplorado entre as empresas de capital fechado, outras que poderiam ter negociado diretamente na BM&F Bovespa, além das com contratos no exterior.
Dessa forma, em um lapso de tempo, os derivativos cambiais, que costumam ser avaliados como uma excelente forma de cobertura para as empresas exportadoras, se transformaram em vilão, dando duras lições às empresas que por um momento de euforia desviaram seu foco da proteção e buscaram esses papéis como uma máquina de lucro. Observando seus efeitos em países como Brasil, Rússia e Coréia, Paul Krugman vaticinou no New York Times que o resultado dessa aposta de risco na fortaleza das moedas dos países emergentes seria "o segundo epicentro" da crise financeira mundial.
Outro mercado emergente fortemente afetado foi o México, onde importantes empresas revelaram perdas por suas exposições a esses instrumentos. Segundo Nicolás Olea, sócio do escritório da KPMG na Cidade do México, as perdas no país se explicam porque os gerentes financeiros pecaram por uma confiança desmedida. "A estabilidade experimentada pelo peso mexicano os fez cair em uma zona confortável", explica. "Ao ver que sofriam perdas por operações em que o dólar continuava se debilitando, decidiram assumir um risco extra e apostar em operações contrárias em derivativos para ressarcir perdas anteriores e embolsar lucro extra."
Entre as companhias mexicanas que participam dessa lista estão a Cemex, com perdas de mais de US$ 700 milhões, a fabricante de tortilhas Gruma, com US$ 684 milhões; o grupo industrial Gissa, com US$ 600 milhões e a fabricante de vidro Vitro, com US$ 227 milhões. O caso mais significativo foi o da empresa varejista Comercial Mexicana, que teve que pedir ajuda a seus credores devido aos US$ 1,39 bilhão em perdas relacionadas à exposição a esses derivativos.
Mau precedente
No Brasil, ainda que permaneça a dúvida sobre quando essa onda de prejuízos tocará o fundo, a aposta é de que os anúncios bombásticos já foram dados, e as negociações em curso entre empresas e bancos acalmam o mercado. "Bolhas existirão, e é preciso acostumar-se a elas", diz Gabriel Basaluzzo, diretor do mestrado de Finanças da Universidade San Andrés, em Buenos Aires.
Mas nem todos os que estão em cima dela, grandes ou pequenos, querem aceitar isso. A empresa têxtil Vicunha, por exemplo, devia US$ 100 mil ao Merrill Lynch por perdas com derivativos, e afirmou que não pagaria alegando que a pessoa que assinou não tinha autorização para fazê-lo. Para Carlos Eduardo Gonçalves, professor de Economia da FEA/USP, esse é um precedente arriscado. "Se as empresas não pagarem, o que vai ser do mercado futuro daqui pra frente?", questiona.
Afinal, o jogo não pode ser legal apenas quando se está ganhando, e não é de hoje que as empresas o fazem. Um working paper do Banco Central chamado "Demand for Foreign Exchange Derivatives in Brazil: hedge or especulation", publicado no final do ano passado por Fernando Oliveira e Walter Novaes, analisou contratos de swaps de taxa de câmbio abertos ao final de 2002 e identificou que em períodos de grande volatilidade cambial, como em 2002, a demanda de empresas por esse tipo de derivativo está fortemente relacionada a razões especulativas, sendo as empresas exportadoras as com maior probabilidade de fazê-lo.
Além do risco da perda pelo câmbio, entretanto, o problema está na credibilidade, "já que o acontecido expõe um problema sério de governança corporativa", lembra Gonçalves. "O que o board estava fazendo nessa hora?" E há quem afirme que a aventura mal-sucedida dos derivativos seja motivo para o afastamento de investidores internacionais que buscam negócios na bolsa brasileira, e não querem saber de especulação com seu dinheiro. "O instrumento escolhido por essas empresas é simples, não fixa limites para cima ou para baixo para limitar perdas excessivas e em períodos de volatilidade moderada são eficazes", diz Basaluzzo. "Mas quando uma bolha rompe, cobra tudo de volta, e num só golpe, e a estrutura da tesouraria de uma empresa não está preparada para identificar esses momentos, pois tem seu foco na área produtiva, e não na financeira."
Para José Cézar Castanhar, economista da FGV-Rio, "esse episódio deixou claro que é errada a noção de que se pode acreditar em ajuste automático; e que os executivos precisam focar-se na finalidade da empresa, e avaliar mais seriamente os impactos de suas escolhas."
Correção de rota
Como, então, evitar o desastre? "Não se pode colocar travas nem restringir o mercado, mas do ponto de vista regulatório hoje se está facilitando ao máximo a divulgação de dados, da forma mais transparente possível", diz Edison Arisa, coordenador técnico do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), sobre a iniciativa da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deliberar a exigência de informações mais abrangentes e detalhadas sobre os instrumentos derivativos que as companhias detêm em seus balanços trimestrais, a partir do terceiro trimestre deste ano. Arisa acrescenta que a CVM também pediu às empresas, de forma facultativa, que passem a apresentar uma análise da sensibilidade dos derivativos que operam, com parâmetros pré-definidos.
Para as empresas escaldadas pelas perdas de dinheiro e de moral nesse jogo de azar, a sugestão dos analistas é de trabalhar com políticas de exposição ao risco mais rígidas, como as de um banco.
Para Basaluzzo, outra estratégia possível para retornar uma empresa ao foco produtivo seria uma mudança na política interna da companhia, excluindo o resultado desses mecanismos financeiros da remuneração do CFO. "Esse executivo está aí para garantir caixa e minimizar o risco. Enquanto seja premiado por resultados, poderemos ver tal situação se repetir com mais freqüência". Já Álvaro Cyrino, professor de Economia da Fundação Dom Cabral, afirma que hoje "os executivos são remunerados pela capacidade de criar uma fantasia, e são bem remunerados porque isso é arriscado. Não há no universo condição de crescer nas taxas esperadas pelo mercado, descola-se da realidade e aí se forma a bolha". Mas Cyrino acha que esse modelo já não agrada e que "estamos começando a ver as coisas como elas deveriam ser".
Por ora, a versão do "subprime tropical" está descartada, ainda que as perdas sejam inegáveis. A torcida é para que alguma lição tenha ficado e o pior já tenha passado.
Ao menos até a próxima bolha.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O mundo depende de países como o Brasil

COM CERTEZA E CADA VEZ MAIS .... A DEPENDÊNCIA FIC MAIS EVIDENTE !!!

Em entrevista a AMANHÃ, o diretor do Banco Mundial no Brasil, John Briscoe, fala do status que o país e outros emergentes adquiriram e diz por que o Rio Grande do Sul ganhou atenção especial

Por: Eugênio Esber

Voz influente nas políticas do Banco Mundial, a ponto de merecer um capítulo à parte no livro de Sebastian Mallaby sobre James Wolfensohn, John Briscoe está fazendo as malas para deixar o Brasil. O sul-africano que passou parte de sua juventude em aldeias de Bangladesh, em um auto-exílio de repúdio ao regime do apartheid, prepara-se para lecionar em Harvard depois de três anos como "country director" do Banco Mundial no Brasil. Briscoe leva na bagagem o ineditismo de uma operação que culminou com o empréstimo de US$ 1,1 bilhão para o Estado do Rio Grande do Sul - maior empréstimo já realizado pelo banco no Brasil. Nesta entrevista a AMANHÃ, Briscoe relata como a sua equipe conseguiu viabilizar a operação, sob o olhar cético do board, e explica se é possível atender a outros estados que tenham o mesmo interesse, como Alagoas. Aos 60 anos, um Briscoe que Sebastian Mallaby descreveu como "um jovem idealista" está satisfeito com a crescente influência dos países emergentes nas decisões do Banco Mundial, embora considere necessário transformar este peso político em poder de voto nas decisões do board. "O mundo olha para a Índia, para a China, para o Brasil, como os países que podem dar uma certa estabilidade à economia global, diante das dificuldades globais", afirma Briscoe, na entrevista reproduzida a seguir.
O que há de ineditismo no contrato que o Banco Mundial assinou com o governo do Rio Grande do Sul?
Em primeiro lugar, o tamanho da operação. É o maior empréstimo que já fizemos na América Latina. Em segundo lugar, se trata da primeira operação de financiamento de dívida que fizemos. E a operação é inédita também por envolver um Estado que não atendia às exigências da Lei de Responsabilidade fiscal, o Rio Grande do Sul. Além disso, outro aspecto que há para salientar é a cooperação - fora do normal, eu diria - que se estabeleceu entre o governo do Estado, o BANCO MUNDIAL e o governo federal, por intermédio do Ministério da Fazenda.
Foi difícil, para a equipe brasileira, convencer os quadros de Banco a realizar uma operação deste gênero com uma entidade subnacional que naquele momento não estava cumprindo as exigências da lei de responsabilidade fiscal?
Como você sabe, o Rio Grande do Sul estava numa situação precária. Nessas condições, qualquer operação tratando de Rio Grande do Sul que a gente levava para o board do Banco Mundial era vista com muita cautela. Porque antes já havíamos tido operações que despertaram a esperança de que o Estado revertesse o seu caminho, e isso não havia acontecido. Então havia ficado esta, digamos, bandeira negativa do Rio Grande do Sul. Era a primeira dificuldade a superar.
Não era a única...
Havia uma segunda dificuldade. A lei de responsabilidade fiscal é vista por todos nós, do banco, e também pelo governo federal, como um instrumento exitoso, essencial, para a administração pública. E fomos questionados pelo board: cabia fazer uma operação com um Estado que não estava em dia com a lei de responsabilidade fiscal? Tivemos de fazer todo um trabalho de esclarecimento para mostrar que o Estado estava implementando um programa de ajuste fiscal muito forte e que todas as forças políticas do Estado estavam comprometidas com este esforço de reestruturação da dívida e das contas do Estado. Essa união de deputados, senadores, ficou clara no dia da assinatura do contrato com o BANCO MUNDIAL. Ficou claro, para nossos gerentes, que aquilo não era uma operação com uma governadora que tem mais dois anos de mandato, e sim um compromisso firmado com todas as forças políticas do Estado. E um compromisso que envolve um programa forte de gerenciamento do setor público e, inclusive, de ajuste do sistema previdenciário...
É possível que outros Estados brasileiros que não estejam em dia com a Lei de Responsabilidade Fiscal recebam atenção semelhante do Banco Mundial?
Nesse ponto cabe deixar claro que operações como essa que fizemos com o Rio Grande do Sul têm três agentes: o governo federal, o governo do Estado e em terceiro lugar o Banco Mundial. A primeira exigência que fazemos ao Estado é apresentar um plano para chegar a uma situação sustentável, que lhe permita retomar investimentos e promover o crescimento econômico regional. É o elemento absolutamente essencial, e neste aspecto o governo do Rio Grande do Sul mostrou muita garra e persistência. O segundo passo, para o governador, é convencer o governo federal de que o programa de ajuste é para valer - especialmente se o Estado estiver fora da lei de responsabilidade fiscal. E, de volta ao caso do Rio Grande do Sul, se o governo federal não tivesse mostrado interesse e envolvimento, a conversa com o Banco Mundial acabaria ali...
Há algum outro Estado negociando com o BANCO MUNDIAL?
Há apenas mais um Estado fora do limite de lei de responsabilidade fiscal. É Alagoas. O governo alagoano já manifestou interesse de obter um financiamento do BANCO MUNDIAL. Nós temos mantido várias conversações com Alagoas, quase sempre junto com o governo federal. E agora está nas mãos do governo alagoano definir um programa de ajuste fiscal. Até agora ainda não está muito claramente definida qual é a proposta do Estado. Cada caso é um caso. Ouvimos o governador de Alagoas dizer: "Eu quero fazer o que o Rio Grande do Sul fez." Mas não é a mesma coisa. O caso do Rio Grande do Sul tem especificadades. Assim como o município de São Paulo, que possui uma dívida muito maior que a de Alagoas, também tem peculiaridades.
Ao exigir dos Estados um plano de ajuste fiscal antes de qualquer negociação, o Banco Mundial lembra os protocolos de intenções que o FMI impunha ao Brasil e a outros países que faziam romaria em busca de recursos para fechar as contas externas?
É uma pergunta relevante. Mas são situações diferentes. O que o FMI fazia, dez anos atrás, era dizer aos países "Façam isso ou vocês não têm o dinheiro." Muitas vezes os presidentes até queriam fazer reformas mas preferiam que o papel de bad guy fosse exercido pelo FMI. Não trabalhamos com este tipo de imposição. Mas é verdade que se um governo estadual viesse dizer ao banco "não queremos fazer reforma, não queremos fazer nada para termos uma situação fiscal estável, mas queremo um bilhão de dólares de vocês", de jeito nenhum a gente aprovaria isso. A governadora ou governador tem que ter um programa que, em primeiro lugar, convença o ministério da Fazenda. Porque se não for um programa sério, o ministério não dará apoio. Hoje, a postura do governo brasileiro é de encarar a responsabilidade fiscal como um dever, como algo absolutamente essencial. Quando cheguei aqui, há três anos, tive um encontro com o ministro Palocci e ele foi muito enfático em afirmar isso. E o comportamento do governo brasileiro e dos governos estaduais confirma esta preocupação.
Olhando para os melhores modelos mundiais de gestão pública que o senhor conhece, como avalia a situação brasileira?
Eu ouvi certa vez do Murilo Portugal, que era o vice-ministro de Finanças (Fazenda), uma frase com a qual eu acho que todos concordam: que no Brasil se paga por serviço de cinco estrelas mas não se recebe um serviço à altura. Eu costumo dizer que se paga por 5 estrelas mas se recebe um serviço de três estrelas. Pela carga de impostos que cobra dos cidadãos, o Brasil devia estar entre os países com a melhor gestão pública do mundo. Mas não é assim, e por isso se criou a expressão "Custo Brasil" para mostrar a distância entre o Brasil e seus competidores no mundo. Por isso, ficamos felizes quando vemos programas de ajuste em estados como Minas e Rio Grande do Sul. É preciso melhorar a qualidade do gasto público.
O Banco Mundial e FMI, surgiram da conferência das nações em Bretton Woods. A crise global revela que o mundo carece de novas instituições capazes de coordenar os esforços de diferentes países na direção de soluções consistentes?
Este é um assunto para instâncias mais altas. Mas, falando em termos pessoais, acho que é preciso repensar a arquitetura de operações entre as nações. Ela foi desenhada mais de meio século atrás, quando vivíamos em um outro mundo. E esta situação é diferenciada. Olhando as crises anteriores, você vê que elas começavam com um país emergente, como México, Brasil... E esta crise começa por uma nação como os Estados Unidos. Ainda não sabemos como esta crise vai evoluir. Mas o mundo olha para a Índia, para a China, para o Brasil, como os países que podem dar uma certa estabilidade à economia global, diante das dificuldades norte-americanas.
As economias emergentes têm poder de influência compatível com esta nova importância que começam a assumir?
A voz dos países emergentes nestas organizações de coordenação internacional não correspondem, de jeito nenhum, ao peso, à influencia e à importância que adquiriram. Isso é muito óbvio. O Brasil, por exemplo, tem cerca de 2% de participação no Banco Mundial e a China e a Índia não vão muito além disso. Por isso estes países não têm grande peso nas votações. E, por outro lado, na mesa de votação, você tem uma dúzia de países europeus menores do que vários estados e até municípios do Brasil. São pequenos países que eram muito importantes em 1948. Então, eu acho que, com esta crise, vai começar um processo profundo, essencial e saudável para se dizer algo como "Esse sistema, como está hoje em dia, já não basta".
O mundo está sofrendo as dores do parto desta nova arquitetura mundial?
Eu acho que sim. Será preciso muito empenho das nações. Hoje, diante do tamanho desta crise, nós estamos nos perguntando: quem estava olhando para o que acontecia? O FMI não estava olhando para isso, nem qualquer outra instituição. Mas alguém devia ter olhado. Depois da crise, sempre é fácil dizer, claro. Mas eu acho que não se trata de falta de mecanismos, e sim de um novo momento de poder, de distribuição da influência mundial. E nós vemos com muita excitação este novo momento.
O BANCO MUNDIAL vê como saudável esta afirmação dos emergentes?
Sim. Veja, na parte das ações formais do banco, quando ocorre uma votação, o peso do Brasil é de 2% e o peso dos Estados Unidos é de 15%. Mas está ocorrendo um processo interessante, de alguns anos para cá. Dez anos atrás, as discussões eram completamente dominadas pelos países europeus e pelos norte- americanos. Os diretores dos países emergentes não tinham papel mais ativo na definição das políticas centrais do banco. Hoje em dia, não. Países como o Brasil, Índia, China, Turquia, México têm uma voz muito mais articulada e consistente no BANCO MUNDIAL. O Board é formado por 24 diretores. Quando o diretor que representa o Brasil fala sobre uma política global do BANCO MUNDIAL ele é ouvido com muita atenção. O Zoellik (Robert Zoellik, presidente do Banco Mundial)veio ao Brasil falar com Lula e em nenhum momento se comportou como se estivesse diante de um país com peso de 2%. Ao contrário, ouviu e considerou atentamente tudo o que Lula e Dilma falaram. Então, informalmente, é quase como se já houvesse uma nova arquitetura. Mas formalmente, em termos de votação, o peso destas nações ainda é pequeno, desproporcional. É preciso trabalhar também esta parte formal.
Sua saída está prevista para o fim do ano. Como o senhor deixa o Brasil?
Eu deixo chorando, como todos deixam. Porque para quem trabalha no banco atuar no Brasil é uma honra muito grande. Aqui aprendemos muita coisa. Temos uma relação fantástica com o governo, com os nossos parceiros nos governos estaduais, nos municípios, no setor privado. E isso reflete muito o que é este país. Porque o Brasil é um país que recebe com braços abertos. Todos nós aqui do banco nos sentimos parte desta viagem brasileira.
O país mudou muito desde a primeira vez em que o senhor trabalhou aqui, há 20 anos?
Bom, O que não mudou é esta característica brasileira de ser um país muito cordial e amistoso. Mas quando eu olho para as relações do banco com o Brasil, há vinte anos, vejo grandes mudanças. Eram relações muito difíceis, a toda hora havia disputas entre o Ministério da Fazenda e o Banco. Hoje, é uma relação totalmente diferente. Já faz dez anos que nosso diretor para o Brasil trabalha baseado aqui mesmo e não em Washington. O nosso time que trabalha aqui conhece intimamente o Brasil. As circunstâncias também são outras. Quando trabalhei aqui, em 1986, era o auge da inflação. Todos os indicadores econômicos e sociais, como mortalidade infantil, eram incomparavelmente piores do que os de hoje. Trabalhar agora com o Brasil, fazer projetos inovadores como este que envolveu o Rio Grande do Sul ou o Bolsa-Família na Amazônia, foi uma honra para mim.
O que o senhor fará depois de deixar o Brasil?
Vou atuar num centro de estudos brasileiros de Harvard. E lecionar em uma disciplina ligada a desenvolvimento e uso de recursos naturais, com foco em água.
Qual é a situação do Brasil e do mundo sob este ponto de vista - água?
O problema é que não há mais água. México, China, Índia, todos têm problemas gigantescos de gerenciamento de recursos hídricos. Todos estão usando sua água de forma insustentável, o que coloca algumas grandes áreas de crescimento agrícola e industrial destes países em uma perspectiva extremamente difícil. O Brasil, claro, tem desafios nesta área - principalmente no Nordeste. Mas nada que não possa ser manejado, gerenciado. Se me perguntassem qual país estaria em melhor situação dentro de 20 anos, não teria dúvida em apontar o Brasil. Aqui, basta que o país tenha a capacidade de se organizar e gerenciar seus recursos hídricos. E então o Brasil estará muito bem e eu vou vir para cá, comprar meu lote...

Bolsa em Alta .. Bolsa em Baixa ...


Hormônios que regem mercados Sim, eles afetam o comportamento dos investidores e influem no vaivém da bolsa
Em outubro deste ano, o portal
The Naked Scientists trouxe uma entrevista bastante interessante com o professor John Coates, da Universidade de Cambridge. Assunto: como os hormônios dos investidores acabam alterando os rumos do mercado financeiro global. Parece um trololó sem tamanho, mas o fato é que Coates tem argumentos até bem razoáveis. Por exemplo:
Tolerância ao risco e testosterona: segundo Coates, os investidores que melhor lidam com o risco são aqueles que apresentam níveis mais elevados de testosterona - hormônio que está relacionado à auto-confiança, à coragem e à agressividade.
Auto-confiança exagerada: isso não significa que os investidores devam tomar injeções de hormônios. Ao contrário: testosterona demais tende a levar as pessoas a uma overdose de auto-confiança – que pode se refletir em decisões equivocadas ou simplesmente estúpidas na negociação de ações.
Quem ganha muito está mais vulnerável às perdas: segundo Coates, um dos fatores que elevam o nível de testosterona no organismo é a obtenção de lucros rápidos e fáceis na bolsa. Daí o fato de que as fortes altas do mercado financeiro são, muitas vezes, sucedidas por ondas irracionais de euforia e irracionalidade – que desembocam em crises.
Negativismo e cortisona: por outro lado, quem perde dinheiro na bolsa tende a sofrer com o estresse e a angústia, dois sentimentos que liberam um hormônio conhecido como cortisona. Para quem não sabe, a cortisona tem um efeito repressor. Atua sobre a memória – faz com que as pessoas se lembrem de coisas associadas ao medo e à angústia – e gera uma verdadeira aversão ao risco.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Dívida do consumidor brasileiro já é de dez meses de salário



Em quatro anos, o endividamento do brasileiro cresceu quase 70% na relação com o número de salários recebidos. Entre cheque especial, cartão de crédito, financiamento de veículos, crédito pessoal e empréstimos imobiliários com recursos livres, o consumidor devia dez meses de salário em setembro. Em 2004, a dívida correspondia a 5,9 meses de salário.
Os cálculos são do consultor para o sistema financeiro e economista pela Universidade de Brasília, Humberto Veiga. Para chegar a esses números, ele considerou a evolução da massa de salários com base nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em seis regiões metropolitanas e o montante de crédito concedido ao consumidor.
Segundo o economista, esse descompasso entre o crescimento da dívida e da renda dos trabalhadores faz crescer o risco de inadimplência, especialmente agora que o cenário de desaceleração da economia começa a ganhar contornos mais nítidos e poderá ter impactos no nível de emprego.
Embora as estatísticas mais recentes do Banco Central, que são de setembro, mostrem uma certa estabilidade na inadimplência em geral das pessoas físicas, dados do comércio de São Paulo revelam que o calote aumentou em outubro. A inadimplência líquida, que é o saldo dos carnês em atraso acima de 30 dias com os renegociados, em relação às vendas de quatro meses anteriores, que estava em 5,9%, subiu para 7% em outubro, segundo as contas da RC Consultores, com base nas estatísticas da Associação Comercial de São Paulo.
"Houve uma piora do ambiente do consumidor exatamente quando a economia começa a desacelerar", diz o sócio-diretor da RC Consultores, Fabio Silveira. Além do aumento da inadimplência líquida, ele ressalta que houve aumento de 26%, em setembro, para 31%, em outubro, dos consumidores com contas em atraso que não acreditam que conseguirão pagar as dívidas, de acordo com a pesquisa da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio).
Também o comprometimento da renda dos endividados aumentou de 34% para 36% de setembro para outubro, segundo informações da mesma entidade. Na análise de Silveira, as informações da Grande São Paulo são um indicador antecedente relevante do que está ocorrendo no restante do País, pois a região é o principal mercado consumidor.
"Hoje existe uma superposição de endividamento do consumidor e o calote não reflete a crise. O quadro da inadimplência deverá piorar nos próximos meses", prevê o economista. Ele ressalta que, com o desaquecimento da produção industrial que deve crescer no ano que vem 3%, a metade do previsto para 2008, a tendência será de perda de dinamismo no emprego e na geração de renda advinda da atividade.


Fonte : Folha de S.Paulo 24/11/08

sábado, 22 de novembro de 2008

LULA : O ILUMINADO


Na revista IstoÉ (Da Globo) com foto da revista americana "Esquire" quando anunciou Lula na lista de 75 pessoas mais influentes do mundo, diz: Com popularidade recorde, o presidente brasileiro cutuca os protagonistas da crise econômica, conquista prestígio internacional e ofusca Hugo Chávez na América do SulO mundo discute o petróleo e os modelos energéticos alternativos. O Brasil tem as duas coisas: a perspectiva de se tornar um dos principais produtores de petróleo do mundo graças às reservas do pré-sal e o domínio da produção e a tecnologia para o uso do etanol como combustível. E tem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que compreendeu a importância estratégica desses dois fatores. E que também exerce o papel de mediador da América do Sul perante os países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos, ofuscando o radicalismo de um Hugo Chávez. Esses foram os argumentos que a revista americana Esquire usou para escolher Lula, na sua edição deste mês, como uma das 75 personalidades mais influentes do mundo neste início de século XXI. A revista diz que Lula é o “Bill Clinton da América do Sul”. Na definição da Esquire, o ex-presidente americano – que também integra a lista das 75 personalidades – é uma mistura de “agente da mudança” e “agitador.”Na mesma semana em que apareceu na relação elaborada pela revista Esquire, Lula também foi personagem de um artigo do principal jornal francês, o Le Monde. Na quinta-feira 18, o jornal chamou a atenção para o papel de Lula e do Brasil na solução da crise da Bolívia, durante reunião dos países da Unasul em Santiago do Chile. “Luiz Inácio Lula da Silva se comporta como líder regional. Ele tem as ferramentas para fechar um consenso e exercer uma influência mediadora aceitável dentro do subcontinente e no Exterior, principalmente nos Estados Unidos”, registra o Le Monde. A atuação de Lula como mediador, aliás, tinha sido ressaltada antes por diversos líderes que participaram da cúpula da Unasul no Chile.Lula de fato vive um momento iluminado. Pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no dia 12 de setembro, aponta que ele bateu seu próprio recorde de popularidade: nada menos que 64% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom. É, disparada, a melhor avaliação de um presidente desde a redemocratização do País, em 1985. E Lula surfa nessa popularidade. Nem seus adversários ousam criticá-lo. Em sabatina feita na quinta-feira 18 pelo jornal Folha de S. Paulo, o candidato do DEM à Prefeitura de São Paulo, Gilberto Kassab, classificou Lula, Fernando Henrique e o governador paulista José Serra como os três principais políticos brasileiros.“Nada disso está longe de ser gratuito”, observa o cientista político José Luciano Dias, da C.A.C. Consultoria, de Brasília. “Lula é um exemplo de como um líder de esquerda pode modernizar seu discurso e abrir-se para o mundo sem perder a relevância”, observa ele. Para Dias, a comparação que a revista Esquire faz entre ele e Clinton não é exagerada. “Clinton reciclou as idéias dos democratas para abarcar as teses liberais sem deixar de lado a necessidade de políticas sociais de inclusão. É o que faz Lula no Brasil: mantém um Banco Central independente, mas ao mesmo tempo acelera a inclusão social”, avalia.Para completar, do ponto de vista político, Lula agrega à sua base nada menos que 13 partidos, o que praticamente asfixia a oposição. “Não apenas por causa de Lula, mas também por conta de algumas cooptações feitas pelo PT, as oposições estão praticamente revogadas”, constata o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

terça-feira, 18 de novembro de 2008

As nossas regras são melhores... Nem tanto.



Uma certa mentalidade insular tem propagado um mantra nos últimos meses. As regras financeiras e bancárias no Brasil são melhores do que as existentes nos outros países. Sobretudo, melhores do que as em vigor nos EUA.

Pode ser. Mas tenho dúvidas, embora não milite no jornalismo econômico há algum tempo.

No Brasil, de fato, os bancos são obrigados a terem reservas mais altas para cobrir suas operações de crédito. Nos EUA, bancos estavam alavancados dezenas de vezes (para cada dólar em caixa emprestavam 30 ou 35 dólares na praça; uma loucura).

Tudo verdade. Mas vale ressaltar dois aspectos.

1) capitalismo diferente: os bancos no Brasil sobrevivem numa categoria diferente de livre mercado. É algo que poderia muito bem ser classificado de “capitalismo sem risco”. Os juros mais altos do mundo, há décadas, tornaram a atividade financeira uma moleza se comparada à de países onde há uma única forma de capitalismo, o capitalismo real, com risco.

Por estas plagas, dois amigos têm dinheiro sobrando, abrem um banco, compram títulos do Tesouro brasileiro e certamente terão lucro, sem necessidade de arrojo ou inovação.

Nos EUA, o juro pago por papéis do governo é negativo. O título público norte-americano é uma reserva de valor. Quem compra sabe que o dinheiro estará para sempre garantido na hora do resgate. Daí o juro ser muito baixo.

Para ganhar dinheiro, os banqueiros norte-americanos precisam se jogar aos leões, conquistar clientes, dar empréstimos. Enfim, precisam correr muito mais riscos do que seus colegas brasileiros.

Podemos todos reclamar dos EUA, da arrogância, do belicismo. Podemos parar de tomar Coca-cola para protestar (como um ministro de FHC fez no passado). Tudo bem. Mas é inegável que esse modelo de alta competição deu ao país acima do Rio Grande uma vitalidade nunca vista aqui perto do Trópico de Capricórnio. O risco, inerente ao capitalismo verdadeiro, compele as pessoas à inovação. Quantas Microsofts e Apples surgiram no Brasil com todas as regras mais avançadas que supostamente existem por aqui?

No Brasil, título público é um dos melhores investimentos possíveis. Uma geração de brasileiros rentistas sonhou e sonha em ter dinheiro para colocar no banco e viver de renda. Essa é uma anomalia incompatível com capitalismo. Mas perfeitamente em linha com o “capitalismo sem risco” à brasileira.

Os sucessivos governos, desde o final da ditadura militar, nada fizeram para acabar com essa mentalidade deformada que comanda os nossos empresários –e muitos integrantes da classe média resmungona.

2) proteção ao consumidor: esse é outro aspecto importante a ser considerado sobre as regras daqui e dos EUA.

Os correntistas norte-americanos, até recentemente, tinham até US$ 100 mil garantidos de seus depósitos bancários. Veio a crise atual e o limite subiu para US$ 250 mil.

No Brasil, informa o site do
Banco Central, o valor garantido em contas correntes individuais vai até R$ 60 mil.

Ou seja, o sistema bancário brasileiro pode ser mais regulamentado que o norte-americano, mas o cuidado para preservar a ponta mais frágil do sistema, o correntista, é menos exigente do que o modelo norte-americano.

Por fim, um pitaco a respeito dos papéis exóticos conhecidos como derivativos.

São contratos que empresas, bancos, qualquer um pode fazer para garantir preços e rendas. Por exemplo, um contrato de câmbio futuro. Foi aí que várias empresas brasileiras se estreparam com a crise, pois houve uma grande desvalorização do real.

Nos EUA, esse mercado é muito maior. Foi um dos responsáveis por ninguém saber ao certo o que se passava dentro de determinadas instituições até que a bolha imobiliária estourasse.

Alguns por aqui logo deram risada. Começaram a se jactar sobre as “regras mais rígidas” e seguras do país tropical.

Na realidade, o que se passa na verdade é que as autoridades dos EUA estão se movimentando com extrema rapidez no caso dos derivativos. O
Tesouro dos EUA anunciou na sexta-feira, dia 14.nov, antes da reunião do G-20, regras nunca antes imaginadas para o setor de derivativos.

Os reguladores dos EUA planejam câmaras de compensação para derivativos vendidos em balcão, uma grande novidade (aliás, impuseram esse item apara o G-20, no dia seguinte). Se der certo, a idéia trará muito mais transparência a um mercado hoje dominado pelo segredo. Antes do final do ano esse novo sistema deve estar funcionando nos EUA.

Como esses norte-americanos acreditam de fato em capitalismo, arrancaram logo uma declaração da associação de representantes de emissores de derivativos apoiando a medida. A
International Swaps and Derivatives Association lançou um comunicado também na sexta-feira, dia 14.nov., apoiando a decisão do Tesouro.

No Brasil, há câmara de compensação para derivativos –mas não para títulos vendidos no balcão. Transparência aqui também não é o forte. O governo ficou vendido quando grandes empresas começaram a anunciar grandes perdas no mercado de derivativos futuros em meio à atual crise.

Talvez fosse o caso de perguntar que tipo de vantagem as tais regras financeiras mais rígidas do Brasil trouxeram de benefício para o país nos últimos anos. Além dos lucros astronômicos dos bancos sob FHC e sob Lula, que incentivo houve para os brasileiros em geral sonharem mais em empreender do que com deixar o dinheiro no banco aplicado no fundão para “viver de renda”. No fundo, todos aqui querem ser personagens de Aluízio Azevedo e comprar uns sobradinhos para alugar. Empreender não é a nossa praia.

No fundo, essas regras mais rígidas brasileiras só funcionam quando existe o capitalismo quase sem risco que vamos legar ao mundo como contribuição nacional. Juros altos, lucros altos. A combinação permite exigir muitas garantias do sistema. Mas essas mesmas regras têm compelido a todos nós para a periferia do mundo nas últimas décadas.

Acabar com regras? Nem pensar. Mas aperfeiçoá-las para que produzam riqueza geral e não apenas estabilidade econômica e riqueza para poucos. Há sinal de interesse do governo Lula nesse sentido? Pergunte ao Lula.

Desde o estouro da bolha imobiliária nos EUA e do agravamento da crise, ouve-se dia sim e dia também que as regras do Brasil são as melhores.



BLOG FERNANDO RODRIGUES - UOL.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Contratação de executivos.


Carreira: contratação de executivos se mantém em alta, mas deve cair


SÃO PAULO - No terceiro trimestre deste ano, a procura por executivos se manteve em alta, com crescimento de 50% em relação ao mesmo período do ano passado.

Para o último trimestre do ano, por sua vez, deve-se esperar queda nas contratações destes profissionais."Muitas empresas devem diminuir o ritmo dos processos de seleções, mas não devem estancar definitivamente a abertura de vagas para seus quadros, pelo menos enquanto o ambiente econômico estiver incerto", afirmou o presidente da consultoria DBM Brasil, Cláudio Garcia.

De acordo com estudo realizado pela consultoria especializada em gestão de capital humano, apenas em setembro último, houve procura por 1.860 executivos, o que representa um aumento de 79% e relação ao mesmo mês do ano passado. Destaques no trimestre

O setor de construção foi destaque em crescimento de contratações no terceiro trimestre do ano, com avanço de oito vezes em relação ao mesmo período do ano passado, sendo responsável por 7% de toda a demanda do período.

A surpresa ficou com o setor petroquímico. Até então tímido na contratação de executivos, ele foi responsável por 6% da demanda no período de julho a setembro deste ano, com crescimento também de oito vezes. "As recentes descobertas de novos campos de exploração de petróleo e gás natural promoveram reflexos para o segmento como um todo", explicou Garcia.

Na comparação com anos anteriores, os setores de comércio e serviços são destaque em contratações, uma vez que, juntos, responderam por 29% da demanda por executivos no terceiro trimestre deste ano.

Veja quais áreas dentro das empresas que mais contrataram no terceiro trimestre: o segmento financeiro dominou o cenário, com 23% das novas vagas;comercial e marketing, juntos, responderam por 28%;a área de comercial e vendas imprimiu crescimento de 84% em relação ao terceiro trimestre de 2007;a área de marketing cresceu 55% em 2008;Setor financeiro.


Estudo interno da DBM referente aos setores que mais desligaram executivos no terceiro trimestre deste ano revelou que a área financeira teve pequena retração (0,76%) em relação ao mesmo período do ano passado. No entanto, no próximo semestre, a diferença pode aumentar.

A área ocupa a segunda colocação no ranking dos 20 setores que mais demitiram.


Em primeiro lugar nesta lista está a indústria farmacêutica - devido a fortes ajustes de portfólio de medicamentos -, seguida da área de produtos de consumo.

Neste último caso, o motivo é a crise, que deve estar contraindo o varejo.


As áreas eletroeletrônica e serviços completam as cinco primeiras colocações no ranking de profissionais demitidos.


Por: Flávia Furlan Nunes

12/11/08 - 13h54

InfoMoney

sábado, 8 de novembro de 2008

PAUL SINGER : Caindo na real.


É nos momentos de crise financeira que a opinião pública se volta a este tema: como se relacionam o mundo financeiro, com suas vicissitudes especulativas, e o mundo da economia real. São dois mundos distintos: no primeiro circulam valores monetários que são créditos; no segundo circulam bens e serviços que satisfazem necessidades de seres humanos. Estes últimos são mercadorias -produtos destinados à venda, sendo também valores monetários. A diferença entre ativos financeiros e mercadorias é que os primeiros são virtuais, só valem como promessas de ganhos futuros,enquanto os últimos são reais, prontos para serem utilizados ou consumidos.As finanças prestam serviços à economia real: recebem em depósito a poupança de entidades (famílias, empresas e governos) e lhes oferecem empréstimos.Bancos, fundos e congêneres recolhem o dinheiro sobrante dessas entidades,que têm poupanças, e o emprestam a outras, que necessitam de dinheiro.O que efetivamente importa é que os bancos podem emprestar mais dinheiro do que captaram do público ou de outros intermediários. Eles podem fazer isso porque gozam de crédito por parte do público, que aceita em pagamento transferências de depósitos bancários.Cheques e cartões eletrônicos são ordens de pagamento que o cliente do banco emite para que as dívidas que ele faz em lojas, restaurantes etc. sejam pagas pelo seu banco. A grande maioria das transações dos agentes da economia real é liquidada por meios de pagamento bancários. Só transações de pouco valor são liquidadas por meio da moeda oficial emitida pelo Banco Central ou pelo Tesouro do governo nacional.O valor dos créditos concedidos por um banco durante um período não tem que equivaler ao valor novo depositado por clientes que poupam; pode ser maior,igual ou menor.Quando é maior, o banco criou mais meios de pagamento do que absorveu.Ao conceder um crédito a um cliente, o banco acrescenta o valor do crédito ao depósito do cliente. Este usa o cartão de crédito ou cheque para transferir o valor acrescentado ao seu saldo aos seus fornecedores de equipamentos, instalações, matérias-primas etc., que são os elementos materiais do seu investimento. Os fornecedores depositam imediatamente o dinheiro recebido em suas contas bancárias.Quando todos os bancos, no afã de ganhar mais, ampliam os empréstimos a agentes da economia real, os depósitos em todos eles aumentam, na medida em que os créditos fluem das contas dos devedores às dos credores.Euforia contagiante O efeito importante é sobre a economia real, que se expande à medida que os investimentos crescem. A expansão se auto-alimenta, pois os desempregados que conseguem trabalho aumentam os gastos, o que suscita novos investimentos, a ampliação da produção e a criação de mais empregos.Os bancos ganham dinheiro fazendo empréstimos, pelos quais cobram juros. Os serviços que prestam aos depositantes só lhes dão despesas. Os bancos precisam dos depósitos dos poupadores porque constituem o lastro dos empréstimos que fazem.O Banco Central exige que os bancos mantenham certa proporção de seus depósitos à vista em moeda oficial, que serve para cobrir eventuais saques dos depositantes.Além disso, os bancos são obrigados a deixar no Banco Central uma proporção maior dos seus depósitos, o que limita sua capacidade de conceder novos empréstimos.Dessa forma, o Banco Central evita que o crescimento da economia real ultrapasse certo limiar, a partir do qual ele teme que pressões inflacionárias se intensifiquem.A fase de alta do ciclo se origina mais freqüentemente na economia real do que no âmbito financeiro. Ela é desencadeada geralmente por inovações tecnológicas de grande impacto sobre a produção ou o consumo ou por políticas de transferência de rendimentos à população mais pobre.Tanto a realização de inovações tecnológicas como o aumento dos gastos dos beneficiários da redistribuição exigem investimentos vultosos. As empresas que investem aumentam a demanda por empréstimos, o que normalmente evoca resposta favorável dos bancos e fundos. A alta cíclica da economia real entusiasma os banqueiros, convictos de que os riscos de que os empréstimos deixem de ser pagos se tornaram insignificantes.À medida que as expectativas otimistas se realizam, o entusiasmo cresce, a tese tornar euforia, que é contagiante.Batendo no teto . Enquanto o potencial das inovações tecnológicas ou das políticas re-distributivas não estiver esgotado, a fase de alta do ciclo se eleva cada vez mais. Até que ela bate num teto. Este pode ter por causa a expansão insuficiente da oferta de mercadorias,limitada por pontos de estrangulamento, de modo que a pressão da demanda resulta em aumentos de preços. O perigo de inflação pode levar o Banco Central a abortar a alta cíclica por meio da elevação dos juros.Ou o teto em que bate a alta pode ser a superprodução de mercadorias diante da saturação da demanda.Esse foi o caso da bolha imobiliária, cujo estouro originou a atual crise financeira. A demanda por habitação costuma ser grande, mas, quando finalmente se esgota, a quantidade de construções em andamento está no auge.Interrompê-las pode ser extremamente custoso, mas levá-las a cabo implica em mais investimentos numa mercadoria que, quando pronta, provavelmente se tornará invendável, a não ser que seja liqüidada por preço muito abaixo do custo.O estouro de uma bolha imobiliária atinge em cheio as finanças porque empréstimos hipotecários têm elevada garantia material -qual seja, os próprios imóveis.Até a bolha atingir seu apogeu, esse setor atrai enorme quantidade de dinheiro, a ser emprestado às famílias que adquirem a casa própria. Quando a oferta de residências ultrapassa a incorporadores e a quem os financia.Nos EUA, durante a euforia, instituições financeiras fizeram empréstimos à população de baixa renda, tomando por base o valor crescente dos imóveis que estavam comprando.Esses créditos foram em seguida vendidos ao público pelas instituições financiadoras, que os empacotaram com outros títulos, numa manobra conhecida como "diluição de riscos".A operação foi um sucesso: títulos no valor de muitos bilhões de dólares foram adquiridos por numerosos bancos de investimento, não só dos EUA, mas também da Europa.Quando a bolha estourou e os preços das residências sofreram forte queda,eles ficaram menores que as dívidas hipotecárias assumidas por milhões de famílias pobres. O prejuízo causado pelo estouro da bolha foi assim colocado sobre os ombros de quem menos podia suportá-lo.Os devedores deixaram de honrar suas dívidas, arriscando-se a perder suas casas e apartamentos, cada vez mais desvalorizados. O prejuízo bilionário da crise imobiliária voltou então ao colo dos bancos, que também se mostraram incapazes de suportá-lo. Um grande banco norte-americano faliu e diversos outros foram provisoriamente estatizados, tanto na América do Norte como na Europa.O que está ocorrendo ilustra bem como uma crise na construção de residências ,portanto, na economia real- provoca uma crise que rapidamente atinge a maioria dos intermediários financeiros no mundo todo, com a conseqüente desaparição do crédito à economia real.Uma crise setorial e nacional, ao contaminar as finanças mundiais, poderá,se não for debelada logo, lançar a economia real numa recessão global.Neste momento, os Estados nacionais estão empenhados em evitar esse desenlace, mas, apesar dos bilhões que estão sendo injetados nos bancos, o pânico ainda não cedeu.A globalização financeira, produto da liberdade total de circulação dos capitais sobre as fronteiras nacionais de numerosos países, corrói o poder do Estado nacional sobre as finanças do seu país.O sistema financeiro impõe seus interesses, pois, se o governo os ferir, ele se retira do país, comprando dólares e euros com a moeda nacional, que porisso se desvaloriza.Isso faz com que as importações encareçam e a produção e o emprego despenquem, pela falta de crédito.Trata-se de circunscrever a crise financeira, para evitar que ela venha a paralisar a economia real, o que teria graves conseqüências sociais e políticas, pois ela começa por lançar no desemprego e, logo mais, na miséria uma parcela substancial da sociedade.Uma crise da economia real é muito mais difícil de reverter por políticas de Estado, porque seria necessário criar novas atividades capazes de reinserir milhões de pessoas na economia mediante políticas de fomento e incentivo que somente poderão ser definidas por um processo prolongado de tentativa e erro.A grande crise de 1929 levou uma década para ser superada e, mesmo assim,graças ao "auxílio" de uma guerra mundial.A crise da economia real poderá ser prevenida desde que sejam adotadas políticas capazes de resolver em curto prazo a crise financeira e que lancemos fundamentos de uma nova estrutura institucional, capaz de evitar novas crises financeiras no futuro.O Estado deveria se apossar dos bancos falidos e só então reabilitá-los com recursos do Tesouro. Se os bancos continuarem privados, é provável que o dinheiro público injetado neles seja entesourado, o que faria o pânico perdurar.O primeiro passo deve ser a restauração da autoridade do governo nacional sobre o sistema financeiro, o que exige a revogação da liberdade dos capitais especulativos de curto prazo de entrar e sair de qualquer país,aproveitando as vicissitudes do jogo especulativo.Além disso, é imperativo multiplicar o número e o poder dos bancos públicos,pois, não tendo a preocupação de revelar lucros elevados em cada balancete trimestral, eles podem devotar seus recursos ao interesse público, escapando do pânico que traz a recessão.O governo federal conta apenas com os bancos públicos em sua luta para restaurar a oferta de crédito e preservar o ritmo de desenvolvimento do país.Finalmente, o mercado de capitais teria de ser reformulado, tendo em vista não só coibir a especulação, mas também reconstruir os laços entre o investidor privado e o empreendimento em que ele é sócio.Para viabilizar isso, seria necessário limitar o número de sócios de cada firma, para que cada um possa participar efetivamente da administração dela,pelo menos na condição de membro de uma assembléia de acionistas com influência real sobre a empresa.Só assim a distribuição do excedente social entre os setores da economia deixaria de ser feita em alucinantes leilões diários de ações, em que todos procuram a valorização imediata de seu dinheiro, pois, como todos sabem,"time is money".


PAUL SINGER é professor titular da Faculdade de Economia e Administração da USP e secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

" APERTEM OS CINTOS "!!!!

Santiago. Las economías más avanzadas del mundo podrían enfrentar en 2009 el primer año completo de crecimiento negativo desde la Segunda Guerra Mundial. Y América Latina, a pesar de que hasta ahora ha resistido los embates de la tormenta externa, el próximo año no podrá quedar inmune a los efectos de la desaceleración global.
Un mayor deterioro financiero y el descenso de la confianza de productores y consumidores, sumado al debilitamiento de la demanda externa y a un esperable ajuste en los precios de las materias primas y el petróleo, aparecen en el horizonte como los principales factores de riesgo para las economías de la región. ¿El resultado? Menor producción, una fuerte caída del consumo, y del empleo.
Como consecuencia del grave deterioro de las condiciones globales, las dos mayores economías de América Latina, Brasil y México, crecerán en 2009 menos de lo previsto hace un mes atrás, señaló este jueves el Fondo Monetario Internacional (FMI), que además recortó al 2,5% su pronóstico de crecimiento para la región en 2009, en vista de que desde entonces las cosas sólo han ido peor. Para 2008, el organismo prevé un crecimiento de 4,5% para la región.
Para Brasil, el FMI rebajó la expectativa de expansión económica para el 2009 a un 3,0% desde el 3,5% previo. En el caso de México, la proyección fue reducida a un 0,9%, desde el 1,8% publicado hace apenas un mes. Pese a que el organismo no dio datos de otros países de América Latina, los analistas anticipan que la mayoría sufrirá los embates de la crisis, aunque en mayor o menor medida de acuerdo a sus condiciones macroeconómicas particulares.
Brasil, la mayor economía de la región, está muy conectada con la de Argentina, Uruguay y Paraguay. Y México tiene una elevada dependencia de su vecino Estados Unidos, donde el FMI espera una contracción del 0,7% el próximo año. Jörg Decressin, responsable del informe, atribuyó la revisión de los números de Brasil a la caída de los precios de las materias primas que exporta, de la demanda internacional y a la reciente caída de su bolsa.
Desaceleración, no recesión. Si bien los pronósticos para la región distan de ser alentadores, los analistas prevén que el impacto de la crisis financiera será más cercano a una “desaceleración” que a una “recesión”. Las medidas adoptadas en la última década para disminuir las vulnerabilidades externas están ayudando a los países latinoamericanos a mitigar los efectos negativos del shock global. “Aunque la región no es inmune al deterioro de las condiciones financieras y económicas internacionales, se encuentra en una posición macroeconómica más saludable, que le permitiría evitar una recesión”, anticipa Alfredo Coutino, especialista para América Latina de Moody’s Economy.com. “Salvo que todo el mundo entre en una contracción severa”, aclara.
El contagio de la crisis internacional será por los canales tradicionales: exportaciones, turismo, remesas, inversión extranjera y también debido a los efectos derivados de la contracción global del crédito, que redundarán en una menor disponibilidad de financiamiento externo y mayores costos. Según destaca Coutino, si bien los mercados latinoamericanos no escaparon a la ola global de contracciones, han sido golpeados en menor grado que otros mercados en Europa, Asia y Rusia (ver gráfico). Esto, en buena medida, gracias a las reformas regulatorias implementadas por los gobiernos tras la crisis de finales de los 90, asegura Coutino.
¿Quiénes sufrirán más? Los países con mayor riesgo serán Argentina, Bolivia y Ecuador, no sólo por su dependencia de las exportaciones de materias primas, sino también por la necesidad de financiamiento externo, dice Coutino en un paper publicado este jueves. “A pesar de que Venezuela y México enfrentarán una reducción significativa de sus ingresos petroleros, conservan un nivel suficiente de reservas internacionales para sobreponerse”, aclara.
El resto de los grandes jugadores latinoamericanos estarán en mejor forma, pero no inmunizados totalmente, para resistir los efectos de la crisis del crédito, añade. Aunque con previsiones más optimistas que las del FMI (Moody’s predice que la región moderará su crecimiento a 3,4% el próximo año, contra el 2,5% del organismo), Coutino prevé que en términos macroeconómicos Brasil, Chile y Perú (ver
Perú podría crecer hasta 9,5% en 2008) estarán en condiciones de mayor fortaleza, mientras que Argentina, Venezuela y Colombia enfrentarán las turbulencias con más debilidad. México, en tanto, reportará una de las performances más bajas de la región, debido a sus lazos cercanos con el ciclo de negocios de Estados Unidos. “Sin embargo, por su saludable situación fiscal, México no será arrastrado hacia una recesión, en gran medidas gracias a las medidas de estímulo aplicadas por el Gobierno, como las inversiones en programas de infraestructura”, anticipó.
El hecho de que el epicentro del terremoto haya sido externo a la región, y que América Latina haya aprendido las lecciones de su propia historia corrigiendo los desequilibrios macroeconómicos del pasado, no debería inducir a los gobiernos locales a ser indulgentes o despreocupados, alerta el especialista. “Por el contrario, debería ser un estímulo para reforzar la disciplina macroeconómica y profundizar las reformas estructurales”, concluye.

Fonte : AmericaEconomia.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A hora e a vez do private equity



Com a escassez de crédito, ocasionada pela crise financeira internacional, abre-se uma excelente oportunidade para os fundos que financiam a expansão de empresas


A próxima Quarta-feira de Cinzas promete ser um divisor de águas. Se for confirmada a expectativa de Marcelo Aguiar, conselheiro deliberativo da Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (ABVCAP), os fundos de private equity deverão atuar mais agressivamente assim que passar o período de Carnaval, em fevereiro. A esperança é que até lá, a crise financeira mundial arrefeça. "O mercado ainda está um pouco assustado, pois há dúvidas se já chegamos ao fundo do poço", explica. Enquanto as dúvidas quanto ao que pode acontecer perduram, os fundos de private equity - que financiam a expansão de empresas que não estão listadas na bolsa de valores - avaliam as melhores oportunidades do mercado. Aguiar, que também é diretor do fundo AIG Capital, atenta para a atual escassez de crédito, que vai fortalecer a atuação dos fundos de private equity, afinal, com menos financiamentos, as empresas ficarão mais abertas a investidores.
André Burguer, sócio da Fama Private Equity, também se mostra otimista. Para ele, as companhias que já traçaram planos para investir em expansão inevitavelmente buscarão recursos em fundos de private equity, mesmo que este tipo de capital normalmente seja mais caro em relação aos financiamentos bancários.
Mas nem todas as organizações que necessitam recursos encontrarão nestes fundos o respaldo para crescer. É que a cautela será fator preponderante na escolha de quais empresas apostar. "Como as oportunidades de investimentos deverão aumentar, apenas aqueles projetos mais rentáveis e melhor estruturados vão conseguir os recursos", afirma. Ao contrário de Aguiar, que aponta o Carnaval de 2009 como o marco de um novo período, Burguer prefere não arriscar uma previsão de quando a busca por empresas ganhará novo fôlego. "A discussão que está colocada por alguns gestores é que se aguardarmos um pouco mais para investir, isso pode significar preços menores pelos ativos que estarão sendo comprados. Por outro lado, há empresas que estão adiando seus projetos de expansão por não terem mais claro o cenário do mercado no longo prazo e depois da crise", explica Burguer.
O estudo "Buscando diferenciação num contexto de mudanças", elaborado pela PricewaterhouseCoopers, revela que serão justamente os fundos de private equity os maiores portadores de crédito em 2009. No ano passado, o setor aplicou globalmente US$ 297 bilhões. O salto foi de aproximadamente 26% em relação a 2006. As transações envolvendo fundos de private equity representaram hoje 20% do total no Brasil - pouco, se comparado ao índice mundial de 33%. O potencial a ser explorado demonstra uma curva rumo ao crescimento: "Há setores que sofreram menos com a crise, como varejo, bens de consumo e infra-estrutura", diz Alexandre Pierantoni, sócio da área de fusões e aquisições da PricewaterhouseCoopers. De acordo com o executivo da PwC, os países que sairão beneficiados pelas atividades de private equtiy serão Brasil, Rússia, Índia e China (BRICS). "O Brasil, em especial, continua atrativo, pois há vários fundos captando recursos para investir por aqui", completa Pierantoni.


Por Marcos Graciani.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Pão de Açucar.


"Tinha muita gente vendendo vento" antes da crise, diz Abilio DinizPresidente do conselho do Pão de Açúcar afirma que agora o mundo ficará mais realista e que a empresa será olhada com mais atenção pelo mercado Portal EXAME O presidente do conselho de administração do grupo Pão de Açúcar, Abilio Diniz, fez nesta quarta-feira uma análise bastante otimista sobre o que vai emergir da atual crise financeira. "Espero que o mundo vai ficar um pouco melhor, mais realista. Existia muita venda de vento e também gente comprando vento na outra ponta. Eu e o Claudio [Galeazzi, presidente da companhia] nunca fomos muito bons de vender vento. Acreditamos que agora nossa companhia será olhada com mais atenção e mais carinho", disse ele em teleconferência com analistas de mercado. O empresário não citou exemplos de empresas de vento. No ano passado, no entanto, mais de 60 companhias abriram o capital e passaram a ter ações negociadas na Bovespa, muitas delas sem ter nenhum investimento concluído ou fábrica em operação. As ações de algumas dessas empresas acumulam perdas de mais de 90% desde o IPO (oferta inicial de ações, na sigla em inglês). O resultado é que, durante este ano, com a virada do mercado, é bastante provável que menos de dez novas empresas cheguem à Bovespa. Abilio Diniz disse que ninguém podia adivinhar que a crise teria as proporções alcançadas, mas afirmou que o Pão de Açúcar estava preparado. "Os 140 anos de experiência, os meus e os do Claudio [Galeazzi] somados, foram importantes. Em setembro tínhamos mais de 1 bilhão de reais em caixa, reforçamos o caixa desde então e aumentamos nossas vendas", afirmou. A empresa disse que a dívida líquida do Pão de Açúcar é menor do que seu Ebitda (lucro antes de impostos e amortizações) anual, que não há débitos em dólar e que não houve apostas em nenhum "jogo" de derivativos para melhorar os resultados. O objetivo da empresa, segundo ele, é manter as vendas em alta no Natal e "aproveitar todas as oportunidades em termos de compras". No terceiro trimestre, o Pão de Açúcar registrou um lucro líquido de 82,5 milhões de reais, com um crescimento de 138% em relação ao mesmo período do ano passado. As vendas tiveram alta de 13,6% pelo critério de mesmas lojas. Já o Ebitda alcançou o recorde de 357 milhões de reais, uma alta de 50%.De acordo com a Brascan Corretora, os resultados foram positivos e devem favorecer as cotações das ações da empresa. Para os analistas, o grupo é menos suscetível à crise do crédito por ter a maior parte do faturamento obtido com a venda de produtos essenciais. A corretora também informou que pode rever o preço-alvo das ações preferenciais do Pão de Açúcar (PCAR4), que hoje é de 42,50. Nesta quarta-feira, às 12h27, os papéis registravam alta de 0,20%, para 34,63 reais. Investimentos Além de mostrar otimismo com o futuro da empresa, Abilio Diniz também afirmou que a economia brasileira "é de certa forma privilegiada" quando comparada com outros países em que visitou nos últimos meses. "Os investidores vão trazer dinheiro ao Brasil quando a crise passar. (...) Pode ser que não cresçamos no mesmo ritmo que vínhamos crescendo, mas vamos continuar em frente. Até os cenários pessimistas poderão ser enfrentados, mesmo acreditando que eles não virão", disse. Apesar do otimismo, o Grupo Pão de Açúcar informou que vai investir 500 milhões de reais neste ano, montante abaixo da previsão inicial (730 milhões de reais). Segundo a empresa, todos os planos de expansão estão mantidos. O Pão de Açúcar apenas reduziu a velocidade de aquisição de terrenos para a construção de novas lojas devido à dificuldade de encontrar locais viáveis para a instalação de unidades, mas informou que pode pôr o pé no acelerador nos próximos meses. Claudio Galeazzi, presidente da empresa, afirma: "somos senhores do acelerador e do breque, pela nossa posição de caixa e pela nossa posição de negociar com fornecedores."Exame

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Lírio Parisotto : A encarnação do otimismo .


O empresário e investidor Lírio Parisotto viu 600 milhões de reais em ações desaparecerem. Sua empresa, a Videolar, passa por dificuldades. Medo? Pânico? Que nadaGermano Lüders Parisotto, em seu escritório: a frustração é não ter mais dinheiro para investir.Nas últimas duas décadas, o empresário gaúcho Lírio Parisotto, de 54 anos, construiu o que pode se chamar de uma história de sucesso. Nascido numa família de agricultores, trabalhou como representante comercial até criar a Videolar, em 1988. A empresa, que nasceu produzindo fitas cassete e VHS, hoje fatura 1,4 bilhão de reais e é líder de mercado entre os fabricantes nacionais de CDs e DVDs. Uma década depois da criação de seu negócio, em 1998, Parisotto decidiu entrar no mercado de ações aplicando recursos próprios na bolsa. Em seu melhor momento, chegou a multiplicar por 7 os 200 milhões de reais que investiu no período, transformando-se num dos maiores investidores individuais da Bovespa. Tudo parecia bem até 15 de setembro, quando eclodiu a crise financeira que derrubou os mercados do mundo inteiro. Em pouco mais de um mês, Parisotto perdeu nada menos que 600 milhões de reais, dinheiro suficiente para deixar qualquer ser humano prostrado. Mas ele continua otimista. "Prefiro pensar que não perdi nada porque não vendi nada. As ações vão subir", disse Parisotto a EXAME em seu escritório, instalado dentro da corretora Geração Futuro, responsável pela carteira. "Mas é claro que eu adoraria ter vendido todas um dia antes da queda." Parisotto é um fundamentalista da bolsa de valores, aquele tipo de investidor que, depois de convertido ao mercado acionário, simplesmente o transforma numa profissão de fé. Desde que deixou o comando da Videolar, no início do ano, passa a maior parte do tempo no amplo espaço composto de três salas na Geração Futuro. Esse arranjo foi idéia dos donos da corretora, um sinal de deferência pelo tamanho de sua carteira de ações. Mesmo com o tombo dos últimos tempos, o portfólio de Parisotto está hoje em torno de 700 milhões de reais, e é parte de um fundo ainda maior que ele tem, com outros 15 investidores - a quem chama de confrades. Quando está em sua sala na corretora, o que acontece de segunda a sexta, desde de manhã até bem depois que os mercados fecham, Parisotto acompanha as oscilações de seus investimentos em um monitor de 26 polegadas. Ao fim do pregão, o mesmo ritual: um dos operadores lhe entrega um boletim com o saldo do dia. Por enquanto, seu desempenho tem sido melhor do que o da bolsa - seu fundo perdeu 46% no ano, ante os 54% do Ibovespa. Apesar do mais de meio bilhão de reais perdido, o empresário-investidor vem desenvolvendo uma estratégia ainda mais agressiva nestes tempos de crise. A idéia é usar tudo o que for pago em dividendos das empresas da carteira - algo como 100 milhões de reais por ano - para comprar o que estiver na bacia das almas. Para ele, os papéis de Vale, Usiminas e Randon estão "de graça". "Triste não é a queda da bolsa, é não ter mais dinheiro para investir. Sinto-me como Imelda Marcos numa loja de sapatos", diz, referindo-se à mulher do ex-ditador das Filipinas Ferdinand Marcos, famosa por sua coleção de 3 000 pares de sapatos. Com quase uma década de bolsa de valores, Parisotto desenvolveu uma cartilha bem própria para definir que papéis comprar e o melhor momento para fazê-lo. Entre suas regras peculiares, está manter distância de IPOs. "Para mim, o que chegou à bolsa é lixo." Não compra Petrobras ("a empresa é muito emperrada") e também tem horror a cadeias varejistas e companhias aéreas. "Se não estão quebradas, quebrarão um dia", diz. Antes de sair às compras, estuda a fundo os balanços das empresas e, principalmente, verifica se a companhia é boa pagadora de dividendos - em média, se dá por satisfeito com 40% do lucro. "Queda de preço não me preocupa. O que me deixaria apavorado é queda no lucro." Isso é o que mais o tem incomodado em relação a algumas empresas de seu portfólio. "Estou perdendo a paciência com a Braskem. Já passou da hora de essa empresa dar mais lucro." Na defesa de seus interesses, Parisotto chegou a cobrar uma melhora nos resultados diretamente do presidente da companhia, na época José Carlos Grubisich, de quem é vizinho. "Acho que ele passou a mudar de caminho quando me via, porque depois disso não o encontrei nunca mais." Para ajudar no processo decisório, Parisotto tem ainda um método especial que, segundo ele, é infalível para saber se os executivos de uma companhia são dedicados ou não. "Basta ver se contratam consultorias. Consultoria é coisa de executivo preguiçoso." Neste momento, a bolsa tem sido um enorme desafio para Parisotto, mas está longe de ser o único. A empresa que deu origem à sua fortuna, a Videolar, também passa por momentos de dificuldade. No ano passado, a receita caiu cerca de 10% e o lucro diminuiu 70%. Os números não são tão trágicos quanto as perdas no mercado de ações, mas foram encarados como um aviso de que a situação requer cuidados. Nunca, em 20 anos de história, a Videolar havia registrado queda de faturamento. Tal resultado é atribuído à concorrência de produtos piratas, principalmente CDs e DVDs gravados, e à invasão de produtos chineses, especialmente de discos para gravação. "Estamos fazendo um esforço imenso para manter em 2008 os números do ano passado, mas não está fácil", diz Phillip Wojdyslawski, sócio de Parisotto na Videolar e atual presidente da empresa. Parisotto lhe passou o cargo depois de concluir, há dois anos, que se cansou de enfrentar os problemas do setor. Àquela altura, vivia com pressão alta e insônia. "Decidi jogar a toalha em relação à pirataria, porque a sociedade a tolera", diz o empresário. Sob o cerco dos chineses Para alguém tão chegado ao mercado de ações, a hipótese de abrir o capital chegou a passar pela cabeça de Parisotto, mas ele acabou não se animando muito. "Quando ainda presidia a empresa, havia pilhas de propostas de bancos em minha mesa. A Videolar está arrumada, tem balanços auditados, mas eu não abriria o capital de uma empresa que não tenho coragem de oferecer a meu melhor amigo", diz. Num recurso extremo, Wojdyslawski pediu recentemente salvaguardas ao governo brasileiro em relação aos produtos chineses. Os trâmites do processo demoram um ano e, caso o governo aceite os argumentos da empresa, os importados deverão ser sobretaxados. Com isso, a Videolar ganhará oxigênio extra. "Seremos os últimos a apagar a luz, produziremos até o último cliente, mas sei que esse negócio não tem futuro", diz Parisotto. Outra tentativa para recuperar a empresa é um investimento de 100 milhões de dólares previsto para 2012: a ampliação de uma petroquímica que é parte do grupo e produz resinas em Manaus. A unidade foi construída em 2002 para, inicialmente, fornecer plástico à Videolar e, eventualmente, vender o excedente a outras indústrias de eletrônicos da Amazônia. O negócio vai bem e, hoje, responde por um terço das receitas e quase todo o lucro da Videolar. "Essa será a nova cara da empresa." Quem não conhece a trajetória de Parisotto pode estranhar o otimismo com que o empresário enfrenta os desafios. Ele nasceu em Nova Bassano, no interior do Rio Grande do Sul, numa família pobre de agricultores. Sua história de empreendedor é exemplar. Na década de 70, Parisotto vendia toca-fitas para automóveis comprados em São Paulo. Na época, poucos carros que saíam de fábrica tinham o aparelho como item de série e a empreitada foi um sucesso. Em 1980, abriu uma loja de equipamentos eletrônicos em Caxias do Sul. Em 1985, foi convidado pela Sony para participar de uma convenção no Japão e, lá, conheceu o processo de fabricação de fitas de vídeo sob medida para o tamanho do filme e de gravação de filmes - o que evitava desperdícios e, portanto, custos. Mais tarde, em uma viagem a Nova York, conheceu o videocassete. Dois anos depois, com o país em crise, Parisotto vendeu a loja aos sócios e, em 1988, com 2 milhões de dólares em caixa, montou a Videolar, em Caxias do Sul. A empresa, localizada a mais de 1 000 quilômetros do principal mercado consumidor - a cidade de São Paulo -, foi a primeira fábrica brasileira de gravação de conteúdo em fitas fabricadas sob medida para o tempo de reprodução. "Sempre fui um otimista". As perdas na bolsa Nos últimos 60 dias, Parisotto só saiu duas vezes da frente de seu monitor. Foram duas viagens rápidas ao exterior. Na primeira, foi a Nova York fechar a compra de um apartamento. "Os preços caíram", diz. Na segunda, foi com quatro amigos à região da Borgonha, na França, visitar produtores do famoso vinho Romanée-Conti, um dos mais caros do mundo e uma de suas paixões. Garante que, em ambas ocasiões, não entrou na internet nenhuma vez para ver os fechamentos do pregão. "Assim como o ministro Guido Mantega, não perdi uma noite de sono com a crise." Quando reafirma sua postura de tranqüilidade, Parisotto preocupa-se em não parecer, com a atitude, tripudiar sobre as desventuras econômicas alheias. "Sei que as pessoas estão num momento ruim. Mas é preciso trabalhar e olhar o longo prazo, porque as crises têm início e fim." Nesse sentido, diz que quem o inspira é o mítico investidor americano Warren Buffett, o homem mais rico do mundo. Parisotto está lendo sua recém-publicada biografia, Snow Ball, de Alice Schroeder. Assim que Buffett anunciou que compraria 5% do banco de investimento em crise Goldman Sachs, há um mês, Parisotto decidiu comprar dez ações de sua empresa de participações, a Berkshire Hathaway, por 115 000 dólares cada uma. O objetivo é participar, no próximo ano, da assembléia de acionistas da empresa em Omaha, no remoto estado de Nebraska, apenas pelo prazer de estar lá. "Quem dera ter o discernimento e a serenidade de Buffett", diz. Com a calma que Parisotto demonstra diante de um tombo de mais de meio bilhão, até que ele não está tão longe de seu objetivo.Confissões de um investidor Como Lírio Parisotto vê a crise que tem abalado a Bovespa "Dou uma garrafa de Romanée-Conti a quem me disser qual analista previu a bolsa nos 30 000 pontos de agora ""A hora certa de entrar na bolsa não é na alta nem na baixa. É quando se tem dinheiro, e estou triste por não ter mais dinheiro agora para comprar mais ""Quando o mercado está em baixa, me sinto como uma Imelda Marcos em uma loja de sapatos "Não compro papel nem de empresas de varejo nem de companhias aéreas. Comércio e companhia aérea, se já não estão quebrados, um dia quebrarão ""Quem me dera um dia ter a tranqüilidade e o discernimento de Warren Buffett ""Não abriria o capital de uma empresa se eu não tivesse coragem de oferecê-la a meu melhor amigo"

Sete amargas lições de uma crise



O maior crash da história recente do capitalismo mostra que os instrumentos de controle e prevenção das companhias precisam ser aperfeiçoados


Por: Fernanda Arechavaleta e Marcos Graciani -

Revista Amanhã - RS.


A crise que abalou todo o sistema financeiro mundial, com o desmoronamento dos grandes bancos de investimento norte-americanos, ainda pode fazer muitas vítimas, uma vez que não se conhece toda a extensão das perdas das instituições alavancadas nas hipotecas podres dos Estados Unidos. Mas, se não é possível antever todas as implicações do estouro da bolha imobiliária - e nem mesmo se as medidas adotadas pelos Bancos Centrais e governos vão resolver o problema -, uma coisa é certa: as empresas terão de revisar seus processos de análise de risco e de tomada de decisão. Afinal, os desdobramentos da crise mostraram que nem todas tinham mecanismos eficientes para gerenciar os riscos a que estavam expostas - ou, se tinham, não os utilizaram adequadamente.
Mesmo tradicionais companhias brasileiras do ramo industrial, como Sadia, Aracruz e Grupo Votorantim, perderam alguns bilhões com a elevada exposição cambial. No caso da Aracruz, os prejuízos com aplicações em derivativos cambiais somaram R$ 1,95 bilhão - montante equivalente a quase o dobro de todo o lucro líquido obtido em 2007 (R$ 1 bilhão). O aperto no caixa levou à suspensão da incorporação da companhia pela VCP, no que era considerado, até agora, o maior negócio da indústria da celulose do mundo. Afinal, será preciso não só esclarecer as responsabilidades, mas, principalmente, decidir quem vai pagar a conta, a Aracruz ou a VCP . Na esteira das perdas bilionárias com a exposição cambial, em apenas duas semanas as ações preferenciais da Aracruz despencaram 65% e as da Sadia, 52%. No caso da companhia catarinense, além da demissão do diretor financeiro, o presidente do Conselho de Administração, Walter Fontana Filho, também renunciou - o que permitiu o retorno ao cargo do ex-ministro Luiz Fernando Furlan.
Para tentar compreender quais são as lições que as empresas podem retirar do maior crash da história recente do capitalismo, AMANHÃ consultou professores e especialistas em gestão de risco. Em pelo menos uma questão, há unanimidade: para não ficarem expostas a riscos desnecessários, as companhias precisam aperfeiçoar - e muito - os instrumentos, internos e externos, de controle e prevenção. Conselhos de Administração que estabeleçam diretrizes claras para a ação dos executivos, maior transparência na hora de divulgar informações ao mercado e até mesmo o fim das decisões executadas são algumas dessas lições. "Por que a Sadia não revelou ao mercado o tipo de operação financeira que havia feito?", questiona Telmo Schoeler, diretor da Strategos, consultoria especializada em estratégia e gestão de empresas e também instrutor do Instituto Brasileiro de Gestão Corporativa (IBGC).
O mesmo tipo de questionamento é feito por muitos investidores e empresá¬rios. Afinal, por que as empresas se arriscaram tanto? Até que ponto elas estão suscetíveis a ser surpreendidas com as calças nas mãos diante de um solavanco econômico de grande envergadura? "Em geral, os executivos se preocupavam em saber quanto a companhia iria lucrar, mas não se questionavam sobre qual o tamanho do risco dessas operações com derivativos. Esse é o fato", observa Pérsio DeLuca, managing director da Protiviti Brasil, empresa de gerenci¬amento de risco. Nas páginas a seguir, apresentamos sete lições que podem ajudar as empresas a evitar que uma bomba-surpresa arruíne o negócio.

1 - Crises são inevitáveis. É preciso estar preparado para enfrentá-las

A primeira lição é que nenhum segmento econômico - industrial, comercial, de serviços, agropecuário ou mesmo financeiro - escapa às intempéries do mercado. "Qualquer evento afeta a todos. É preciso não esquecer que vivemos em um mundo globalizado, no qual os mercados são interdependentes", enfatiza Miguel Ribeiro de Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos Executivos de Finanças (Anefac). Embora pareça bastante óbvio, muitos executivos, diz Oliveira, não costumam pensar em crise ou dificuldades nos negócios, até que elas batam à porta da empresa. "Até o final de setembro ainda havia muita gente importante e gabaritada afirmando que a crise não desembarcaria por aqui de modo algum", recorda Fernando Manfio, sócio-diretor da Witrisk Inteligência em Gestão de Risco, consultoria paulista especializada em gestão de risco de crédito ao consumidor.
O que acontece com freqüência no mundo dos negócios é que as empresas não costumam se preparar para enfrentar cenários extremos - nem para os muitos bons, com grande crescimento da economia, nem para os ruins, como crises financeiras ou recessão econômica. "Em geral, costumamos ficar atentos e nos prevenir contra os sintomas da gripe, mas não contra um câncer. Como é mais raro, não pensamos muito no câncer, embora ele costume ser mortal. Por isso é importante fazer os check-ups", diz Paulo Baraldi, consultor da Risk at Risk e autor do livro Gerenciamento de Riscos - a Gestão de Oportunidades.

2 - As estruturas de governança corporativa devem estabelecer diretrizes claras - além de monitorar o seu cumprimento por parte da diretoria

A adoção de um modelo de governança corporativa com clara delimitação de funções e poderes entre executivos operacionais, diretoria e Conselho de Administração garante maior segurança às decisões. Um bom sistema de governança permite o constante questionamento de executivos, diretores e conselheiros, bem como o alerta em relação aos riscos envolvendo as diversas decisões. Além disso, uma estrutura de tomada de decisões hierarquizada facilita a implantação de mecanismos de checks and balances (checagens e balancea¬mento). "Alguém tem de questionar os executivos sobre as razões que os levaram a tomar certas decisões, acertadas ou não", afirma Pérsio DeLuca, da Protiviti Brasil. A coordenadora do Centro de Conhecimento do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC), Adriane Almeida, lembra os recentes casos da Sadia e da Aracruz. "É claro que tivemos uma alta inesperada do dólar, mas com um bom sistema de governança, o Conselho estipula os riscos que a empresa está disposta a correr e pode acompanhar as decisões tomadas", diz Adriane.
Mas não basta ter estruturas de governança corporativa - é preciso que elas funcionem. "Embora as decisões do dia-a-dia sejam responsabilidade dos executivos, é função dos Conselhos definir as diretrizes. E é justamente a falta de diretrizes claras que dá margem para erros e riscos descontrolados", afirma Oliveira, da Anefac.
Para garantir que todo o sistema de governança tenha eficiência é necessário eliminar possíveis conflitos de interesse entre conselheiros, diretores e demais executivos. A criação de comitês para estudar e sugerir diretrizes sobre temas específicos ajuda a diminuir os conflitos. Recomenda-se que esses comitês tenham de cinco a nove membros, de especialidades diferentes, mas é fundamental que todos tenham tempo disponível e uma agenda anual de trabalho. "A contratação de conselheiros profissionais - movimento que vem ganhando força - também é importante, uma vez que eles podem questionar os executivos sobre o real risco das decisões tomadas", diz DeLuca, da Protiviti Brasil.

3 - Adotar mecanismos internos de gerenciamento de riscos

Outra alternativa para evitar surpresas, especialmente na gestão da dívida e na administração do caixa, é a adoção de mecanismos internos de gerencia¬mento de risco - aí incluídos desde medidores de risco até índices preestabe¬lecidos para regular os níveis de alavancagem da companhia. Uma das ferramentas de enorme utilidade nesse campo atende pelo pomposo nome de enterprise risk management (ou geren¬ciador de riscos empresariais, em bom português). "Esse mecanismo ajuda o executivo a se policiar nas decisões de curto prazo", diz Persio DeLuca. Dessa forma, não seria preciso esperar as reuniões periódicas do Conselho - geralmente mensais - para saber se a decisão é acertada ou não, uma vez que o programa calcula o risco das escolhas.
O software trabalha em sintonia com o modelo de governança da companhia. Se uma decisão contiver um risco que vai além das atribuições de determinado nível hierárquico, será automaticamente submetida à deliberação da instância superior. "Se o programa identificar que determinada decisão de curto prazo excede a alçada de um diretor, ela será levada a um nível decisório superior e pode ser até mesmo motivo para a convocação de uma reunião extraordinária do Conselho de Administração", explica DeLuca.
A exemplo do que preconiza o Tratado da Basiléia em relação aos bancos, a definição de um teto para a alavancagem - o endividamento representado pelo montante de recursos de terceiros utilizado para financiar a operação - também pode ser bastante útil nas empresas. "Ter níveis pré-determinados de endividamen¬to evita que as companhias especulem com o valor em caixa para cumprir metas operacionais", analisa Francisco Barone, coordenador do Small Business da Ebape (Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas) da Fundação Getúlio Vargas. Para determinar o nível de endividamento adequado, as empresas precisam levar em conta também os cenários extremos e as situações de "estresse" do mercado. "Não existe nível de alavancagem ideal. Varia de setor para setor. Cada empresa deve encontrar a combinação certa entre capital próprio e de terceiros, de forma a maximizar o retorno do acionista - mas sem expor o negócio a riscos desnecessários", afirma Barone.

4 - Decisões importantes não podem ficar concentradas nas mãos de poucos executivos

"Percebemos que muitas das decisões equivocadas de empresas ou mesmo bancos são resultados de deliberações tomadas por um ou dois executivos, sem a consulta dos demais", observa o vice-presidente da Anefac, Miguel Oliveira. Ele acredita que, devido ao cenário econômico favorável, alguns controles foram relegados a segundo plano, deixando as decisões nas mãos de poucos executivos de nível estratégico. "Uma coisa são decisões que envolvem riscos inerentes ao negócio, mas que são tomadas por várias pessoas. Outra, é um executivo adotar sozinho determinada postura", aponta Oliveira.
Documentar as deliberações - e deixá-las disponíveis em um portal de gover¬nança - pode ser de grande ajuda para o executivo tomar decisões que vão além de sua percepção individual - especialmente quando é difícil consultar seus pares. Em outras palavras, quando um gestor precisa solucionar um problema, ele consulta todas as decisões anteriores para ver que procedimentos foram adotados. Trata-se de uma forma de gerir o conhecimento interno. "Imagine uma reunião do Conselho com a diretoria e alguém propõe investir em opções de dólar. Os presentes avaliam todas as variáveis e riscos envolvidos. Se a decisão ficar documentada, ela pode servir de base para uma situação semelhante no futuro", ilustra DeLuca.

5 - Os conselheiros e executivos não deveriam ser remunerados pelo desempenho financeiro da companhia

Um dos aspectos que ganharam evidência durante a crise financeira diz respeito aos polpudos bônus recebidos pelos altos executivos - e que continuaram sendo pagos até no caso das companhias que foram à bancarrota. No caso mais rumo¬roso, o staff do falido Lehman Brother deveria receber cerca de US$ 2,5 bilhões em bônus, pagos pelo comprador, o inglês Barclays Bank. O próprio presidente do Lehman, Richard Fuld, disse ao Congresso americano que havia recebido US$ 300 milhões em salários e bônus nos últimos oito anos. Na maioria das instituições que enfrentaram dificuldades, os executivos e conselheiros rechearam os bolsos com os fabulosos lucros obtidos com as hipotecas do subprime e operações em derivativos.
"Não havia comprometimento com a gestão de longo prazo, porque eles estavam sendo remunerados pela perfor¬mance anual", explica Nilton Cano Martin, professor do MBA em Controles Internos da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). Algo parecido já havia acontecido na crise das fraudes dos balanços da Enron e de outras companhias, no início da década, em que os bônus pelo bom desempenho financeiro levaram os executivos a maquiar os resultados das companhias. Por essa razão, vá¬rios especialistas passaram a defender a idéia de que os altos cargos não devem receber bônus adicionais pela performance financeira da empresa. "Quando se paga esse tipo de adicional, não se pensa na continuidade empresarial, apenas em resultados de curto prazo", opina Martin.

6 - Balanços transparentes e comunicação adequada com o mercado são fundamentais

Um dos cânones da transparência no mercado acionário é o balanço das companhias. Porém, justamente nesse ponto é que se encontra um dos maiores problemas apontados por especialistas. Muitas demonstrações financeiras, por exemplo, trazem notas explicativas que não fazem jus ao nome. Um estudo, feito pelos contabilistas catarinenses Leandro Luis Daros e José Alonso Borba, há cinco anos, revelou que entre as 20 maiores empresas brasileiras não-financeiras, a maioria omitia informações relacionadas às transações com derivativos. "Esse tipo de informação deveria estar claramente explicitada nas demonstrações contábeis divulgadas ao mercado", afirma Daros.
Outro problema é que, às vezes, nem as próprias auditorias entendem a complexidade das operações e acabam colocando apenas informações genéricas sobre elas. "Com certeza, as demonstrações financeiras deveriam ser bem mais transparentes também em relação às operações cambiais. Quem sabe até um quadro explicativo dizendo qual é o risco para cada nível de câmbio", sugere Adriane Almeida, do IBGC. Para DeLuca, não basta só escrever no balanço que o nível de endivi¬damento da empresa está compatível com a média do setor. "O calcanhar de Aquiles é que não há parâmetros para dizer com precisão qual seria o índice mais adequado", afirma DeLuca.
Para outros consultores, no entanto, não adianta criar muita burocracia. "Não é a informação do balanço trimestral que vai evitar uma crise. Não foi a falta de comunicação ao mercado, mas a ausência de regras claras que levou muitas empresas a enfrentar problemas", aponta Miguel Oliveira, da Anefac. Com as mudanças na Lei das SAs - que prevê auditorias e balanços de acordo com as normas do Inter¬¬- national Financial Re¬porting Standards (IFRS) -, a expectativa é de que ocorram avanços no sentido da transparência diante do mercado.

7 - Foco no core business e conservadorismo nas operações financeiras que envolvam riscos

oco no core business é a palavra de ordem que emerge desta crise. Isso significa adotar uma postura conservadora e não tentar ganhar dinheiro com operações (financeiras ou não) estranhas ao próprio negócio. Em geral, quando empresas operam fora do mercado em que deveriam atuar criam-se desequilíbrios. Claro que todas as empresas podem - e até devem - utilizar os recursos em tesouraria para rea¬lizar operações de hedge cambial, especialmente no caso das exportadoras. "O que aconteceu dessa vez é que se passou do limite. Querendo aproveitar o momento, algumas empresas foram muito além do recomendável", critica Alex Agostini, economista da Austin Rating.
Na opinião de Leandro Daros, os instrumentos derivativos deveriam ser utilizados apenas para prevenção contra even¬tuais variações cambiais. O problema é quando empresas industriais decidem especular com esses instrumentos em mercados desconhecidos e que envolvem grandes riscos - e sobre os quais a empresa não tem ne¬nhum controle. A mesma opinião é compartilhada por Roberto Lamb, professor de Finanças da Escola de Administração da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "A maior lição de toda essa crise é que uma empresa não pode especular com o caixa, pois a tesouraria não é um centro de lucros", enfatiza.