quarta-feira, 24 de junho de 2009

FORÇA POLÍTICA SUPERA GESTÃO INEFICAZ



Artigo publicado no DCI, edição de 23/06/09

Paulo Sérgio Xavier Dias da Silva


psxds@hotmail.com


O governo do presidente Lula, mais se assemelha a uma máxima culinária transmitida desde o tempo de nossas avós, sobre as claras em neve, quando mais se bate, mais elas crescem.
De fato, o nível de popularidade do nosso presidente continua crescendo, superando todos os recordes, independentemente do aumento dos escândalos ocorridos no seu governo,“nunca já mais vistos na história desse País “, da incompetência da equipe econômica para enfrentar a atual crise internacional e da ineficácia na gestão dos programas de investimentos.
Os escândalos foram tantos, que não sobrou nenhum nome relevante do seu primeiro escalão ou do seu partido, o PT, para ser indicado como seu sucessor para as eleições presidenciais de 2010.
A saída, foi tirar do fundo do baú, o nome da atual ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff e ungi-la como candidata, mas a justificativa da escolha não foi muito feliz. Alegar a sua extrema competência administrativa e considerá-la como “mãe do PAC – Programa de Aceleração do Crescimento”, foram os critérios fundamentais apregoados para a sua seleção.
Como já comentamos em artigos anteriores, o PAC está sendo mais conhecido como Programa de Adiamento do Crescimento, e decisivamente, não deve ser considerado como garoto-propaganda da candidata.
As obras contempladas naquele programa , em sua grande parte, estão muito atrasadas, e o nível de execução dos investimentos projetados só atinge um terço dos valores previstos.
Se o critério for eficiência na gestão de programas de investimentos, a nossa ministra estaria reprovada. Mas, carregada pelos ombros do presidente Lula, a candidata Dilma vem subindo nas recentes pesquisas de intenção de voto e se superar, se Deus quiser, seus problemas de saúde, vai disputar, para valer, a Presidência com o tucano José Serra.
Se a candidatura de Dilma não evoluir a contento, está no bolso do colete petista, o terceiro mandato presidencial, que seria uma excrescência constitucional.
Aliás, se o presidente Lula tiver bom senso e se livrar dos apelos desesperados do PT, deve envidar todos os seus esforços para terminar bem seu mandato e tentar voltar ao poder em 2014, e não incorrer no erro histórico do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, de buscar uma reeleição a qualquer custo.
Voltemos à incrível resistência do presidente Lula em absorver qualquer tipo de impacto desfavorável. Mesmo com as notícias de que estamos em recessão técnica, com a segunda queda consecutiva do PIB, verificada no primeiro trimestre deste exercício, o governo suspirou aliviado, pois o estrago na economia foi menor do que o previsto e por incrível que pareça, aumentou seu índice de popularidade.
Enfatizando que o Brasil foi o último país a entrar e vai ser o primeiro a sair da atual crise. Lula, esqueceu-se, mais uma vez, de comparar o fraco desempenho econômico brasileiro com o da China e da Índia, nossos maiores concorrentes entre os países emergentes, já que a Rússia, com a redução dos preços do petróleo, sofreu um desgaste ainda maior.
Ocultou também a política monetária equivocada do Banco Central, que perdeu o andar do bonde da história e não aproveitou a oportunidade para sair na frente na reversão da crise, ao manter, por longo tempo, a política de juros altos.
Só recentemente, o Banco Central resolveu reduzir, de forma mais adequada, a taxa Selic, que apesar de salutar, foi muito tarde. Será que o presidente do BC, Henrique Meirelles também foi picado pela mosca azul da popularidade, virou bonzinho e já se apresenta como futuro candidato a governador de Goiás, seu reduto eleitoral ?
Pouco se fez para melhorar a infraestrutura, reduzindo o custo-Brasil e não se avançou nada em termos de reforma tributária, além do excessivo aumento das despesas de custeio e do quadro de pessoal, entre outras medidas, que foram relegadas para um segundo plano.
Só foram adotadas ações pontuais, sem uma política econômica definida e consistente, mais a reboque de pressões de alguns setores mais influentes e do esquema de apagar incêndios.
A recessão só não foi maior, pelo comportamento dos gastos de consumo das famílias e do governo, mas os investimentos representados pela formação bruta de capital fixo ficaram muito abaixo do patamar necessário.
O desemprego continua em alta e o setor industrial, com raras exceções, vem apresentando dificuldades.
Os empresários não estão satisfeitos, mas o que fazer, se a recente pesquisa encomendada pela própria CNI registra índices de aprovação presidencial elevados ?
A oposição parece que já jogou a toalha e nem tem mais força para criticar o presidente Lula e vem até solicitando sua participação na celebração de acordos, mesmo que informais, nos diversos estados, para composições políticas para as próximas eleições.
Ela reconhece que não adianta mais criticar, pois o presidente Lula parece aquele brinquedo, João Bobo, que a gente bate, bate, e ele balança , balança, mas não cai.
Posição discordante neste contexto é a adotada pelo PMBD paulista, comandado pelo ex-governador Orestes Quércia, que apesar de seu partido apoiar o governo, em nível nacional, faz severas críticas ao governo federal, superando a atitude oposicionista de seu aliado em São Paulo e candidato à Presidência, José Serra.
Assim, o foco dos disparos da oposição vai ter que ser direcionado diretamente à candidata do PT, mas com muito cuidado, pois ela representa a nova tendência mundial do sexo feminino no poder e vale a pena lembrar os casos recentes do Chile e da Argentina.
Seria mais fácil brigar com o José Dirceu, Palloci ou Genuíno & Cia Ltda.
É aconselhável elaborar, urgentemente, um bom programa de governo alternativo e copiar a cartilha de marketing político usada pelo Palácio da Alvorada. Vai ficar faltando o carisma popular, o jogo de cintura e os bons fluidos energéticos e de sorte, marcas registradas do nosso atual presidente.
Quem sabe, para começar, o governador José Serra participa da gravação de um capítulo da novela global,” Caminho das Índias “ e aproveita para tomar um banho nas águas do rio Ganges.






quinta-feira, 4 de junho de 2009

“ O PERIGO DE INADIMPLÊNCIA DOS EUA “




Paulo Sérgio Xavier Dias da Silva
psxds@hotmail.com

Qualquer dona de casa, que administra a maior parcela dos rendimentos de sua família e aplica com muita propriedade os fundamentos econômicos básicos no seu difícil dia a dia, sabe que não pode gastar mais do que ganha, por um tempo muito prolongado.
Em épocas de crises e dificuldades, como numa fase de desemprego, após efetuar todos cortes e ajustes de despesas necessários, pode até se utilizar de empréstimos temporários para equilibrar seu orçamento doméstico. Mas, tem consciência, de que se trata de um expediente urgente, breve e em caráter excepcional e que terá de buscar, rapidamente, outras soluções para reverter o seu déficit.
Esse preceito deveria também ser obedecido pelas empresas e principalmente pelos governos.
Os empresários bem sucedidos já aprenderam essa lição fundamental e só buscam empréstimos e financiamentos para investimentos produtivos e alicerçados em projetos exaustivamente analisados, que conduzam a uma taxa de retorno atrativa.
No setor público, a adoção daquele princípio fica mais complicado, como no exemplo brasileiro, em que os gastos com o custeio da máquina administrativa são exagerados, a parcela destinada aos investimentos é mínima e, na maioria das vezes, ocorrem déficits orçamentários nominais ou primários, apesar da excessiva tributação. De qualquer maneira, a dívida pública sempre é significativa.
Na teoria econômica, em situações especiais, particularmente em crises de desemprego é até admissível que os governos promovam déficits orçamentários com objetivo de reativar a economia, mas esses gastos adicionais devem ser prioritariamente direcionados para investimentos em infraestrutura e para setores que absorvam mão de obra intensiva e os que atendam demandas sociais carentes e, por um período de tempo determinado.
Não é o caso que vem ocorrendo, há várias décadas, na economia americana, que incentiva um consumo exagerado para os seus cidadãos, sempre acreditando no seu potencial de crescimento econômico contínuo e nas facilidades de crédito abundantes e com menores taxas de juros.
Os governos americanos vêm acumulando déficits públicos internos gigantescos e se não bastasse, aumentam constantemente seu desequilíbrio externo.
Além de não tomarem medidas de ajustes fiscal, se aventuram numa política externa intervencionista e equivocada, ostentando com certa soberba, o título de maior potência do planeta, interferindo em questões internas de outros países e participando de conflitos e guerras desnecessários e muito onerosos.
Essa situação anômala só vem sendo mantida, através da emissão maciça de títulos do tesouro americano, até algum tempo considerados de liquidez extremamente elevada, que financiam todo esse desajuste orçamentário, com juros bastante reduzidos.
Assim sendo, para viabilizar o pagamento das despesas exageradas da maior economia mundial é exigida cada vez mais a participação de credores internacionais.
Como consequência a dívida externa dos EUA está se tornando uma bola de neve e começa a assustar os analistas econômicos mais ponderados e alguns dos investidores daqueles títulos. A ocorrência da recente crise internacional acendeu o sinal amarelo.
Em conversas informais com clientes e amigos, sempre expressamos nossa preocupação com aquele esquema artificial e como resposta ouvíamos que o império americano era praticamente invulnerável, pelas proporções de sua economia, grande participação no mercado internacional e enorme influência política e cultural.
Mas, o panorama mundial mudou, com a crise econômica gerada no próprio seio americano e países como o Japão e principalmente, a China, já estão com as barbas de molho e estão iniciando um movimento de desconfiança no poder de gestão dos EUA em financiar seu déficit fiscal, desequilíbrio externo e na tomada de medidas de aperto necessárias.
Se esse cenário se agravar, a primeira consequência será a elevação dos juros a serem pagos pelos títulos do tesouro americano e pode até chegar a uma perda acentuada de interesse em suas aquisições pelos investidores estrangeiros, derivada do crescente grau de risco envolvido.
Teríamos a inusitada situação de acompanhar, no mercado financeiro internacional, as alterações das pontuações do risco-pais dos EUA.
Deve-se enfatizar também que o dólar, considerado como moeda oficial de trocas internacionais, vem perdendo valor frente outros meios de pagamento e pode deteriorar ainda mais o quadro econômico e financeiro norte-americano.
Felizmente, o novo presidente dos EUA, Barack Obama, parece estar preocupado com esta situação incômoda e, em discurso recente, abordou o grave problema do montante da dívida de seu país.
Se esta preocupação não for traduzida em medidas urgentes e eficazes, os EUA correm o risco de se tornarem, em futuro não muito distante, a maior nação inadimplente do mundo, com sérias implicações para toda a economia global.
Como a maior parte de nossas reservas está lastreada em dólar e aplicada em títulos do tesouro americano, seria prudente o governo brasileiro já ir tomando providências para efetivar uma maior diversificação dos nossos ativos financeiros.


Paulo Sérgio Xavier Dias da Silva
Economista graduado pela USP, consultor e assessor empresarial especializado
Na recuperação de empresas em dificuldades financeiras.
www.paulosergioxavier.zip.net