domingo, 25 de janeiro de 2009

Seu salário e bônus em 2009



Consultamos especialistas para saber como fica o seu contracheque este ano. A conclusão é que o variável dos talentos fica ainda mais agressivo e o reajuste salarial dos altos executivos será menor. Veja ainda como fica o bônus nos setores mais afetados pela crise
Por Fernanda Bottoni
Neste ano, você vai trabalhar muito, mas a sua remuneração não vai aumentar como você gostaria. É que a crise mundial deve ter, sim, efeitos diretos no seu bolso. Embora essa não seja a notícia que gostaríamos de trazer para você, leitor, neste início de ano, ela resume as constatações de pesquisas de grandes consultorias de recursos humanos, de renomados profissionais de remuneração e headhunters ouvidos pela você s/a. As perspectivas são de que a economia cresça menos e com isso o consumo diminua. As empresas vão produzir menos e quem vai sofrer é o trabalhador. “Quando a economia desacelera, os aumentos de salário por mérito diminuem e as negociações das empresas com os sindicatos ficam mais fáceis para elas. O acordo coletivo deve, no máximo, chegar perto da inflação”, diz Marcelo Ferrari, consultor sênior da Mercer, empresa de recursos humanos com sede em São Paulo. Se você tem bônus para receber no começo deste ano, não se desespere. Salvo poucas exceções, o pagamento de bônus referente ao desempenho de 2008 não deve sofrer alteração. Foi isso o que comprovou uma pesquisa da Towers Perrin, consultoria de São Paulo, ao ouvir mais de 160 empresas no Brasil para analisar os feitos da crise financeira no salário dos profissionais. Mais da metade dessas companhias tem faturamento entre 1 e 20 bilhões de reais. Entre elas há uma tendência de redução na verba que seria direcionada para os aumentos por mérito dos seus funcionários e também nos ajustes salariais por acordo coletivo para 2009. Antes da crise, elas consideravam dar, no mínimo, reajustes salariais por acordo coletivo de 6% para os gerentes. Agora, a situação mudou e o reajuste não vai passar de 5,9%. Maior ainda será a redução dos orçamentos salariais por mérito.


Se antes da crise as empresas previam aumento de 3,8% para o nível gerencial, nos últimos meses do ano elas reduziram essa expectativa para 3,3% .Considerando todas as empresas que participaram da pesquisa, a redução da verba de mérito deve ser de 0,5%”, diz Felipe Rebelli, sócio e líder da área de remuneração de executivos e recompensas da Towers Perrin. Quando a pesquisa foi feita, em novembro, 40 empresas já estavam plenamente decididas a reduzir o dinheiro que seria destinado para remunerar seus profissionais por mérito. O arrocho vai ser muito maior nelas. Antes da crise, o orçamento previa aumento de 3,4% para os gerentes. Agora, de apenas 2,3% Se o salário não vai crescer tanto, a quantidade de trabalho vai ser intensificada. Muitas empresas adotaram a medida preventiva de mandar para a geladeira os processos de recrutamento e seleção. Ou seja, quando não há novas contratações, quem sai da empresa ou é demitido não é substituído e quem fica acaba trabalhando em dobro. Segundo levantamento da consultoria Watson Wyatt, de São Paulo, realizado com 245 empresas da América Latina em novembro do ano passado, 44% dos entrevistados disseram que sua empresa já decidiu não contratar novos empregados. Outros 40% disseram que a medida de não recrutar deve ser tomada nos próximos 12 meses . “Foi como se estivéssemos andando a 200 quilômetros por hora e, de repente, alguém puxasse o freio de mão”, diz Carlo Hauschild, diretor-geral da consultoria de RH Hewitt Associates no Brasil. “Muitas empresas que já estavam com a versão final do orçamento de remuneração pronta para 2009 tiveram de voltar atrás e começar tudo de novo”, afi rma ele. VARIÁVEL DESIGUAL Se você tem bônus para receber, fique tranquilo. Para a maior parte das empresas, os pagamentos referentes ao exercício de 2008 não devem sofrer alteração. O estouro da crise chegou ao Brasil no terceiro trimestre, quando os resultados anuais já estavam quase consolidados. “Os maiores efeitos serão sentidos no próximo ano”, diz Felipe, da Towers. Mas, para 24% das companhias ouvidas no levantamento da Towers Perrin, deve haver alguma redução no pagamento de bônus referente ao resultado de 2008 A maior parte delas, 57%, espera redução de até 25%. Alguns setores da economia já foram duramente atingidos pela crise e neles a redução dos bônus vai ser intensa .Na indústria automobilística, que tem sofrido com a queda da venda de carros desde outubro, 60% das companhias irão reduzir a remuneração variável referente à performance de 2008. Nos setores de engenharia e construção, que devem sentir a contração do crédito imobiliário, a queda será de 40%, e no varejo essa fatia será de 42%. Os bônus foram os mais sensíveis à crise. Nos planos de longo prazo de incentivo aos executivos, como os programas de stock options, as companhias ainda não decidiram fazer nenhum ajuste. Esses planos garantem aos executivos o direito a ações da empresa e, neste momento, a maior parte dos papéis está com preço de exercício superior à cotação em bolsa. “Para 2009, será preciso rever os critérios e a lógica do pagamento de bônus e dos planos de incentivo de longo prazo, para garantir que alguma coisa seja paga, de alguma forma”, diz Fábio Mandarano, gerente da área de capital humano e responsável pela pesquisa de remuneração e benefícios da consultoria Deloitte, em São Paulo. Em um ano de incertezas, a regra geral para as organizações é a de não engessar o orçamento. “A recomendação é de montar uma política defensiva, com revisões pelo menos trimestrais”, afirma Carlo, da consultoria Hewitt Associates. Sérgio Nogueira, gerente de remuneração e benefícios da multinacional Kimberly-Clark Brasil, tem a mesma opinião. “O primeiro trimestre dará o tom do ano. Ninguém tem bola de cristal para saber o que vai acontecer”, diz. Na Kimberly-Clark, por exemplo, o plano de crescimento das vendas para este ano foi mantido. Por enquanto, o que se sabe é que a energia para crescer mais de 10% deverá ser redobrada. “O esforço para cumprir o plano será absurdo, mas estamos confi antes”, diz Sérgio. MAIS PARA OS MELHORESMesmo com a crise, os profissionais considerados high potencials, aqueles com talento acima da média, devem ser ainda mais valorizados nas organizações, até mesmo financeiramente. Se você for um deles, pode começar a se animar. Pelo menos por enquanto, 66% das empresas ouvidas na pesquisa da consultoria Towers ainda estão preocupadas com a retenção desses profissionais. Eles são bons e por isso vão trabalhar mais e trazer melhores resultados em épocas de crise. Para agradá- los, 25% das companhias devem oferecer bônus de retenção, 22% vão apostar no aumento salarial, 15% vão investir em incentivos de longo prazo e 10% vão aumentar os bônus .“As pessoas que a empresa não pode perder — ou porque são potenciais sucessores, ou porque entregam muito — devem ser beneficiadas por uma parte maior da verba destinada à meritocracia”, diz Cibele Giarrante, gerente de remuneração e benefícios da farmacêutica AstraZeneca. Cibele dá um exemplo. Se tivesse 500 000 reais para distribuir em bônus e mérito entre 50 funcionários, ela entregaria a maior parte exclusivamente para os que são considerados talentos. “Eles representam mais ou menos 15% do total de empregados de uma empresa. Entre 50, seriam oito, mais ou menos”, diz. Esses oito, então, receberiam 40 000 reais cada um. O restante do dinheiro — 80 000 reais — seria dividido entre todas as outras 42 pessoas. “Num cenário de dificuldade, toda empresa precisa de talentos. Nesses momentos é que eles mais se sobressaem”, diz Marcelo, da Mercer. Ou, como diz Fernando Mantovani, diretor da empresa de recrutamento Robert Half, quando a maré está boa e o céu está azul, qualquer um conduz o navio. “Quando as condições são outras é que as empresas buscam mão-de-obra mais qualificada.” E, claro, pagam mais por ela.

sábado, 10 de janeiro de 2009

ESPECIAL : INVESTIMENTOS.



Saiba como proteger o seu dinheiro e não ser abatido pelo tiroteiro da crise financeira.
FÔLHA- UOL

Prepare-se para não ser o PATO em 2009.


No segundo semestre de 2008, uma pedra gigantesca desabou sobre as águas plácidas da economia mundial. As ondas que partiram do mercado financeiro, epicentro do desastre, devem se espraiar em círculos cada vez mais amplos em 2009. As previsões de crescimento para o Brasil, no ano que vem, falam em 2,4%. Isso é menos da metade do que se verificou em 2008. Nesse cenário, o indivíduo que descuidar de suas finanças poderá ser abatido como o proverbial patinho na lagoa. Quem agir poderá não apenas preservar o seu dinheiro, mas também multiplicá-lo. Nas próximas páginas, o leitor encontra um guia para atravessar 2009 em segurança do ponto de vista financeiro.
A primeira reportagem enfoca os dez tipos de investimento mais comuns, analisa o impacto que a crise pode ter sobre eles e indica como escapar das armadilhas. "O tolo e seu dinheiro" aborda o "inimigo interno" de todo investidor – as inclinações naturais da espécie humana, exploradas por duas ciências jovens, a economia comportamental e a neuroeconomia, que nos levam a tomar decisões desastradas ao lidar com dinheiro. A guerra em torno das finanças domésticas, que leva a quatro em cada dez divórcios segundo uma nova pesquisa, e a necessidade de cuidar da "alfabetização financeira", seja com leituras, seja nos cerca de 500 cursos voltados a essa finalidade no Brasil, completam o quadro.
Haja ou não crise, alguns fundamentos básicos da arte de investir não mudam. Um deles é a necessidade de diversificar as aplicações para reduzir os riscos. Nossas avós diziam para não colocar todos os ovos na mesma cesta – ditado que foi confirmado por vários prêmios Nobel de Economia. Investir, além disso, sempre será parecido com fazer uma viagem. Nada vai dar certo se o investidor não tiver um objetivo claro. Assim como o viajante, ele pode escolher entre uma jornada rápida e arriscada e outra em que se contempla a paisagem, mas que demora mais tempo. Há, finalmente, recomendações como a de Warren Buffett, um dos três homens mais ricos do mundo: não invista em nada que você ache incompreensível. Investir é como escolher uma roupa. Além de olhar se combina, o investidor tem de se sentir confortável com o que está usando.
Nos últimos dez anos, uma mudança cultural considerável já se deu no Brasil. Há mais informação circulando, e mais gente alerta para a necessidade de planejar sua vida financeira – pois isso, no fim das contas, se traduz em capacidade para realizar as próprias aspirações. É o que se vê com clareza na bolsa de valores. Atualmente, mais de meio milhão de brasileiros já se habilitaram a comprar e vender ações diretamente na Bovespa. As primeiras ondas da crise iniciada em 2008 machucaram esse grupo de pessoas: no segundo semestre, o índice Bovespa despencou quase 50%. Diante de tamanho prejuízo, seria de esperar que os pequenos investidores bateriam em retirada. Não foi o que ocorreu. Encerrado o ano, a bolsa contava com 80 000 novos investidores. É sinal de que surgiu uma nova mentalidade, e de que o poupador brasileiro, especialmente o mais jovem, sabe que um pouco de ousadia e diversificação das aplicações é necessário para alcançar uma rentabilidade maior. Junte-se a ele.

10 decisões financeiras

1 - POUPANÇA

É a porta de entrada para o mundo dos investimentos. Aplicação segura, isenta do imposto de renda e de taxas de administração. Mas o rendimento é pequeno.O cenário atual: em 2008, a poupança bateu a inflação por muito pouco: rendeu 8%, contra 6% do IPCA. O ganho real, portanto, é ínfimo. Não seja o pato: com aplicações a partir de 1 000 reais já é possível encontrar fundos de investimento tão seguros quanto a poupança – e mais rentáveis. Diz Marcelo Xandó, diretor da Verax Serviços Financeiros: "A caderneta deve ser usada para acumular um volume inicial de recursos, que depois devem ser distribuídos em outras aplicações".


2 - FUNDOS DI E DE RENDA FIXA

Aplicações lastreadas por títulos públicos e privados, são um porto seguro em tempos de crise. O rendimento fica próximo ao da taxa básica de juros definida pelo Banco Central, descontados impostos e taxa de administração. Cenário atual: no fim de 2008, o BC deu sinais de que vai reduzir a taxa de juros, atualmente em 13,75% ao ano, na próxima reunião de seu Comitê de Política Monetária, em 21 de janeiro. É uma medida para estimular a economia. Se a tendência de redução se mantiver ao longo de 2009, a rentabilidade dos fundos DI e de Renda Fixa poderá ser menor que os 12% alcançados em 2008 – mas ainda bastante elevada em termos comparativos: basta lembrar que países como Estados Unidos e Inglaterra derrubaram seus juros para perto do zero. Não seja o pato: preste atenção às taxas de administração cobradas pelos bancos: elas podem devorar boa parte do rendimento da sua aplicação. Fuja de fundos DI ou de renda fixa que tenham taxas de administração acima de 2% ao ano.


3 - CDBs.

ão os certificados de depósito bancário, um título emitido pelas instituições financeiras para levantar capital.Cenário atual: com o enxugamento do crédito externo causado pela crise global, os bancos passaram a pagar juros mais elevados na tentativa de atrair investidores para os seus papéis. Essa tendência deverá continuar em 2009, tornando os CDBs uma das aplicações mais atraentes do momento. Não seja o pato: o maior risco de aplicar em CDBs é a quebra da instituição que os emitiu. O setor bancário brasileiro tem solidez para enfrentar a crise – mas não custa se precaver. Privilegie os CDBs de grandes bancos, públicos ou privados. Se aplicar volumes superiores a 60 000 reais, que são garantidos, pense na possibilidade de distribuir a aplicação em mais de uma instituição financeira.


4 - AÇÕES

Cada ação é uma parcela de participação numa empresa. O preço dos papéis reflete a expectativa de lucros futuros daquele negócioCenário atual: Depois de cinco anos seguidos de alta e euforia, a Bovespa teve um 2008 trágico: perdeu quase metade de seu valor. No curto prazo, a alta volatilidade torna a aplicação arriscada. Mas a Bovespa dá sinais de recuperação e acumula alta de 11% neste ano. "As ações apresentam boas oportunidades de investimentos, especialmente no segundo semestre, com a perspectiva de retomada na economia mundial", diz Julio Martins, diretor da Prosper Gestão de Recursos. Lembre-se de que, apesar da perda do ano passado, a Bovespa acumula alta de 280% desde o início de 2003Não seja o pato: A chave é diversificar. Mesmo os investidores mais experientes não aplicam todos os seus recursos em ações, e nunca nos papéis de uma única empresa. Evite comprar papéis de empresas novatas na bolsa (elas até podem se provar lucrativas no futuro, mas tendem a ser apostas arriscadas). Nunca haja por impulso. Não se deixe levar pelo comportamento de manada, que conduz ao mais grave dos erros: comprar ações na euforia da alta para vendê-las (com prejuízo) no pânico da baixa.


5-FUNDOS DE AÇÕESComo diz o nome, eles têm a maior parte de seus recursos aplicada em ações. São ideais para quem quer colocar ao menos parte do seu dinheiro na bolsa, sem a necessidade de negociar diretamente os papéisCenário atual: Esses fundos acompanham a oscilação vertiginosa das ações, o que os torna arriscadíssimos para quem precisa do dinheiro no curto prazo. Mas há boas chances de eles voltarem a ser um dos investimentos mais rentáveis em 2009Não seja o pato: Antes de escolher um fundo, veja em quais papéis ele aplica os recursos. Privilegie aqueles que tenham papéis de empresas sólidas em sua carteira. Mantenha o sangue-frio em caso de desvalorização. Quando a maré virar, o capital poderá ser recuperado. Não se esqueça de que perdas e ganhos só ocorrem de fato quando o investidor decide sacar os recursos.


6 - FUNDOS MULTIMERCADOS.


uas carteiras contêm vários tipos de papéis. Os conservadores concentram suas apostas em títulos públicos e ações. Mas existem os mais agressivos e até os ultra-arriscados — que não se detêm sequer diante dos famigerados "derivativos tóxicos" Cenário atual: Com valorização média de 5%, tiveram em 2008 resultado menos desastroso que o dos fundos de ações. Mas perderam da inflaçãoNão seja o pato: Mais uma vez, preste atenção em que tipo de papéis o fundo aplica os recursos. Se quiser evitar surpresas desagradáveis, opte por aqueles que invistam apenas em títulos públicos e em ações de grandes empresas. Mais vale ser um conservador com dinheiro do que um especulador falido .


7 - DÓLAR

A divisa dos Estados Unidos é a moeda mais negociada e mais aceita no mundo, sendo um refúgio para os investidores em momentos de turbulência Cenário atual: Depois de cinco anos seguidos de queda, o dólar voltou a se valorizar em 2008. Muitos investidores estrangeiros tiraram divisas do Brasil para cobrir obrigações lá fora. Se o dinheiro desses investidores voltar, a cotação da moeda deverá recuar novamente. É a aposta dos especialistas. Diz Silvio Campos Neto, economista do banco Schabin: "O movimento global de valorização do dólar deverá se reverter".Não seja o pato: Tratar o dólar como um investimento é algo altamente arriscado. A cotação oscila muito, e rapidamente. Nenhum economista consegue prever com exatidão a cotação futura. Não especule. Isso é coisa para profissionais. Caso tenha alguma viagem programada, compre dólares aos poucos, aproveitando os movimentos de baixa.


8 - PREVIDÊNCIA PRIVADA

São fundos nos quais se deposita todo mês uma parcela do salário, para garantir a renda depois da aposentadoriaCenário atual: Há fundos compostos exclusivamente por títulos públicos e outros mais agressivos, que aplicam até 30% de seus recursos em ações. Os primeiros tiveram alta de 11% em 2008. Os segundos, queda de 10%Não seja o pato: Tenha em mente o seu horizonte de aplicação. Quem tem mais de 50 anos e está prestes a se aposentar deve optar por fundos conservadores, não sujeitos à volatilidade das ações. Os poupadores mais jovens podem ousar e contratar carteiras carregadas de ações. "Aplicações mais arriscadas ficam bem mais interessantes quando ainda falta muito tempo para o investidor se aposentar", afirma o consultor Caio Torralvo.


9 - IMÓVEIS

A compra da casa própria é de longe a decisão financeira mais importante na vida da maioria das famílias. Costuma representar a fatia mais encorpada do seu patrimônioCenário atual: Com a crise, caiu o ritmo de vendas de casas e apartamentos novos. Há uma boa quantidade de apartamentos e casas à venda. O comprador ganhou poder de barganha para obter um desconto. Além disso, há bancos que não subiram os juros do financiamento imobiliário. Não seja o pato: Pesquise, reflita e pechinche. Analise sua condição financeira a fundo e não assuma uma dívida que comprometa mais de 30% de seu salário. Lembre-se de que se trata de um financiamento longo, em geral superior a dez anos


10 - CARROS

O carro novo é um objeto de desejo, e o principal bem de consumo durável de uma família Cenário atual: Os estoques das montadoras estão elevados, e o governo diminuiu os impostos. O resultado é que os carros novos ficaram mais baratos – especialmente para quem não se importar em adquirir um modelo com ano de fabricação de 2008. Mas os financiamentos ficaram mais caros e mais difíceis. Além disso, os preços dos usados, que normalmente servem de entrada na aquisição de um veículo novo, caíram bastante, o que deixou a troca mais complicadaNão seja o pato: É preciso pesquisar, e muito, em diversas concessionárias – tanto para obter o menor preço possível pelo novo a ser comprado como para conseguir a melhor cotação para o seu usado. Quem for financiar precisa comparar minuciosamente as taxas de juros cobradas. Elas variam bastante entre os bancos. Nem sempre a financeira da concessionária oferece as melhores condições

sábado, 3 de janeiro de 2009

10 PERGUNTAS E RESPOSTAS SÔBRE A CRISE


O que era uma onda de calotes no mercado imobiliário dos Estados Unidos se transformou em uma crise nos mercados de ações, de crédito e de câmbio do planeta --e os efeitos já começam a chegar ao comércio, aos empregos e ao cotidiano de todos. As próximas páginas procuram trazer à linguagem comum as origens da crise, a dinâmica do mundo financeiro e os desafios a serem enfrentados pelo Brasil. Leia a seguir dez explicações que ajudam a entender a atual crise:

1 - Como um momento de euforia econômica se transforma em pânico financeiro?

2 - Se as autoridades culpam os especuladores, por que a especulação não é coibida?

3 - Por que os bancos quebram? Por que são socorridos?

4 - De onde os bancos centrais tiram dinheiro para injetar nos bancos?

5 - Se as ações não estão diretamente envolvidas na crise, por que as Bolsas desabam?

6 - Por que o governo não consegue controlar a cotação do dólar?

7 - O que acontece em uma recessão?

8 - Por que o Brasil tende a crescer menos?

9 - Por que as empresas brasileiras que nada têm a ver com as origens da crise tiveram prejuízos milionários?

10 - Quais são as opções do governo brasileiro para lidar com os efeitos da crise?


1 - Como um momento de euforia econômica se transforma em pânico financeiro?

Crises especulativas como a atual --documentadas desde o século 17, com dimensões variadas-- são sempre gestadas em momentos de juros baixos e crédito farto, mais comuns em fases de prosperidade. E a economia mundial vivia o melhor momento desde a década de 70. O acesso mais fácil ao dinheiro reduz a noção geral de risco. Tanto profissionais do mercado quanto cidadãos comuns se tornam mais propensos a investimentos ousados, em busca de lucros mais altos e rápidos. Nesse cenário, surgem as 'bolhas': um tipo de investimento -sejam ações, moedas, imóveis, empréstimos ou, em tempos mais remotos, canais, ferrovias e até tulipas- se torna uma mania e se valoriza muito além das reais possibilidades de retorno. Cria-se um círculo vicioso: quanto mais gente entra no mercado, mais ele se valoriza; quanto mais se valoriza, mais gente entra. No caso atual, a bolha foi criada no mercado imobiliário americano, antes de se disseminar por outros mercados e países. Casas e apartamentos com preços em alta serviam de garantia para financiamentos imobiliários que ajudavam a elevar os preços. A espiral culminou em financiamentos de altíssimo risco para clientes sem capacidade de pagamento. Os participantes do mercado sabem que a festa não vai durar para sempre. Paradoxalmente, isso estimula a corrida à especulação: os investidores querem aproveitar a oportunidade antes do estouro da bolha. Como se sabe que a situação é insustentável, o primeiro sinal --quebra de banco, disparada de uma moeda, moratória-- causa pânico geral, e todos querem fugir ao mesmo tempo e multiplicam as perdas. Decisões individuais racionais, portanto, podem levar a comportamentos coletivos irracionais.


2 - Se as autoridades culpam os especuladores, por que a especulação não é coibida? Os especuladores, tratados no coletivo e no anonimato, são bodes expiatórios convenientes quando as crises explodem. Evoca-se a antipatia dedicada aos gananciosos que desejam enriquecer sem produzir, deixando em segundo plano os questionamentos à política econômica ou à atuação dos órgãos reguladores. Propostas para restringir a especulação são antigas e periodicamente lembradas. A mais famosa, do economista americano James Tobin, é a de criar um imposto sobre todas as transações financeiras, uma espécie de CPMF global, para tornar mais lentos e mais caros os movimentos do mercado. Nas palavras de seu idealizador, jogar 'um pouco de areia' nas engrenagens do sistema. Passadas as crises, no entanto, as ameaças e limites impostos aos especuladores são esquecidos ou contornados. Em parte porque o setor financeiro é influente no mundo das idéias e da política, mas, principalmente, porque a especulação é um dos motores da economia de mercado. Os especuladores --aqueles unicamente interessados em comprar e vender com lucro- viabilizam e expandem os mercados de ações, de moedas e de títulos. Se não fosse a especulação, só compraria ações, por exemplo, uma meia dúzia de fato interessada em se tornar sócia de uma empresa. A riqueza financeira se distancia cada vez mais dos valores que enxergamos diariamente. Em 1980, o volume de dinheiro aplicado no mercado financeiro era 20% superior à riqueza produzida no mundo. Em 2006, mais de 200%. O Produto Interno Bruto global, no período, quase quintuplicou, de US$ 10 trilhões para US$ 48 trilhões. Mais espantoso foi o salto do volume de dinheiro aplicado nos bancos, em títulos e ações, que foi de US$ 12 trilhões para US$ 167 trilhões. Mais dinheiro no mercado significa mais possibilidades de investimento e crescimento -e mais riscos também.


3 - Por que os bancos quebram? Por que são socorridos? Uma pessoa ou uma empresa quebrada é a que não consegue pagar suas dívidas. Um banco quebrado é o que emprestou dinheiro a quem não conseguiu pagar as dívidas, como mutuários do subprime americano. O papel do sistema financeiro é intermediar o encontro entre os que desejam poupar e os que desejam investir. Sua tarefa é selecionar pessoas e empresas mais aptas a progredir e a conseguir pagar com juros o dinheiro recebido. Os menos aptos pagam juros maiores para compensar o risco. Nos financiamentos imobiliários tradicionais, o banco empresta recursos da poupança. Para os mutuários sem emprego, sem documentos e sem garantias dos EUA, a operação foi muito mais sofisticada. Os empréstimos serviram de base para títulos que proporcionavam a seus compradores os superjuros cobrados nos financiamentos imobiliários. De pequeno valor unitário e livremente negociáveis, títulos permitem que os credores se tornem múltiplos e anônimos. Os títulos, por sua vez, serviram de base para derivativos, ou seja, contratos em que as partes perdem ou ganham a partir da variação de um ativo financeiro, muito semelhante a uma aposta num cassino. A sofisticação não removeu o obstáculo mais prosaico e previsível: os pobres-coitados que habitam a economia real não puderam mais pagar as dívidas. Administradores de poupança pública, os bancos podem provocar perdas generalizadas ao quebrar. E, quanto maior o erro, maior a chance de socorro por governos que querem evitar ou atenuar uma onda de falências e desemprego.


4 - De onde os bancos centrais tiram dinheiro para injetar nos bancos? Os bancos centrais, mesmo os que estão formalmente subordinados a governos, como o brasileiro, têm poder de decisão para movimentar diariamente enormes quantias, necessárias para a execução da política monetária, ou seja, de controle do volume de dinheiro e crédito na economia. Dos seus superpoderes, o mais usual e importante são as operações de mercado aberto, em que se negociam títulos com bancos. Quando querem elevar a oferta de moeda e reduzir juros, os bancos centrais compram títulos --como fizeram na semana passada os seis principais BCs do mundo. Quando se deseja um aperto monetário, como o BC brasileiro vem fazendo para conter a inflação, vendem-se títulos, e há menos dinheiro na praça. Os juros dessas operações servem de base para as demais operações da economia e, por isso, são chamados de "taxa básica". Para regular a oferta de crédito, os bancos centrais recolhem parte dos depósitos em contas correntes e aplicações financeiras. Nos últimos dias, o BC brasileiro liberou mais de R$ 100 bilhões desse recolhimento compulsório para tentar conter queda do volume de empréstimos e financiamentos. Por fim, os bancos centrais têm o papel de atender, a seu critério, bancos que não conseguem obter no mercado recursos para operações diárias. Por maiores que sejam, esses empréstimos à base de emissão de moeda só resolvem problemas momentâneos de liquidez. Se o banco tem problemas patrimoniais, ou seja, se o dinheiro dos devedores for insuficiente para saldar compromissos, seus donos têm de entrar com mais capital. Se não têm dinheiro, a solução do momento é achar um sócio --o governo, ou, mais exatamente, dinheiro dos contribuintes.


5 - Se as ações não estão diretamente envolvidas na crise, por que as Bolsas desabam? Quem compra ações se torna sócio de uma empresa e, portanto, espera lucros com a expectativa de crescimento futuro da economia. Se as expectativas para os próximos meses e anos se tornam sombrias, os investidores se desfazem das ações, e o movimento de venda em massa derruba os preços. Ainda que a maior parte dos participantes do mercado não queira relações duradouras com as empresas, mas apenas comprar e vender com vantagem suas participações, a valorização das ações depende das perspectivas para a empresa em particular e para o mercado em geral. Ações de empresas diretamente envolvidas na crise, como as de bancos que se aventuraram no crédito arriscado ou nos derivativos a ele atrelados, tendem a cair mais, mas as demais tampouco estão a salvo. Os mercados financeiros são interligados em todo o mundo. Um investidor que teve prejuízo com derivativos no Japão, por exemplo, pode ser obrigado a vender ações no Brasil para cobrir as perdas. Ações são o que se chama de investimento de renda variável. Diferentemente de quem aplica na poupança ou em um CDB, os compradores de ações não sabem quanto nem quando vão ganhar. Sabem apenas que pretendem ganhar mais do que oferecem as opções conservadoras de renda fixa. Não por acaso, há uma sucessão frenética de compras e vendas nas Bolsas, o que faz o índice geral das ações alternar altas e baixas em questão de minutos. O mercado brasileiro, com grande presença de capital estrangeiro e concentrado nas ações de poucas empresas grandes, como a Petrobras e a Vale do Rio Doce, tende a ser ainda mais volátil --ou seja, apresentar percentuais mais elevados de alta ou de baixa- do que a média das Bolsas de Valores do mundo. Emoções à parte, quando se observa o comportamento do mercado em períodos mais longos, medidos em décadas, a tendência geral é sempre de alta -porque, afinal, também assim funciona, aos trancos e barrancos, o capitalismo.



6 - Por que o governo não consegue controlar a cotação do dólar? O câmbio é o preço mais importante da economia, mais ainda em países, como o Brasil, cujas moedas não são aceitas como pagamento de importações ou pagamento de dívidas com o exterior. O preço do dólar afeta o comércio, a inflação, as contas do governo, o crescimento econômico e a popularidade dos governantes. Ainda assim, o governo passou os últimos anos tentando, sem sucesso, segurar a valorização do real -e as últimas semanas tentando, também inutilmente, deter a disparada do dólar. Devido a essa incapacidade, proclama-se oficialmente, desde 1999, que o câmbio é livre no Brasil. Não é difícil entender: o mercado de câmbio é o maior dos mercados financeiros, com movimento diário de US$ 3 trilhões a US$ 4 trilhões que podem ir de um extremo a outro do planeta em alguns segundos. Mesmo as nada desprezíveis reservas de US$ 200 bilhões acumuladas pelo Banco Central poderiam virar farelo se o governo tentasse, como no passado, administrar sua taxa de câmbio em um cenário de livre fluxo de capitais. Para manter o câmbio, o governo precisa atender aos movimentos de compra e venda do mercado: se falta dólar, precisa vender suas reservas para ampliar a oferta e evitar uma disparada das cotações; se sobra, compra o excesso para manter o preço estável. Nos últimos meses de câmbio administrado, o país precisava paralisar sua economia com juros de 40% ao ano na tentativa de atrair os dólares necessários. Mas esse não é um caso de incompetência nacional. Os Estados Unidos e o Japão adotaram o câmbio flutuante na década de 70, e a Europa, nos 90. Onde houve liberdade, o fluxo de capitais derrubou o sistema de cotações que havia sido acertado entre os países na conferência de Bretton Woods, em 1944 -a última iniciativa de controle das finanças globais, sempre lembrada em tempos de crise e esquecida logo depois.



7 - O que acontece em uma recessão? Uma recessão começa quando investidores acreditam que a hora não é boa para investir e consumidores crêem que a hora não é boa para consumir. E, na tentativa de protegerem sua riqueza, todos empobrecem. O desalento não é um mero estado de espírito. Empresas e famílias afetadas pela crise perderam efetivamente condições de investir e consumir, como os donos de ações e imóveis que perderam valor. Não se trata de um caso em que uns perdem e outros ganham, num jogo de soma zero: essa riqueza simplesmente desapareceu. Quando não se confia no futuro, o medo toma o lugar da ganância. Evita-se emprestar dinheiro e procura-se poupar para dias difíceis. Mas, com a retração de investimento e consumo, empresas vendem menos; com a queda nos lucros, há mais demissões; com menos renda, as famílias cortam o consumo, e o ciclo recomeça. Tecnicamente, os economistas consideram que há uma recessão quando o PIB (Produto Interno Bruto) cai por dois ou três trimestres consecutivos. Quando se imagina uma queda profunda e prolongada do PIB, fala-se, mais dramaticamente, em depressão --mas, após a década de 30, nenhum período da história econômica mundial chegou a merecer o termo. Recessões mundiais são raras: na história recente, não há casos de anos em que o PIB global tenha terminado menor do que começou. Em 1982, em meio à crise da onda de calotes do Terceiro Mundo, a economia mundial cresceu 0,9%, e desde então não houve resultado pior. No Brasil, a pior recessão ocorreu em 1990, quando o Plano Collor confiscou depósitos bancários e o PIB caiu 4,4%.


8 - Por que o Brasil tende a crescer menos? Depois de dois anos seguidos de expansão econômica na casa dos 5%, o governo já decretava que fazia parte do passado a comparação entre o crescimento brasileiro e um vôo de galinha. Agora, a galinha está prestes a pousar mais uma vez. Não há, até o momento, previsões de recessão, mas é consensual que os percentuais de crescimento serão mais modestos em 2009. Andar mais devagar não é tão ruim quanto andar para trás, mas os efeitos econômicos e políticos são da mesma natureza. O Brasil já sofre com a retração mundial do crédito. Boa parte do dinheiro emprestado aqui dentro é obtida lá fora. Com recessão nos Estados Unidos e na Europa, encolhe o mercado para as exportações brasileiras, que também cairão de preço. Multinacionais tendem a cancelar ou adiar planos de expansão no país. Outra ameaça é a recente disparada do dólar, que não se sabe onde ou quando vai parar. Se o dólar se mantiver alto, importações ficarão mais caras e a inflação tenderá a subir. Nesse caso, o Banco Central, na contramão do resto do mundo, poderá optar por subir ainda mais os juros e conter o consumo, o investimento, o crescimento e os preços.



9 - Por que as empresas brasileiras que nada têm a ver com as origens da crise tiveram prejuízos milionários? Empresas entram no mercado de derivativos para se protegerem de perdas, enquanto os especuladores assumem os riscos para ganhar. Sadia, Aracruz e Votorantim --entre muitas outras, teme-se-- acabaram participando de uma tentativa de fazer as duas coisas. Embora o nome cause estranheza, derivativos fazem parte do cotidiano de quem faz, por exemplo, o seguro de um automóvel. O dono do carro não quer sair mais rico do negócio; quer simplesmente uma operação que, se for preciso, renderá dinheiro suficiente para cobrir possíveis prejuízos de sua atividade de motorista. É o que se chama de hedge. Na outra ponta da operação, está um especulador apostando que o carro não será batido nem roubado, a seguradora. Se a aposta estiver correta, ela ficará com o prêmio pago pelo dono do carro. Os demais derivativos podem ser mais complexos, mas seguem os mesmos princípios. Empresas exportadoras, com receita em dólar, buscam se proteger de uma desvalorização vendendo a moeda americana no mercado futuro por uma cotação considerada razoável. Se o dólar mudar de patamar, a perda em receita será compensada pelo derivativo. Como o dólar caía sem parar, os bancos passaram a oferecer às empresas operações que prometiam ganhos superiores ao necessário para cobrir riscos de perdas. O que era hedge virou especulação. E dava lucro, até a crise provocar uma alta inesperada do dólar -que, se não for revertida, poderá revelar mais empresas no jogo e perdas maiores.



10 - Quais são as opções do governo brasileiro para lidar com os efeitos da crise? A primeira reação do governo tem sido tentar evitar ou atenuar a secura de crédito, cuja expansão foi um dos motores da economia brasileira nos últimos anos, embora retórica oficial prefira dar mérito ao PAC. Mas, como aconteceu em todas as crises recentes, o país pode ser obrigado a escolher entre crescimento e inflação --sacrificar o primeiro para evitar a segunda ou, na alternativa menos conservadora, tentar acelerar um correndo o risco de impulsionar a outra. No primeiro caso, a receita é conhecida: os juros são mantidos ou até elevados, e o mesmo é feito com a meta de superávit primário (a parcela da arrecadação tributária destinada ao abatimento da dívida pública). As medidas reduzem o consumo público e privado, esfriam a economia e ajudam a impedir que a alta do dólar se transforme em aumento da inflação. Esse era o cenário traçado antes do agravamento da crise, quando as atenções do governo se voltavam para a rápida piora da balança comercial, efeito colateral do consumo em alta. O projeto de Orçamento de 2009 já contempla a possibilidade de aumentar superávit primário. Mas a perspectiva de contração econômica acima do esperado levou setores menos ortodoxos da equipe econômica a falar, até aqui no anonimato, em medidas pró-crescimento, de mais gastos públicos, menos impostos e menos juros. É o que os economistas chamam de política anticíclica: quando a economia vai bem, o governo faz mais economia; quando vai mal, gasta-se. No caso brasileiro, já não há mais tempo para a primeira parte do plano.

GUSTAVO PATU

da Folha de S.Paulo

O euro aos dez anos: força e problemas




Com a adesão, antes de ontem, da Eslováquia, o euro, a moeda única europeia, circula agora em 16 países da União Europeia (UE), área com 329 milhões de habitantes que detêm 16,5 % da riqueza mundial.No início de 2010 será adotado na Lituânia e, na sequência, na Letônia, Hungria e Polônia. A República Checa, que neste ano ocupa a presidência da UE, curiosamente ainda não usa o euro, mas aderirá , assim como a Romênia, Bulgária e Estônia.A despeito das críticas que marcaram a sua criação e das muitas que ainda recebe, a moeda europeia provou ser um poderoso fator positivo na longamente buscada unificação do continente - tanto quanto a criação, ao longo dos anos 50, do Mercado Comum Europeu e, certamente, mais do que os muitos tratados políticos e diplomáticos formalizados entre países até meados do século 20.A estabilidade diante das moedas nacionais de fora da sua zona aparece, comprovadamente, como a grande força do euro, mais uma vez colocada em teste ao longo de 2008. Na enorme turbulência financeira que marcou principalmente o segundo semestre do ano findo, o euro, segundo levantamento feito pelo Banco da Inglaterra, valorizou-se 12% em comparação com uma cesta das 14 divisas mais importantes.Como a Inglaterra é a única grande potência europeia que se apega à libra esterlina - tanto quanto se apega à rainha -, a garantia de estabilidade que o euro tem oferecido pode despertar second thoughts em muitos nativos da ilha.Mas muitos comentários na imprensa europeia apontam, ao lado dos benefícios que a moeda trouxe para a integração continental, os problemas que, em parte, podem ser atribuídos à unificação monetária. Entre eles, os principais têm sido o encarecimento do custo de vida - muito grave para alguns dos países afetados -, as maiores dificuldades para se controlar a inflação e a relativa perda de competitividade da economia europeia.Esses problemas, que de certa forma impõem aos governos europeus a adoção de políticas protecionistas que talvez não lhes agradem como estratégias de longo prazo, são considerados, em geral, como decorrentes da ausência de coordenação entre as políticas econômicas nacionais. O que já levou a própria Comissão Europeia a reconhecer, em comunicado oficial, que "é preciso aprofundar a supervisão econômica, corrigindo as divergências em temas como crescimento, inflação e competitividade".

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

EM 2009 .... um artigo de 2002 !!


O ano de 2009 ... Após um bom alinhamento de 2008 , que teve sua performance nos últimos mêses prejudicada pela economia externa , afinal chegou !!!


É um momento de análise e posicionamento para os momentos que virão ...


É também um momento de retrospectiva ...


Afinal previsões e aconselhamentos foram feitos e


nem sempre foram notados e aplicados !


Eis um artigo que escrevemos em 2002 , para a " Fôlha de S.Paulo " .


Antecipadamente agradecemos pela sua leitura e análise !


Professor Dutra .


INFLUÊNCIA DOS ESPECIALISTAS NA ECONOMIA BRASILEIRA


O Brasil passou por várias crises nos últimos anos, a maioria sem justificativas convincentes. Não vamos falar do período anterior ao Plano Real e sim a partir dele.
A implantação do Real foi um sucesso! Trocamos nossa moeda com eficácia, em tempo recorde e sem nenhum trauma, fato que, com justa razão, nos encheu de orgulho. Mas, a partir desse sucesso inicial passamos a cometer uma série de equívocos.

No governo Collor já tínhamos colocado fim às barreiras alfandegárias, fato esse que, isoladamente, permitiria a entrada dos produtos importados em excelentes condições de competitividade; esperava-se com essa concorrência um aumento da produtividade industrial e agrícola, melhoria da qualidade dos nossos produtos e redução nos seus preços. E a partir da implantação do Real, no início de julho de 1994, um fato inédito e não previsto por nenhum economista brasileiro começou a tomar corpo: a valorização da nossa moeda em relação às demais. E se não bastassem esses dois fatores, o governo adotou a política de manter elevadas nossas taxas de juros com o objetivo de controlar a inflação e atrair maior volume de capital estrangeiro, o que realmente aconteceu. Nossas taxas reais de juros, que há muitos anos já eram das mais elevadas do mundo, tornaram-se imbatíveis! Com esse trio, escancaramento às importações, valorização excessiva da nossa moeda e taxas reais absurdamente elevadas, a indústria e a lavoura passaram a enfrentar dificuldades crescentes com a concorrência desleal – porque mal planejada - dos produtos importados. Resultado: redução da produção voltada para o mercado interno e principalmente externo, fechamento de empresas, desemprego, redução da renda global e consequente recessão.

Os problemas que se sucederam em nossa economia foram decorrentes principalmente das medidas citadas. Por isso, entendo que não procede a afirmação generalizada de que as crises brasileiras ocorridas em setembro/97, outubro/98 e janeiro/99 tiveram como causas as crises ocorridas, respectivamente, na Ásia e na Rússia, sendo a última atribuída inicialmente à inadimplência mineira, a chamada crise do “pão-de-queijo”. A verdade é que essas crises aconteceriam naturalmente no Brasil, mesmo que não houvesse um único país em crise no mundo! Foram causadas principalmente pelos equívocos – para usar um termo mais ameno - cometidos no planejamento e na condução das políticas monetária e cambial.

O tempo passou, resolvemos ou minimizamos alguns problemas, como o da valorização da nossa moeda, surgiram ou acentuaram-se outros como o crescimento da dívida interna, mas os demais continuam. E entre estes, os que mais preocupam atualmente é o tamanho da taxa de juros e a vulnerabilidade da nossa economia em relação aos acontecimentos internos e externos, muitos deles imaginários ou fabricados.

Todos, com raríssima exceção, concordam que as nossas taxas de juros são elevadas e têm que baixar. Entretanto, existe uma enorme resistência à sua efetivação. Com base no noticiário do dia-a-dia tem-se a nítida impressão que as políticas monetária e cambial são fortemente influenciadas por profissionais – economistas, técnicos, executivos - que atuam em setores específicos do mercado brasileiro. Um exemplo típico se refere às opiniões, quase unânimes, para justificar eventuais alterações na Taxa Selic, amplamente divulgadas pela imprensa antes das reuniões do COPOM.


Entre os acontecimentos externos “importantes” que afetam diariamente a nosso mercado financeiro e de capitais, é impossível não mencionar a Argentina, fonte inesgotável de razões para as nossas crises. Fico até com a impressão que se os problemas vivenciados pelo nosso vizinho até há um ano atrás tivessem ocorrido no Brasil, teriam feito menos estragos na nossa economia. Estou convencido, também neste caso, que a nossa preocupação sempre foi, e continua sendo, exagerada. E explico. Até janeiro de 1999 a Argentina, que continua tendo no Brasil o seu principal aliado comercial, canalizava para o nosso país quase um terço das suas exportações; com esse grau de dependência, é evidente que a economia argentina teria que sofrer, como realmente sofreu, as consequências negativas da desvalorização da nossa moeda ocorrida naquela época. Já a dependência comercial do Brasil em relação àquele país é bem menor: exportávamos cerca de 13% do total, caindo atualmente para um pouco mais de 10%.


Parece que tudo de mais grave que poderia acontecer para a Argentina, já aconteceu. Em relação à economia desse país, não existem hoje, para o mercado brasileiro, razões suficientes que justifiquem quedas prolongadas nas bolsas de valores, flutuações exageradas na cotação do dólar e manutenção de taxas de juros em níveis tão elevados.

Há outros fatores externos citados com frequência para justificar crises passadas e futuras: o preço do petróleo e as perspectivas da economia americana. Com relação ao petróleo, os preços sempre oscilaram, e vão continuar oscilando, em função de acontecimentos políticos ou de conflitos entre países, produtores ou não. Esses problemas, por serem rotineiros, não deveriam mais ser tão valorizados. Quanto às perspectivas da economia americana, em que pese a sua importância para o mundo, tem recebido dos nossos analistas um destaque exagerado. Basta analisar os efeitos reais causados pelos atentados terroristas de setembro do ano passado, tanto para na economia americana como brasileira, e comparar com tudo aquilo que foi divulgado na época. Era o apocalipse!

Por fim, uma observação. É imprescindível que os economistas e demais estudiosos e especialistas em assuntos econômicos e financeiros, que têm entendimento diferente do que vem sendo sistematicamente divulgado, venham a público para externarem suas opiniões. É salutar que também haja no Brasil concorrência sobre a interpretação técnica e científica dos fatos econômicos.

José Dutra Vieira Sobrinho
Economista e professor de matemática financeira