domingo, 29 de março de 2009

“ PROGRAMA PARA ADIAR O CRESCIMENTO “




Artigo publicado no DCI, edição de 19/02/09


O governo precisa agir rápido para que a sigla PAC, não se transforme em mais um plano de adiamento do crescimento.
Conversando com empresários e clientes de nossa assessoria, identificamos quais os principais entraves que deveriam ser removidos para que seus negócios possam deslanchar, e como o governo deveria agir para superá-los.
O consenso obtido reflete os principais tópicos abordados no nosso artigo anterior, que podem ser assim resumidos:
- redução da carga tributária;
- diminuição dos encargos trabalhistas e flexibilização dos contratos de trabalho;
- crédito mais abundante, menos seletivo e desburocratizado;
- diminuição das taxas básicas de juros e do spread bancário;
- maiores incentivos para investimentos privados e inovação tecnológica;
- melhoria na infraestrutura;
- gerenciamento eficaz das contas públicas e da máquina estatal.

Falemos sobre esses dois últimos itens . A nossa infraestrutura é um grande óbice, cuja solução vem sendo relegada pelos últimos governos e deveria merecer, neste momento, uma atenção especial.
Como já afirmamos em outra ocasião, o empresário brasileiro é o mais preparado do universo para enfrentar dificuldades e crises. Mas, como concorrer com vantagens comparativas no mercado externo e praticar preços menores internamente, se a nossa infraestrutura é bastante deficiente? As nossas estradas, por onde são transportadas a maior parte das cargas, estão em péssimo estado, acarretando custos elevados nos fretes rodoviários.
Uma porcentagem significativa do produto de nossas safras, não chega ao seu destino final em quantidade, qualidade e no momento certo, apresentando um elevado índice de desperdício.
Também, não temos silos e locais necessários para armazenagem e para regular adequadamente a oferta e a demanda dos produtos agrícolas. Os portos brasileiros estão no seu limite operacional e nas épocas de grandes safras, como a da soja, por exemplo, propiciam um triste espetáculo de filas enormes de caminhões aguardando embarque dos contêineres.
Nossa matriz energética, se por um lado melhorou com o sucesso do etanol e do petróleo, mas o mesmo não ocorreu com a energia elétrica, e, se não fosse pela redução do ritmo econômico derivado da atual crise, estaríamos sujeitos a um novo apagão, já que os investimentos na área não foram suficientes e os atuais projetos caminham a passos lentos, sem contar com a dependência exagerada do fornecimento do gás da Bolívia, que não tem correspondido como bom parceiro comercial e aliado político.
E as nossas ferrovia ? Que dizer de um país com dimensão continental dispor de uma ínfima malha ferroviária, ficando muito abaixo não só de países desenvolvidos, como também dos emergentes Rússia e China, entre outros. Como se sabe, trata-se de um meio de transporte de carga dos mais econômicos.
O transporte marítimo e fluvial não mereceu a atenção devida e ficamos a mercê de fretes elevados praticados por embarcadores estrangeiros. Os estaleiros nacionais só recentemente vêm sendo ativados, muito mais a reboque das encomendas da Petrobrás.
Os aeroportos também estão com suas capacidades operacionais próximas de saturação, e, além de não atender satisfatoriamente o setor de cargas, em épocas de maior demanda de passageiros, “ piscam, piscam “, avisando que a qualquer hora teremos “ um novo apagão aéreo “.
Para viabilizar os projetos de infraestrutura, que requerem elevados aportes , além de contar com a participação fundamental da iniciativa privada, que neste momento de crise fica um pouco comprometida, o governo tem que desempenhar seu papel de indutor maior do desenvolvimento econômico, alocando mais verbas de investimento ao orçamento.
A administração pública precisa rever a equação orçamentária, destinando cada vez mais recursos para investimento e reduzindo com rigor a participação dos gastos de custeio da máquina estatal.
O governo do Presidente Lula, até setembro do ano passado, foi beneficiado com os resultados de uma economia internacional bastante favorável e um mercado interno aquecido , que consolidaram grande parte, o atendimento dos fundamentos macroeconômicos exigidos para colocar o País numa situação mais estável.
Foram acumuladas reservas em níveis nunca vistos, o Brasil foi considerado com país de menor risco, zeramos a dívida com o FMI e arrecadação de impostos vem batendo sucessivos recordes, ou seja, temos condições financeiras necessárias para enfrentar a crise.
Falta definir prioridades, atuar com mais determinação e melhorar a gestão dos programas em andamento. Esta última pode ser considerada o calcanhar de Aquiles, do atual governo.
O setor público tem que evoluir muito o gerenciamento dos projetos de investimentos e da administração da máquina estatal. Se estivéssemos numa empresa privada, os executivos responsáveis seriam afastados por incompetência. Não seria admitido que os investimentos programados não fossem implementados no tempo previsto, havendo recursos disponíveis no caixa.
Antes de ocorrer a crise, o governo federal havia elaborado o PAC – Programa de Aceleração do Crescimento,que visava entre outros objetivos, a melhoria da nossa infraestrutura.
O nível de execução dos projetos contemplados no PAC ainda está muito abaixo das expectativas, com grande parte das obras está atrasadas.
Numa fase difícil em que atravessamos, o PAC , além da exigência de melhor desempenho, deveria ser ampliado e administrado com mais eficiência e eficácia, sendo considerado como prioridade máxima.
Os governos estaduais já se movimentam para minimizar os efeitos da crise em seus territórios, como o de São Paulo, que recentemente editou programa semelhante, batizado de PAC Paulista. Vamos observar o seu nível de execução, que poderá ser utilizado como parâmetro de comparação política, na corrida presidencial de 2010.
Em épocas de crises e de dificuldades, o tempo é uma variável estratégica e o governo federal precisa agir rápido. Caso contrário, o PAC pode ficar mais conhecido como “ o Programa de Adiamento do Crescimento “.

Paulo Sérgio Xavier Dias da Silva
Economista graduado pela USP, com créditos de mestrado em administração.
Consultor e Assessor Empresarial, especialista em recuperação de empresas em dificuldades financeiras.
www.paulosergioxavier.zip.net
psxds@hotmail.com

terça-feira, 24 de março de 2009

PRÓSPERO 2010


O titulo acima não é fruto de erro de impressão gráfica, mas da avassaladora “tsunami financeira” que, partindo de seu epicentro, os Estados Unidos, espalhou pânico aos quatro cantos do planeta. Nem todo conhecimento acumulado, sobre economia e finanças, consegue diagnosticar a profundidade e a longevidade da crise.
O ano de 2009 poderá ficar marcado de maneira indelével, em termos de gestão de resultados, pois caberá a ele o desafio de enfrentar, e nocautear, as maiores adversidades da atualidade: a queda do PIB mundial, a recessão e, Deus nos livre! a depressão econômica. Será o ano de ouro dos empreendedores, das pessoas criativas, das mulheres guerreiras, da juventude determinada, dos executivos experientes, dos profissionais pró-ativos, dos funcionários receptivos às mudanças de paradigmas, enfim, daqueles que têm esperança, sonham e...fazem acontecer. Administração compartilhada ganha espaço nas organizações inovadoras, que partem da gestão solitária para a gestão solidária.
Com a espada de Dâmocles sobre a cabeça, a classe política, tem a missão de tranqüilizar a população sobre os efeitos sociais da crise, conter um provável salto inflacionário e adotar estratégicas eficazes para reverter a turbulência. A primeira medida deve ser o “corte na própria carne”,ou seja, reduzir as despesas de custeio, nos três poderes. A recomendação é clássica e tem mais de dois mil anos. “Vamos equilibrar o orçamento, proteger o tesouro, combater a usura, e reduzir a burocracia. Caso contrário... afundaremos todos”. Essa máxima é do célebre prosador, político e orador romano, Cícero (106-43 a.C.).
No campo mercadológico a competitividade estará mais acirrada do que nunca. Vacilou? Quebrou. O noticiário internacional nos mostra que,até, “monstros sagrados” da economia mundial perdem o fôlego, reduzem investimentos, fecham unidades produtivas, escritórios e filiais e sinalizam para o mais temido dos estragos sociais; demissão de milhões de trabalhadores. A palavra de ordem, para que a crise seja minimizada, abreviada e, definitivamente debelada, atende pelo nome de – inovação – a arte de transformar dificuldades em oportunidades de negócios. Inovar significa agregar valor às estratégias organizacionais, sistemas administrativos e operacionais, políticas de recursos humanos, atendimento e o relacionamento com os clientes, intercâmbio de informações e experiências com os fornecedores, projetos sociais e ambientais e aos processos da qualidade de produtos, de serviços e de vida.
A inovação tem como meta melhorar a qualidade – adequação ao uso com satisfação total dos clientes - , aumentar a produtividade – fazer cada vez mais,e melhor, com cada vez menos – e, reduzir custos.”Inovação é uma ferramenta específica dos empresários,por meio do qual eles exploram a mudança como oportunidade para um negócio ou um serviço diferente.É possível apresenta-la sob forma de disciplina, aprende-la e praticá-la.”(Peter Drucker – 1909-2005)
Aos consumidores vorazes o alerta pode ser encontrado no samba Argumento, do consagrado cantor, compositor e músico brasileiro, Paulinho da Viola: “Faça como um velho marinheiro/Que durante o nevoeiro/ Leva o barco devagar”.


Próspero 2010Enviado pelo autor, Jundiaí (terra da uva)-SP
Por Faustino Vicente - Consultor de Empresas E-mail:
faustino.vicente@uol.com.br - Tel (11) 4586-7426

segunda-feira, 23 de março de 2009

COLUNA DO DELFIM NETO.

Vamos jogar a toalha?

20/03/2009 15:33:31

Delfim Netto

Apenas duas vezes, desde 1985, a economia brasileira cresceu a uma taxa maior do que a média mundial por um período consecutivo de três anos: no governo Sarney (1985-1987) e na gestão Itamar Franco (1993-1995). No governo Lula, depois de quatro anos com crescimento menor do que o mundo, o Brasil recobrou um crescimento vigoroso de 5% ao ano, que tinha condições objetivas de prosseguir. A tabela mostra a taxa de crescimento anual do PIB entre trimestres homólogos de anos consecutivos (um trimestre de 2007, por exemplo, ante o mesmo trimestre de 2006), com o que se evita a influência das variações estacionais. A partir do terceiro trimestre de 2006, o crescimento começou a acelerar e superou o do mundo. Os números mostram um avanço em 2008 que provavelmente seria insustentável, do ponto de vista do balanço em conta corrente nas condições vigentes. Houve o acúmulo de déficits desde janeiro, em razão da supervalorização cambial produzida pela política monetária autista. Havia uma pressão inflacionária com um componente duvidoso de excesso de demanda global, com salários reais crescendo abaixo da produtividade e um seguro componente externo que se manifestou quando o aumento dos preços das commodities não pôde mais ser compensado pela supervalorização cambial. Para combater os efeitos secundários da elevação dos preços, o Banco Central iniciou, em abril de 2008, uma nova escalada do juro real. A taxa de inflação média do IPCA em 2004-2006 foi de 5,5%. No último trimestre de 2007, andou às voltas de 4,2% e, no terceiro trimestre de 2008, em torno de 6,3%. De forma que, em condições normais, talvez a ação do BC tivesse alguma razão de ser. Mas a situação não era normal. Havia um grave problema. A crise financeira iniciada com as hipotecas subprime já tinha se manifestado e praticamente todos os países haviam iniciado um movimento de baixa das taxas de juro. Em julho, a supervalorização do real atingiu o ápice, dando a doce ilusão de que se controlava a taxa de inflação cortando a demanda global. Na verdade, o BC ignorou e subestimou a crise financeira porque não tinha a menor ideia do que ocorria. Trata-se apenas de um pecado venial, porque o Federal Reserve também não sabia. Basicamente, isso explica o mergulho do crescimento no quarto trimestre de 2008. A crise precipitada pela barbeiragem do Tesouro americano, secundado pelo Fed, quando se meteu na arriscadíssima operação do Lehman Brothers, caiu como um raio sobre o sistema bancário brasileiro. Em 16 de setembro, desapareceu instantaneamente todo o crédito interbancário (até hoje inexistente) e instalou-se uma espécie de pânico que interrompeu o circuito econômico. Um sistema bancário hígido, em um país relativamente fechado e ligado ao sistema financeiro internacional apenas por algum capital subordinado, por algum funding e pelo financiamento de parte do comércio, paralisou preventivamente as concessões de crédito pelas incertezas que envolviam a renovação de suas operações externas. A verdade é que a própria política econômica consagrada depois do bem-sucedido Plano Real e a expansão da economia mundial a partir de 2002, haviam dado suficiente musculatura ao nosso BC para enfrentar agressivamente o problema e dar conforto imediato ao assustado sistema bancário e, assim, reduzir os efeitos da crise. Ele dispunha: 1. Da certeza de que a taxa de inflação iria cair, em razão da redução do duvidoso excesso da demanda global. 2. De uma taxa de juro real teratológica que poderia ser manobrada. 3. De uma relação Dívida/PIB em declínio. 4. De um extravagante nível de depósito compulsório. 5. De um nível de reservas da ordem de 200 bilhões de dólares, reforçado pelo swap do Fed de mais 30 bilhões de dólares. 6. Do compromisso do governo, que faria a política fiscal necessária para ajudar a política monetária. A tragédia é que os movimentos do BC sempre foram na direção correta, mas, invariavelmente, atrasados e homeopáticos. O mal está feito. Começamos 2009 em uma situação muito delicada, mas o jogo não está totalmente perdido. Restam nove meses para trabalhar duro. Com alguma inteligência e ousadia poderemos ter um crescimento maior do que o do mundo, o que não será pouco.
Delfim Netto

segunda-feira, 16 de março de 2009

Lula analisa mudanças na caderneta de poupança


NOVA YORK (Reuters) - O governo estuda uma possível alteração para o rendimento da caderneta de poupança que pode passar a competir com a rentabilidade dos títulos do governo indexados à taxa básica de juros, a Selic.
"Vamos discutir. Não posso ficar adivinhando o que vamos fazer. Vamos sentar para ver como ela vai ficar", disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a jornalistas em Nova York, após participar de seminário para investidores.
Ele lembrou que já houve alteração nas regras da caderneta de poupança há dois anos. "Quando gente que tinha muito dinheiro queria colocar na poupança, nós mexemos para garantir a poupança apenas para os pequenos poupadores, para quem precisa da poupança", completou, afirmando que grandes investidores têm que procurar outro tipo de investimento.
Com a expectativa de futuras quedas da taxa Selic, que atualmente se encontra em 11,25 por cento ao ano, os títulos do governo brasileiro podem se tornar menos atrativos do que a caderneta de poupança, que rende TR (Taxa Referencial) mais 6 por cento ao ano.
(Reportagem de Walter Brandimarte)

domingo, 15 de março de 2009

SEGURADORA AIG


AIG paga US$ 165 milhões em bonificações a executivos


da Folha Online

da Efe
A seguradora AIG, a mesma empresa que precisou de US$ 180 bilhões de
empréstimos do governo norte-americano, vai pagar US$ 165 milhões em bonificações a executivos.

Leia a cobertura completa da crise nos EUA
Entenda a evolução da crise que atinge a economia dos EUA
Entenda como a crise financeira global afeta o Brasil

Os prejuízos da AIG foram de US$ 99,3 bilhões em 2008.
A notícia está causando grande repercussão pelo mundo neste domingo e deve provocar reações dos mercados da Ásia e da Europa, quando abrirem nesta segunda-feira (16).
O empréstimou levou o secretário do Tesouro dos EUA, Timothy Geithner, a protestar ao principal executivo de AIG, Edward Liddy, nesta semana.
Liddy aceitou reduzir alguns pagamentos, mas, em carta enviada a Geithner, alertou para o perigo que a companhia correria de perder alguns de seus executivos, "se eles achassem que a compensação está submissa a um ajuste contínuo e arbitrário por parte do Departamento do Tesouro".
A AIG sustenta que as bonificações estão estipuladas nos contratos e não pode simplesmente suspendê-las.
"É um escândalo!", esbravejou Larry Summers, diretor do Conselho Econômico Nacional da Casa Branca, em entrevista hoje à emissora rede de televisão "ABC".
No entanto, ele afirmou que os Estados Unidos "são um país de leis, há contratos e o Governo não pode revogá-los".
A reação no Congresso foi parecida. O democrata Barney Frank, presidente do Comitê de Serviços Financeiros da Câmara de Representantes (Deputados), disse hoje à TV "Fox News", que o Governo deveria ter imposto à AIG "regras mais estritas desde o início" em troca de fornecer dinheiro público.
A intervenção na AIG começou pelas mãos do Federal Reserve (Fed, banco central americano), ainda durante o mandato de George W. Bush.
Apesar disso, o líder dos republicanos no Senado, Mitch McConnell, acusou o Governo de Barack Obama de "simplesmente ficar parado olhando e acusar a Administração anterior".
Na prática, os contribuintes americanos reembolsarão "alguns dos empregados que nos introduziram nesta confusão", disse o senador à "ABC".
As bonificações irão para o departamento de produtos financeiros de AIG, cujas apostas no mercado afundaram a empresa.

sexta-feira, 13 de março de 2009

CUSTO BRASIL


Custo Brasil (1) Texto publicado em 03 de Março de 2009 -
por Carlos Pimentel Mendes *


Volta-se a discutir, sob diversas formas, o chamado "Custo Brasil" – nome dado coletivamente à soma de despesas que o empresário enfrenta ao lidar com ineficiências e desperdícios causados pela burocracia, lentidão nos procedimentos, necessidade de oferecer propinas para obter documentos e serviços que são de seu direito legal, afora o excesso de impostos característico deste país. São todos fatores conhecidos que oneram os produtos e serviços ofertados aos mercados interno e mundial, tirando importante parcela da competitividade brasileira, às vezes inviabilizando certas atividades. No momento em que a situação econômica internacional força cada país, cada empresa, a controlar centavos de custo, é menos lícito ainda que o Brasil desperdice oportunidades em razão de acréscimos de custo que nunca deveriam existir.

Este Custo Brasil pode ser dividido em três: o da incompetência, o da burocracia e o da ganância. Os três se entrelaçam, entretanto, e características de uns passam a alimentar os processos que levam aos outros custos. A incompetência aumenta a burocracia (até pela necessidade de controles maiores sobre esses incompetentes). A ganância aumenta a incompetência (ao deixar de contratar os competentes, preferindo os que se sujeitam a ganhos menores) e a burocracia (célebre história de criar dificuldades para "vender" facilidades...). A burocracia privilegia muitas vezes a incompetência, pela falta de lógica de certas rotinas impostas, e abre espaços para a ganância (pela inadequação de controles sobre as atividades ou por induzir a gastos adicionais que só ocorrem pela vontade dos governantes de arrecadar mais e mais).

O problema, evidentemente, não é apenas brasileiro, existe em escala planetária e decerto ocorre desde tempos pré-históricos. Incompetência existe mesmo nos países mais adiantados, o mesmo vale para ganância e burocracia – é só analisar os fundamentos da dita "crise mundial", que não passa de uma crise de competência, ganância e controles governamentais registrada dentro de um país dito de primeiro mundo, como sejam os Estados Unidos.

Quando se fala de Custo Brasil, a questão não é a existência desses fatores, mas sim a sua quantidade específica e a sua soma final, insuportáveis para a sociedade brasileira e para a competitividade da economia deste país frente às demais nações. E volta-se a falar do assunto porque - quando todas as nações estão espremendo seus custos – ressalta cada vez mais o tamanho do problema brasileiro.

Já dissemos algumas vezes que o Brasil faz jus à fama imemorial de "paraíso terrestre". Séculos atrás, quando das primeiras navegações ibéricas, o fabuloso Éden era mostrado nas cartas náuticas como sendo situado numa então mítica ilha "Hi-Brazil". Quando Pedro Álvares Cabral aqui chegou, a flora e fauna exuberantes e exóticas motivaram os europeus a continuarem acreditando que no centro do território brasileiro ficaria mesmo o Paraíso descrito nos livros bíblicos. Mil teses foram formuladas provando tais afirmações, seja pela existência dos quatro grandes rios que, saindo do Éden, alcançariam o mar, seja pelo encontro das maravilhosas "aves falantes" etc. Ao descobrirem ouro e pedras preciosas, riquezas que sustentaram monarquias européias por vários séculos mais, o mito fugidio ganhava novas cores, mas ainda se reafirmava.

Porém, o paraíso brasileiro foi conspurcado pelos mesmos que o idealizaram. A ganância veio na frente, com os exploradores do pau-brasil, dos minerais, do trabalho escravo. A incompetência foi estimulada pela ganância: não interessava aos europeus que os brasileiros aprendessem ofícios nos quais poderiam depois concorrer com o Velho Mundo. E a burocracia veio como conseqüência: a cultura cartorialista, as normas sem lógica, a proibição de contestar ordens, a inadequação das regras européias à realidade do Novo Mundo. Deu no que deu

quinta-feira, 12 de março de 2009

O Brasil em 2050



Autor(es) : :: Delfim Netto
Carta Capital - 10/03/2009




Uma das variáveis estruturais críticas para a formulação de políticas econômicas, capazes de acelerar o desenvolvimento econômico com o uso dos mecanismos do mercado e de políticas públicas que deem moralidade à dura competição que nele prevalece, é a estrutura demográfica. O número de habitantes, a taxa de crescimento, a distribuição etária e, por gênero, a distribuição geográfica, a urbanização e a dinâmica interna, que é controlada pela evolução das taxas de natalidade e de mortalidade. Sua projeção é sempre difícil e sujeita a erros gerados pela própria endogeneidade do processo. Não é um problema trivial prever os efeitos finais de boas políticas. Por exemplo, a melhoria do nível de educação das mulheres tende a reduzir a taxa de mortalidade infantil pelo maior cuidado com sua higiene pessoal e com a da criança. Ao mesmo tempo, modifica o seu papel na divisão do trabalho no lar. Dá-lhes melhores condições de escolher a sua vida, o que estimula o uso de técnicas anticoncepcionais. Estas possibilitam o maior controle da taxa de fertilidade, o que tende a reduzir a taxa de natalidade. Uma coisa parece clara: boas políticas públicas de assistência social, de saúde e de educação tendem a reduzir, simultaneamente, a taxa de natalidade e a taxa de mortalidade. Isso torna incertos os efeitos sobre a taxa de crescimento da população, mas trabalha na direção de envelhecer a estrutura etária. Pesquisas demográficas da ONU mostram que a idade mediana da população nas nações mais desenvolvidas cresceu de 29 anos, em 1950, para 37 anos, em 2000, e está projetada em 46 anos em 2050. O último trabalho do IBGE, Uma Abordagem Demográfica para Estimar o Padrão Histórico e os Níveis de Subnumeração de Pessoas nos Censos Demográficos e Contagem da População, incorpora uma projeção da população por sexo e idade até 2050, com as informações sobre a taxa de fecundidade dos dados da Pesquisa Nacional de Domicílios (Pnad) de 2002 a 2006. O trabalho constrói uma trajetória provável da taxa de fecundidade até 2050 e chega à conclusão que, no limite, ela será de 1,5 filho por mulher. Esse número seria alcançado entre 2027 e 2028. Obviamente, em certo momento isso estagnará o crescimento da população. Ela passará, em seguida, a decrescer. Verificadas as hipóteses, a população brasileira passaria por um máximo próximo a 220 milhões de habitantes em torno de 2040. O resultado não deixa de ser surpreendente e deve ser levado em conta na formulação de nossas políticas econômica e social, uma vez que o envelhecimento da população será rápido e dramático. A idade mediana da população saltará de 20 para 40 anos de 1980 a 2030 e deve atingir 46 anos em 2050, a mesma estimada pela ONU para o mundo desenvolvido. O gráfico dá uma ideia da evolução da população do Brasil entre 1872 (o primeiro censo imperial) e 2008, e mostra as projeções da população e a composição etária até 2050. Grosseiramente, até 2050 (que em termos de país é amanhã), o número de crianças cairá 56% (21,9 milhões) e o número de idosos aumentará 294% (36,5 milhões). É preciso formular políticas públicas que aumentem a produtividade dos que podem eventualmente trabalhar, que crescerá apenas 8,7% (11,1 milhões). A maior lição desses números é mostrar a futilidade das vinculações constitucionais para proteger certos setores, como se as necessidades da sociedade fossem fixas e eternas.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Brasil é o segundo mais atingido pela crise, aponta estudo da Fiesp



Da Agência Brasil


Um estudo apresentado nesta quarta-feira pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) diz que o Brasil é o segundo país mais prejudicado pela crise internacional. Em comparação com vários países, entre os quais Alemanha, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos, Japão, Canadá, China, México e Coreia, o Brasil foi o que apresentou maior retração acumulada do Produto Interno Bruto (PIB) desde o início da desaceleração da economia mundial.De acordo com a pesquisa, o Brasil acumulou queda de 5,3 pontos percentuais do PIB (soma de todos os bens e riquezas produzidos no país) desde que a crise começou a afetar seu crescimento, no fim do ano passado. De um crescimento de 1,7% ocorrido no terceiro trimestre de 2008, o país apresentou variação do PIB de -3,6% no quarto trimestre.Os Estados Unidos, por exemplo, apresentaram diferença acumulada de -2,8 pontos percentuais: de um crescimento de 1,2% no terceiro trimestre de 2007 -o último antes do início da desaceleração-, o país fechou o quarto trimestre de 2008 com queda de 1,6% no PIB. No Japão, a variação foi de -4,2 pontos percentuais e na Zona do Euro, de -2,2 pontos.Levando em consideração as premissas do estudo, o Brasil só tem melhor resultado do que a Coreia, que acumula diferença de -7,2 pontos percentuais. O resultado, porém, foi acumulado em quatro trimestres de retração da economia. No Brasil, isso ocorreu em um trimestre."O que sente a sociedade são os pontos percentuais de queda do PIB", afirmou Paulo Francini, um dos responsáveis pelo estudo. "O Brasil, em termos de amplitude e em termos de prazo, não tem paralelos."

A crise e o fracasso dos economistas




O fracasso da economia acadêmica
Brasil
Autor(es): Antonio Delfim Netto
Valor Econômico - 10/03/2009




Em 1609, Galileu Galilei, (1564-1642) depois de ter aperfeiçoado um instrumento construído um pouco antes por óticos holandeses, produziu uma luneta que chamou de "Perspicillum". Com ela deu origem a uma revolução na astronomia. Por isso, a União Astronômica Internacional e a Unesco elegeram 2009 como o Ano Internacional da Astronomia. Qual é a profunda importância de Galileu? A resposta é simples, como nos informa o ilustre prof. Antonio Augusto Passos Videira (revista "Ciência Hoje", jan./fev. 2009: 18): "Suas descobertas contribuíram para minar a primazia da concepção aristotélica do cosmo, baseada na beleza dos corpos celestes e na imutabilidade dos céus. Em longo prazo, suas ideias - sustentadas pela matemática, por medidas e por uma retórica afiada - ergueram uma visão do mundo na qual se buscavam leis para os fenômenos naturais".
Mas qual a importância disso agora, há de perguntar-se, irritado, um daqueles economistas que se pensa portador da "verdadeira" ciência econômica? Eu também uso a matemática! A pequena diferença é que o seu "tipo" de conhecimento tem muito mais a ver com Aristóteles esteticamente matematizado do que com Galileu. Em lugar de tentar entender como funciona o sistema econômico, tenta ensiná-lo como deveria funcionar em resposta à beleza dos seus axiomas...
Essa é uma crítica antiga, mas que a corrente majoritária dos economistas (que à falta de nome melhor chama-se a si mesma de neoclássica) recusava-se a considerar diante do aparente sucesso da sua teoria na "explicação" do mundo dos últimos 25 anos. A cavalar crise financeira (em parte produzida pelos equívocos propagados pela própria "teoria") desconstruiu essa ilusão. Um grupo de oito importantes economistas (todos um pouco mais ou um pouco menos críticos, mas sem dúvida, competentes membros do "mainstream" e senhores da mais sofisticada matemática e econometria) acabam de publicar um trabalho, "A Crise Financeira e o Fracasso Sistêmico da Economia Acadêmica" 1. É um verdadeiro réquiem de corpo presente para a economia pré-galileliana, que foi dominante na última geração.
A síntese do artigo (em tradução livre) é a seguinte:
"A profissão dos economistas parece ter ignorado a longa construção que terminou nesta crise financeira internacional e ter significativamente subestimado as suas dimensões quando ela começou a manifestar-se. Na nossa opinião, essa falta de entendimento foi devida à má alocação dos recursos de pesquisa na economia. Fixamos as raízes profundas desse fracasso na insistência da profissão em produzir modelos que - por construção - ignoram elementos fundamentais que controlam os resultados no mundo dos mercados reais. A profissão falhou, lamentavelmente, na comunicação ao público das limitações e fraquezas e, mesmo, dos perigos que caracterizam os modelos de sua preferência. Esse estado de coisas deixa claro a necessidade de uma fundamental reorientação das pesquisas que devem ser feitas pelos economistas e, também, do estabelecimento de um código de comportamento ético, que exija deles o conhecimento e a comunicação (para o público) das limitações e dos maus usos potenciais possíveis de seus modelos".
O final do trabalho é ainda mais preocupante:
"Acreditamos que a teoria econômica caiu numa armadilha de um equilíbrio subótimo, no qual o grosso do esforço de pesquisa não foi dirigido para as mais angustiantes necessidades das sociedade. Paradoxalmente, um efeito retroativo, que se autorreforça dentro da profissão, levou à dominância de um paradigma que tem base metodológica pouco sólida e cuja performance empírica é, para dizer o menos, apenas modesta. Pondo de lado os mais prementes problemas da moderna economia e fracassando na comunicação das limitações e das hipóteses contidas nos seus modelos mais populares, a profissão dos economistas tem certa responsabilidade na produção da crise atual. Ela falhou na sua relação com a sociedade. Não produziu tanto conhecimento quanto seria possível sobre o comportamento da economia e não a alertou dos riscos implícitos nas inovações que criava. Além do mais, relutou em enfatizar as limitações da sua análise. Acreditamos que o seu fracasso em sequer antecipar os problemas gerados pela crise do sistema financeiro e a sua incapacidade de prover qualquer sinal antecipado dos eventos que iriam se passar exigem uma reorientação fundamental dessas áreas e uma reconsideração de suas premissas básicas".
Trata-se de um trágico "requiescat in pace", não para a teoria econômica, mas para o "mainstream" pré-galileliano, que se apropriou dela com imensa irresponsabilidade. Podemos voltar agora à modesta e útil economia política?
1 Os autores são David Colander, Katarina Inlesuis, Alan Kirman e outros
Antonio Delfim Netto é professor emérito da FEA-USP, ex-ministro da Fazenda, Agricultura e Planejamento.

Miguel Jorge diz que acharia ótimo se Selic caísse para menos de 10%





da Agência Brasil
O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, disse hoje que acharia "ótimo" se o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central pudesse reduzir a taxa básica de juros, a Selic, para um patamar inferior a 10% ao ano. A taxa está em 12,75% ao ano, e o mercado espera um corte entre 1 e 2 pontos percentuais.
O comitê anuncia nesta quarta-feira, após o fechamento do mercado financeiro, a taxa básica de juro para os próximos 45 dias.
"Se pudéssemos chegar a um dígito depois da decisão de hoje, seria ótimo", disse o ministro. Quanto ao resultado negativo do PIB (Produto Interno Bruto) no quarto trimestre (caiu 3,6% ante o terceiro trimestre), o ministro afirmou que o índice deve ajudar na reflexão para que seja tomada a decisão adequada (do Copom).
Miguel Jorge disse ainda que o governo vai trabalhar muito para que não haja uma recessão no Brasil, porque dispõe das ferramentas adequadas para que isso não ocorra.
Ontem, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) anunciou que o PIB referente ao quarto trimestre de 2008 caiu 3,6% em relação ao terceiro trimestre do mesmo ano, o maior recuo da séria histórica, que começou em 1996. Mesmo assim, a economia cresceu 5,1% em 2008, movimentando a R$ 2,9 trilhões.

domingo, 8 de março de 2009

AMERICANOS FICAM US$ 16.5TRI MAIS POBRES.



Montante corresponde a 13 PIBs do Brasil e foi perdido principalmente com a queda das Bolsas e do valor dos imóveis

Com patrimônio reduzido, americanos compram cada vez menos e tentam poupar, alimentando círculo vicioso que derruba a economia

FERNANDO CANZIANDE NOVA YORK

Os norte-americanos estão enfrentando um súbito processo de empobrecimento que já destruiu cerca de US$ 16,5 trilhões da riqueza disponível entre as famílias nos últimos 15 meses. O valor equivale a mais do que tudo o que os EUA produzem em um ano e a quase 13 PIBs do Brasil. Só de setembro para cá, as famílias ficaram US$ 9,5 trilhões mais pobres.Os números são do IIF (Instituto de Finanças Internacionais), que reúne 380 grandes bancos, e foram divulgados em antecipação a dados semelhantes a serem publicados pelo Fed (o banco central dos EUA) nos próximos dias.São duas, basicamente, as principais fontes de poupança dos norte-americanos: seus imóveis e as aplicações que detêm, geralmente na Bolsa de Valores. Mesmo o dinheiro para a educação dos filhos são normalmente investidos em fundos de ações, que concentram mais da metade da riqueza das famílias, estimada hoje em US$ 61,4 trilhões.Há ainda uma parcela menor de aplicações em contas correntes remuneradas e em outros tipos de investimentos.Embora os preços dos imóveis continuem a cair sem parar nos EUA há quase três anos, a velocidade da queda diminuiu nos últimos meses. O impacto maior e direto da "destruição da riqueza" das famílias está concentrado na Bolsa, onde fica a poupança líquida que pode ser sacada a qualquer hora.De setembro de 2008 para cá, houve uma perda líquida entre as famílias de US$ 7,8 trilhões nesses investimentos na Bolsa (de US$ 33,6 trilhões para 25,8 trilhões). Como comparação, a perda com imóveis é estimada em US$ 1,8 trilhão no período.Obviamente, a queda dos índices no mercado de ações é o termômetro dessa perda. No ano, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York despencou cerca de 25%. Isso não significa que não possa haver uma reação, e as famílias voltarem a ficar um pouco mais ricas.O problema, porém, é que ao terem sua poupança dizimada, as famílias estão comprando cada vez menos e tentando poupar (o nível de poupança em janeiro atingiu o maior patamar em 14 anos).Essa combinação de fatores só reforça mais o já vicioso círculo em que a economia norte-americana está metida: o crédito secou, os consumidores compram menos, as empresas demitem e cada vez mais as famílias evitam gastar.Na sexta-feira, o Departamento do Trabalho dos EUA divulgou que mais 651 mil empregos foram cortados em fevereiro nos EUA, o que só reforça o ciclo descrito acima."Não há nenhum sinal de fim desse processo no horizonte. Em março ainda teremos o mesmo e não vejo nenhuma melhora para abril", afirma Tig Gilliam, executivo da Adecco, empresa de recrutamento de mão-de-obra para grandes companhias, como o Wal-Mart.O fenômeno de "destruição da riqueza" não é só americano (o índice FTSEurofirst 300, referência para as principais ações na Europa, está no seu nível mais baixo em 12 anos), mas em nenhum outro país há tanto dinheiro de pessoas físicas investido em ações.Além da perda nos valores das ações, os dividendos pagos pelos papéis aos investidores está hoje no nível mais baixo desde 1938, segundo cálculos da agência Standard & Poor's.Tamanha é a queda no mercado desde outubro de 2007 que cresceu dez vezes o número de ações negociadas abaixo de US$ 1, levando a Bolsa de Nova York a rever sua política de retirar de negociações papéis abaixo desse valor.Fantasma da DepressãoO empobrecimento das famílias, seu endividamento recorde e a necessidade de poupança são tão grandes que redes de varejo gigantes nos EUA, como Kmart e Sears, já ressuscitam modalidades de vendas que ficaram populares na Grande Depressão dos anos 1930.A principal é conhecida como "layaway", uma espécie de consórcio que ajuda consumidores indisciplinados a poupar antes de adquirir o produto. O cliente paga aos poucos pelo artigo e só o leva para casa quando tiver pago 100% do valor.Já o Wal-Mart, maior rede de varejo do mundo, iniciou estratégia agressiva para distribuir cartões de débito entre os estimados 35 milhões de americanos sem contas bancárias.Os cartões podem ser "carregados" com dinheiro nas lojas, mas a empresa informa que muitos consumidores que costumavam gastar cerca de US$ 1.500 ao mês cortaram suas despesas para US$ 800, valor médio do seguro-desemprego nos EUA.Mesmo assim, o resultado do varejo em fevereiro nos EUA só não foi negativo porque a venda cresceu 5,1% no Wal-Mart."Pouquíssimas redes têm boas estratégias de vendas voltadas exclusivamente para as classes mais pobres, mas quem as serve direito é rei em um momento como o atual", diz Bernard Sosnick, analista da Gilford Securities.

Descasamento, desligamento: abrindo a caixa preta da vida econômica



Autor(es): Ricardo Abramovay
Valor Econômico - 06/03/2009




Não há desafio atual mais importante que o de transformar as bases materiais e energéticas em que se exprime o extraordinário aumento de renda do mundo contemporâneo. Para enfrentá-lo, são necessárias três rupturas fundamentais. A primeira é de natureza teórica: a ciência econômica faz abstração do conteúdo material e energético da reprodução social e se dedica apenas à maneira como a fartura e a escassez se traduzem nos preços. A segunda ruptura é contábil: não se trata mais de medir a riqueza social somente por aquilo que se compra e vende, e sim com base na ideia da ecologia industrial de que as economias modernas são organismos vivos, cujo metabolismo precisa ser permanentemente avaliado. A terceira ruptura é política e embute a ousadia de que o crescimento econômico talvez não seja o objetivo mais relevante para o bem-estar, ao menos naquelas sociedades que já atingiram alto grau de abundância material.
É notável o avanço de vários países da OCDE na formulação deste problema. Os termos decisivos são descasamento ou desligamento (decoupling, delinking): eles sinalizam para a quebra do vínculo entre crescimento econômico e uso dos recursos. Isso supõe o estabelecimento de uma contabilidade dos fluxos de insumos e detritos que se encontram não somente nos processos produtivos, mas também no consumo. Além da famosa (e muito criticada) pegada ecológica, existe hoje um conjunto amplo de indicadores e de institutos de pesquisa voltados a conhecer de perto as bases materiais e energéticas em que repousam o funcionamento da sociedade. Por incrível que possa parecer, este é um objetivo que não faz parte da ciência econômica, ao menos da maneira como é convencionalmente ensinada.
Há diversas técnicas para medir o avanço deste salutar descasamento entre a riqueza e seu fundamento biofísico. A "contabilidade nacional agregada de fluxos materiais" já é hoje amplamente utilizada na União Europeia. A Alemanha, o Japão e a Suíça elaboram relatórios governamentais públicos a este respeito, estimando o material necessário à produção de bens e serviços. O Japão tem como objetivo nacional chegar a uma "sound material-cycle society", uma sociedade baseada num ciclo de vida saudável de sua base material. Seus relatórios ambientais partem da constatação de que "o crescimento econômico rápido associa a geração de vasto montante de lixo à crescente escassez de recursos". O país gera 470 milhões de toneladas de lixo anualmente e seus aterros estão com os dias contados: 7,7 anos ao longo de todo o arquipélago e 3,4 anos na região metropolitana de Tóquio.
Uma das medidas básicas da contabilidade de fluxos materiais (Material Flow Account) é o peso físico daquilo que forma o processo produtivo. É claro que o impacto de um quilo de areia é bem diferente do estrago que um quilo de mercúrio pode provocar. Ainda assim, o livro, cujo título parodia a obra de Adam Smith (The Weight of Nations - Material Outflows From Industrial Economies, organizado por Emily Matthews e publicado pelo World Resources Institute), é uma referência incontornável.
Metade a três quartos dos insumos industriais da Alemanha, da Holanda, do Japão e dos Estados Unidos volta ao meio ambiente como lixo, após utilização. O requerimento material total (Total Material Requirement) necessário ao aparato produtivo (e que inclui tanto importações quanto "fluxos ocultos", como erosão agrícola ou perda de solo na construção civil) varia de 45 toneladas per capita no Japão a mais de 80 toneladas per capita nos Estados Unidos.
É bem verdade que a eficiência aumenta ao longo do tempo nos países estudados. Cada unidade de PIB vai sendo produzida com quantidade menor de matéria e energia. Estes ganhos, no entanto, são largamente contrabalançados pelo crescimento econômico e pelos padrões de consumo destes países. O descasamento é apenas relativo à quantidade de materiais e energia por unidade de PIB. No entanto, em termos absolutos, a quantidade de lixo por habitante e a de materiais e energia utilizados no processo produtivo continua aumentando. A conclusão do livro organizado por Matthews é inequívoca: "a mudança econômica estrutural [em direção a uma economia de serviços] e os ganhos de eficiência tecnológica, sozinhos, têm poucas chances de trazer real redução no uso de recursos e na produção de rejeitos".
A elevação do contingente populacional que, sobretudo na Ásia e na América Latina, passa a dispor de renda para partilhar ao menos de parte do padrão de consumo característico dos países centrais, só vem agravar este problema. Relatório recente da Goldman Sachs (The Expanding Middle: The Exploding World Middle Class and Falling Global Inequality) prevê a entrada de quase 1,5 bilhão de pessoas no que se pode chamar de "classe média mundial" até 2030, algo como 70 milhões de pessoas (com renda) por ano.
As conquistas recentes na luta contra a pobreza (e, até, embora em menor proporção, contra a desigualdade) são notáveis e marcam a vida de muitos países, além dos BRIC. No entanto, estes indicadores materiais sobre a relação entre sociedade e natureza mostram que poder corretivo espontâneo do crescimento e do progresso técnico não será capaz, por si só, de evitar o rochedo que se avizinha e as pressões sobre os recursos existentes que esta nova afluência vem reforçar.
A liderança mundial dos próximos anos não estará nas mãos dos países que vão crescer, vencer a pobreza e reduzir a desigualdade, e sim daqueles que conseguirem fazê-lo modificando o conteúdo material e energético da vida econômica. O que supõe não o mimetismo de acreditar que petróleo, biocombustíveis para motores a combustão interna e grandes obras para exportação formam o caminho do futuro, e sim a transição para sistemas produtivos que preservem o patrimônio natural, se apoiem no consumo cada vez menor de matéria e energia e valorizem a biodiversidade.


Ricardo Abramovay , professor titular do Departamento de Economia da FEA/USP, é coordenador de seu Núcleo de Economia Socioambiental (Nesa) e pesquisador do CNPq. www.econ.fea.usp.br/abramovay/

sexta-feira, 6 de março de 2009

THE ECONOMIST


Modelo econômico antiquado ajuda a proteger Brasil da crise


Alguns aspectos ditos antiquados da economia do Brasil estão agora ajudando a conter os estragos provocados pela atual crise mundial, diz a revista The Economist em sua edição desta semana.Em reportagem intitulada "Colhendo os frutos da indolência", a publicação lembra que até pouco tempo atrás a influência "dominadora" do Estado sobre o setor financeiro vinha "atrasando" a economia brasileira."Mas nas novas circunstâncias, essas políticas lamentáveis repentinamente parecem distantes e deram à crise global uma cor diferente no Brasil", diz o texto."Outros países estão tentando descobrir como administrar bancos e crédito direto. Isso é algo que o Brasil fazia mesmo quando já estava fora de moda", afirma a revista. "Mas é um sinal dos tempos o fato de recentemente, em uma pesquisa sobre o Brasil, o (banco de investimentos) Goldman Sachs ter citado o envolvimento do Estado nos bancos como algo positivo." A Economist lembra, no entanto, que apesar de o Brasil ter sido poupado dos piores efeitos da crise global, a economia do país está se enfraquecendo. A revista cita o aumento de demissões na economia formal e a queda da produção industrial."O Brasil deve demorar a sair da crise, assim como demorou para entrar nela", decreta a reportagem.Mas o texto ressalta que, se comparada com o que outras nações estão vivendo hoje, a economia brasileira atual ainda está em forma. "Dada a antiga tendência do Brasil de sofrer um ataque cardíaco cada vez que outras economias internacionais ficavam estressadas, a notícia é impressionante." Para a revista, dois dos principais motivos para o Brasil ter melhorado nesse aspecto foi a dívida do setor público, que foi levada para abaixo da linha de 40% do PIB, e a reserva de US$ 200 bilhões para defender o real."Mas o mais importante é que a crise não está fazendo a inflação subir - o ponto-fraco congênito do país", diz o texto. "Isso permitiu que o Banco Central corte juros para tornar a dívida pública mais barata. Esta é a primeira vez que o Brasil consegue manter uma política monetária cíclica." A revista entrevistou economistas brasileiros que preveem que os gastos públicos devem subir neste ano, por causa da proximidade das eleições presidenciais - o que deve aumentar o superávit primário."Em outras épocas isso assustaria o mercado, mas agora eles devem ter menos pânico, já que as finanças governamentais estão mostrando o mesmo grau de deterioração - ou pior."