quarta-feira, 30 de setembro de 2009

TENDÊNCIAS - DÓLAR.


PORTFÓLIO-Não vale a pena investir no dólar
28 de Setembro de 2009 | 19:36

SÃO PAULO (Reuters) - O dólar comercial fechou com queda de 0,47 por cento nesta segunda-feira, na BM&FBovespa. No ano, a moeda norte-americana acumula uma depreciação de mais de 23 por cento em relação ao real. O dólar está tentadoramente barato, vale a pena investir nele?

A pesquisa Focus com as expectativas do mercado financeiro para o dólar divulgada nesta segunda-feira pelo Banco Central indica que os prognósticos para o fim de 2009 são de um dólar cotado a 1,80 real. Na ponta do lápis, isso quer dizer que, para o mercado, o dólar ainda terá uma valorização de pouco mais de meio por cento este ano.

Um dólar em queda constante traz à memória a situação em meados de 2007, antes de a crise econômica desabar sobre o mercado. A moeda norte-americana chegou a ser cotada a um mínimo de 1,5593 real no início de agosto de 2008, pressionada pelo aparentemente irresistível fluxo de divisas para a economia brasileira.

Quando a crise mostrou toda a sua força, o dólar chegou a um máximo de 2,50 reais no início de dezembro passado, uma apreciação de 60 por cento em menos de quatro meses. Qual o risco de isso voltar a ocorrer? O dólar está barato demais e pode voltar a surpreender os investidores? Ou, indo direto ao ponto, vale a pena investir no dólar?

TRÊS RAZÕES

Para os especialistas, a resposta é não. A moeda norte-americana deverá apresentar alguns momentos de turbulência até o fim do ano, mas a causa antecedente dos solavancos de 2008 está afastada. O mercado sempre poderá apresentar alguns trancos, mas, estruturalmente, há menos motivos para o dólar voltar a surpreender.

A maior previsibilidade do dólar pode ser explicada por três grandes motivos. O primeiro é que o grau de alavancagem do mercado financeiro hoje é várias ordens de grandeza menor do que o em 2007 e no primeiro semestre de 2008.

Um bom exemplo foi o comportamento das cotações do petróleo no mercado internacional. Antes da crise, as cotações do barril chegaram a 140 dólares, nível mais alto da história. Uma parte dessa sobrevalorização era a expectativa com o aumento da demanda. Outra parte, porém, era especulação, especialmente dos fundos de hedge.

Com a ruptura dos diques do sistema financeiro, o petróleo retrocedeu a um mínimo de 40 dólares por barril, e só agora estabilizou-se numa faixa entre 65 e 70 dólares por barril. Tanto os 40 quanto os 140 dólares representavam uma distorção, provocada pela especulação financeira.

O mercado internacional do petróleo continua tão imprevisível quanto sempre foi. A diferença é que há menos dinheiro, menos profissionais gerindo fundos de hedge e menos apetite por risco dos gestores sobreviventes. O que ocorre com o petróleo vale para todos os ativos, especialmente o dólar.

O segundo motivo é que a economia brasileira vai continuar a ser um contraponto para a crise mundial. Mais uma vez, o acompanhamento sistemático das pesquisas Focus mostra uma lenta porém segura melhoria das expectativas com relação ao comportamento do Produto Interno Bruto (PIB).

Os prognósticos para 2009 deverão mostrar uma projeção de crescimento, ainda que de centésimos de ponto percentual, a partir das primeiras pesquisas de outubro. Para 2010, as projeções voltaram a subir e agora são de 4,5 por cento, ante os 4,2 por cento da semana passada.

Até o Fundo Monetário Internacional (FMI) está mais otimista e elevou sua projeção do crescimento médio mundial em 2010 para 3 por cento, em vez dos 2,5 por cento anteriores. Tudo isso reflete-se em um fluxo maior de dólares para o Brasil, especialmente no caso de investimentos diretos.

Finalmente, apesar de todos os cenários positivos, os juros brasileiros continuarão a ser bastante superiores à média mundial, drenando uma fração, ainda que pequena, da elevada liquidez internacional.

Com tudo isso, há poucas razões para acreditar em uma alta estruturada e persistente do dólar. A moeda norte-americana deverá manter sua trajetória de depreciação em relação ao real brasileiro, exceto em movimentos pontuais de alta provocados pelo noticiário --que deverão ser esporádicos, limitados e de curta duração
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* O jornalista Cláudio Gradilone assina a coluna Portfólio para a Reuters; as opiniões expressas são de sua responsabilidade.

sábado, 26 de setembro de 2009

PIB POSITIVO NO SEMESTRE


Melhor que a encomenda: saiu o PIB do segundo trimestre, coim expansão de 1,9% sobre o primeiro, que tivera retração de 0,8%. Com isso, o PIB do primeiro semestre de 2009 acumula avanço de 1,1% no ponta a ponta, retirando o Brasil da lista dos países em recessão pós-crise global financeira. Em valores correntes, o PIB de abril a junho somou R$ 756,2 bi. De janeiro a março, R$ 684,6 bi.

A alta do PIB do primeiro semestre deste ano foi 1,5% menor que a de igual período de 2008, com crescimento dos serviços (2,1%) insuficiente para compensar as quedas na indústria (-8,6%) e na agropecuária (-3,0%).

Primeiros semestres
Na comparação semestral, a maior redução (-11,2%) foi sofrida pela indústria de transformação seguida pela construção civil (-9,6%), pela de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana (-4,1%) e pela indústria extrativa (-0,9%).

Entre os serviços, destaque para a alta nos bancos e seguradoras (7,0%), nos serviços de informação (6,1%), na administração, educação e saúde públicas (3,0%), e nos serviços imobiliários e aluguel (1,5%). Quedas foram registradas nos setores de transporte, armazenagem e correio (-5,4%) e comércio (-5,0%).

Mas continuaram positivas as taxas de consumo: 2,5% na administração pública e 2,3% nas famílias. Os investimentos tiveram baixa singificativa (15,6%), assim como as importações (-16,3%) e as exportações (-13,1%).

Primeiro e segundo
Boa notícia é que, na comparação dos dois trimestres iniciais deste ano, a indústria fechou o período com alta de 2,1%, e os serviços, de 1,2%. A agropecuária apresentou variação negativa de 0,1%.

Na mesma comparação, o consumo das famílias cresceu 2,1% e o do governo caiu 0,1%. Os investimentos, ou formação bruta de capital fixo, permaneceu estável, as exportações aumentaram 14,1% e as importações, 1,5%.

Segundos trimestres
A queda de 1,2% no PIB do segundo trimestre de 2009, comparado ao de igual período de 2008, foi causada, principalmente, pela retração de 7,9% na indústria e de 4,2% na agropecuária. Os serviços tiveram expansão de 2,4%. O IBGE explica a redução na taxa da agropecuária pela perda de safra de alguns produtos importantes (caso da soja, do milho e do café) e fraco desempenho nos setores de pecuária, silvicultura e exploração florestal.

O problema maior foi na indústria, pois todas as atividades apresentaram taxas negativas, sendo a maior delas a da indústria de transformação (-10,0%), influenciada principalmente pela menor produção nos setores de máquinas e equipamentos, metalurgia, peças e acessórios para veículos, mobiliário, vestuário e calçados. Também houve retração de 9,5% na construção civil, de 4,0% em eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana. Na indústria extrativa mineral, a redução foi de 0,8%, com a extração de minérios ferrosos caindo 27,4% e a de petróleo e gás natural aumentando 5,9%.

A expansão dos serviços (2,4%) veio do desempenho positivo na intermediação financeira e seguros (8,2%), já de volta ao patamar do terceiro trimestre de 2008, e de serviços de informação (6,8%, leia-se celular e informática). Também avançaram a administração, saúde e educação públicas (2,8%) e os serviços imobiliários e aluguel (1,4%). Em queda transporte de carga e passageiros, armazenagem e correio (-5,3%), comércio atacadista e varejista (-4,0%), por conta do mau resultado da indústria de transformação.

O que mantém a bola em campo é o consumo das famílias, com aumenta pelo 23º trimestre consecutivo, destaca o IBGE. Ao confrontar o segundo trimestre deste ano ao de 2008, antes da crise, notou-se que o consumo das famílias cresceu 3,2%, graças ao aumento da massa salarial real (3,3%) e à maior oferta de crédito (20,3% em termos nominais).

Também o governo aumentou seus gastos (2,2%), nessa comparação, mas os investimentos caíram 17,0%, o maior recuo desde o início da série, em 1996, explicado, principalmente, pela redução da produção interna de máquinas e equipamentos.

Mais: tanto as exportações (-11,4%) quanto as importações (-16,5%) de bens e serviços continuaram em declínio, quando analisados os resultados desses dois segundos trimestres.

12 meses
Mas, considerando-se o período de 12 meses terminado no segundo trimestre de 2009, o PIB teve crescimento de 1,3%, em relação a intervalo igual imediatamente anterior - ajudado, mais pelos impostos (alta de 1,6%) que pelo valor adicionado (alta de 1,2%). Nessa comparação, o IBGE detectou aumento em serviços de 3,1% e na agropecuária, de 0,2%, com queda de 3,0% na indústria.

Destaques positivos, na comparação de 12 meses: indústria extrativa mineral (1,5%), eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana ( 0,2%), serviços de informação (7,8%), intermediação financeira e seguros (6,9%), administração, educação e saúde públicas (2,9%) e serviços imobiliários e aluguel (2,0%).

A administração pública consumiu 4,2% mais, as famílias, 3,5% mais. Detalhe negativo: a formação bruta de capital fixo caiu 2,2%, depois de 20 trimestres de crescimento seguidos nessa base de comparação. No setor externo, tanto as exportações (-7,6%) como as importações (-0,8%) de bens e serviços caíram.

No segundo trimestre, o PIB, a preços de mercado alcançou R$ 756,2 bi, sendo R$ 652,4 bi referentes a valor adicionado e R$ 103,8 bi a impostos sobre produtos. No primeiro, R$ 684,6 bi, sendo R$ 584,6 bi de produto e R$ 100 bi de impostos.
(11/09/2009) JOELMIR BETTING.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

LEHMAN BROTHERS


Um ano depois da falência do Lehman Brothers, regulação bancária continua fraca
De Marc Jourdier (AFP).

WASHINGTON, EUA — A quebra do banco Lehman Brothers, em setembro de 2008, expôs os defeitos do sistema de regulamentação e vigilância bancária americano, que permanece cheio de brechas um ano depois apesar do projeto de reforma proposto pelo governo de Barack Obama.

Um exemplo ilustrativo da cegueira dos reguladores: uma das principais autoridades de controle, o presidente do Federal Reserve (Fed) Ben Bernanke, disse no dia 15 de julho de 2008 que o sistema bancário americano estava 'bem capitalizado'.

Desde então, mais de 100 bancos americanos entraram com pedidos de falência além do Lehman.

Os maiores pontos fracos do sistema já foram identificados: divisão de tarefas, normas frouxas e reguladores permissivos, além de uma política de remunerações que estimula riscos desnecessários e da ausência de controle sobre setores inteiros do setor financeiro.

Ambicioso, o plano de reforma da regulamentação lançado por Obama não racionaliza o sistema, mas tenta "preencher as lacunas", como explicou recentemente à rede de televisão CNBC o ex-representante republicano Michael Oxley.

O governo propõe a criação de um Conselho de Vigilância dos Serviços Financeiros, cuja função seria identificar novos riscos e coordenar a ação dos reguladores.

Além disso, a administração planeja reunir todas as instituições financeiras (bancos, fundos de investimento e companhias de seguros) cuja quebra colocaria em risco o conjunto do sistema sob um regulador único - neste caso, o Fed - e endurecer as normas dos fundos próprios de todas estas entidades.

Estas iniciativas foram bem recebidas por analistas que não discutem a legitimidade do Fed neste âmbito, mas a racionalização do sistema ficou limitada.

"Temos uma estrutura de regulação insensata, com seis reguladores diferentes para os bancos, e isto considerando todos os reguladores estaduais como um só órgão", destacou recentemente Douglas Elliott, especialista sobre regulamentação financeira da Brookings Institution.

A reforma manterá cinco reguladores, apesar da opinião de analistas que acreditam que este número deveria ser reduzido a dois.

Sobre os bônus pagos a diretores de bancos, o governo cedeu e optou por não se envolver nesta questão.

Por outro lado, o plano prevê que praticamente todos os participantes do mundo das finanças se submetam a reguladores, em particular os fundos especulativos e os operadores dos mercados de produtos derivados, que atualmente atuam sem fiscalização.

A reforma ainda deve passar pelo Congresso, e a lição da história é que a regulação financeira sempre está atrasada em relação às inovações.

Para convencer os congressistas, membros do governo apontam que é necessário aproveitar a crise para garantir que a catástrofe iniciada em 2008 não se repita.

O ex-corretor da bolsa Henry Blodget, que perdeu quase todas as suas economias na bolha da internet, no começo desta década, afirma, no entanto, que as lições da atual crise serão rapidamente esquecidas.

"Vamos criar (...) novos sistemas de regulação, colocar um monte de gente na prisão e fazer tudo o que falta para nos convencermos de que tudo será diferente da próxima vez, e assim o será enquanto a opinião pública se lembrar deste desastre", escreveu em dezembro na revista Atlantic Monthly.

"Mas, assim que esta crise entrar para o passado, nossas prioridades mudarão lentamente e começaremos a nos preparar para a próxima grande bolha".

Copyright © 2009 AFP.

domingo, 13 de setembro de 2009

PERSONAGENS


Alfred Winslow Jones, o pai dos hedge funds; ou seria Keynes?

Por: Roberto Altenhofen Pires Pereira
11/09/09 - 19h30
InfoMoney


SÃO PAULO - Desta vez, Personagens do Mercado vai atrás de um longo objeto de estudos dos agentes: a administração dos riscos. A partir desta premissa, a história aponta para o nome de Alfred Winslow Jones, tido como o pai dos hedge funds.

Com raízes na sociologia, pode-se dizer que Winslow caiu de paraquedas no mundo dos investimentos. Por outro lado, apenas suas origens o separam da rotina dos mercados. Por mais que seus passos não tivessem esta pretensão, acabaram por colocá-lo entre as figuras fundamentais para a atual estrutura dos mercados financeiros.

Vida, liberdade e propriedade
Nascido na Austrália, em 1900, foi morar nos Estados Unidos logo aos quatro anos. Com 23 anos, recebeu seu diploma de Harvard, com estudos na área de sociologia. Depois de trabalhar como tesoureiro de um navio mercante, passou a integrar o Serviço de Diplomacia dos Estados Unidos, se tornando vice-cônsul norte-americano em Berlin na época da ascensão de Hitler e da Grande Depressão dos Estados Unidos.

Em 1941, já de volta aos Estados Unidos, recebeu o doutorado em sociologia pela Universidade de Columbia. Sua tese, "Life, Liberty and Property" tratava das atitudes tomadas no ambiente de uma firma de Akron, no estado de Ohio. A revista Fortune se interessou, publicando diversos trechos do trabalho.

Com o passar do tempo, Winslow se juntou ao editorial da Fortune, tendo contato mais direto com a rotina dos mercados. Ao escrever o artigo "Fashions in Forecasting", pensou mais a fundo sobre análise técnica de ações, formulando suas primeiras ideias para o que viria a ser seu fundo.

Travas
Através da A.W. Jones and Co., sua companhia de investimentos, Winslow buscava encontrar uma maneira de eliminar os riscos de mercado com a utilização de operações travadas. A ideia inicial era comprar algumas ações alavancado e vender outras a descoberto.

Suas compras e vendas tinham de envolver o mesmo montante no total. Analisadas separadamente, as duas operações podem ser consideradas arriscadas e de caráter altamente especulativo. Combinadas, no entanto, resultariam em um portfólio conservador, pois mitigaria o risco de mercado.

Além de prevenir eventuais perdas, a estratégia, quando certeira em relação à tendência, permitia que o fundo de Winslow ganhasse nas duas pontas, seja pela valorização das ações compradas, porque já as detinha, seja pela queda dos papéis vendidos a descoberto, pois poderia adquiri-los por valor inferior.

Hedge fund, pela primeira vez
O fato é que a alta rentabilidade das operações de Wislow passou a chamar atenção. Ainda assim, o termo "hedge fund", propriamente dito, só iria aparecer 17 anos depois, em uma matéria da Fortune sobre o assunto. "Há razões para acreditar que o melhor gestor de investimentos dos dias atuais é um senhor quieto e quase nunca fotografado que se chama Alfred Winslow Jones".

O fato é que, em uma base de cinco anos, a A.W. Jones havia performado a rentabilidade média obtida pelos fundos mútuos em cerca de 44%. Os números e a chamada da Fortuna renderam popularidade à estratégia e pontuaram o surgimento da indústria de hedge funds. Quase três anos depois da publicação, eram contabilizados cerca de 140 hedge funds no mercado norte-americano.

A década de 1970, no entanto, freou o ímpeto dos hedge funds, principalmente por ser um período extremamente negativo para as commodities, por conta sobretudo do choque do petróleo. Posteriormente, nomes como o Quantum Fund de George Soros e o LTCM - Long Term Capital Management -, dos Nobeis Myron Scholes e Robert Merton foram popularizados.

Winslow ou Keynes?
Mesmo não aparecendo nos manuais como o pioneiro do que hoje é considerada a bilionária indústria dos hedge funds, o pai da teoria macroeconômica John Maynard Keynes não pode ser desassociado desta história. Por trás de seu legado como economista, Keynes se revelava um investidor de ótimos resultados.

Uma matéria de 2007 do The New York Times trata Keynes como "day trader", relacionando suas atividades ao surgimento do que depois viria a ser chamado de hedge. De um período entre 1928 e 1945, Keynes obteve um rendimento médio de 13,2% em suas aplicações, contra um período de relativa estabilidade da bolsa britânica (+0,5%).

O segredo estava em estratégias combinadas. Além das posições em ações, Keynes mantinha posições correlacionadas em títulos públicos, moedas e commodities, sempre utilizando sua percepção superior a respeito dos fenômenos macroeconômicos. Recorrendo aos princípios de risco específico (diversificável ou idiossincrático) e risco sistêmico (não-diversificável ou de mercado), a ideia básica era que todos os investimentos estavam sujeitos a mudanças no ambiente econômico.

Proteção
O livro "Hedge fund investment management", de Izzy Nelken, cita que, em 1930, Keynes explicou que "mesmo se a oferta e a demanda estão equilibradas, os preços à vista devem exceder os preços futuros pelo tanto que os produtores [de commodities] estão dispostos a sacrificar para se protegerem, a fim de evitar o risco de flutuações de preços durante seu período produtivo".

Em resumo, na tentativa de atrair os especuladores a assumir o risco destas flutuações, os produtores tenderiam a vender sua produção para entrega futura com um desconto em relação à expectativa para os preços à vista no futuro, explica a obra de Nelken.

sábado, 12 de setembro de 2009

PIB BRASILEIRO EM CRESCIMENTO!


O anúncio do crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no segundo trimestre de 2009 voltou a animar especialistas e governistas. Para o presidente Lula, por exemplo, o aumento da soma das riquezas produzidas no Brasil mostrou que o país estava muito mais preparado para enfrentar a crise mundial do que os Estados Unidos e nações da Europa. No entanto, desde outubro – um mês depois que a crise chegou ao Brasil, segundo economistas ela apareceu por aqui em setembro a partir da intervenção do governo americano no banco de investimentos Lehman Brothers – as despesas da União com pessoal e encargos sociais (folha salarial, previdência, etc.) crescem em ritmo mais acelerado do que os investimentos (execução de obras e compra de equipamentos).

De acordo com dados do Orçamento Geral da União (OGU), entre novembro de 2007 e setembro de 2008, mês inicial da crise no Brasil, ou seja, 11 meses antes, os gastos com pessoal dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) somaram R$ 125,5 bilhões. Já entre outubro de 2008 e agosto deste ano, 11 meses depois dos primeiros sintomas da crise no país, os mesmos gastos alcançaram R$ 149,2 bilhões. Ou seja, a União desembolsou 19% a mais com pagamento de pessoal no período pós-crise ante o período que antecedeu o colapso.

Enquanto isso, houve um acréscimo mais tímido com os investimentos públicos. No período novembro de 2007 a setembro de 2008, a União desembolsou R$ 23,8 bilhões em obras e compra de equipamentos. Entre outubro de 2008 e agosto deste ano, o montante aplicado foi de R$ 25,4 bilhões, cerca de 7% a mais sobre o período anterior. Clique aqui para ver quadro com dados das despesas com pessoal e encargos sociais e dos investimentos nos dois períodos citados.

Procurado pelo Contas Abertas para comentar os números, o economista Raul Velloso, especialista em contas públicas, foi enfático: aumentar os investimentos em ritmo mais lento do que os gastos correntes não é positivo para a economia brasileira. Isso porque, segundo ele, no futuro, quando a política anticíclica não for mais necessária para minimizar os efeitos da crise, o gasto público terá de recuar. “Dá para cortar investimentos. O que não dá para reduzir é despesa com pessoal e previdenciária. Investir mais neste momento é o mínimo que pode ser feito para ajudar a reverter um quadro de crise”, afirmou Velloso.

Para o economista Delfim Netto, em entrevista ao UOL sobre os números do PIB, a combinação entre o comportamento dos bancos centrais, das políticas anticíclicas e de uma “certa flexibilidade da economia” está funcionando. “Ninguém sabe quais são os efeitos desses fatores. Mas uma coisa é certa: estão pondo para funcionar outra vez o sistema. A resposta brasileira, honestamente, foi uma resposta até otimista”, comentou, referindo às ações que o Brasil tomou frente à crise global.

Investimentos são os maiores desde pelo menos 2001

Mesmo com o crescimento de maneira mais tímida em comparação com as despesas com pessoal, os investimentos realizados pela União vêm aumentando nos últimos anos. O governo federal, junto com o Legislativo e o Judiciário, desembolsou R$ 16,3 bilhões em execução de obras e compra de equipamentos entre janeiro a agosto de 2009. É o maior valor para o período desde pelo menos 2001, em valores atualizados

segunda-feira, 7 de setembro de 2009

SALÁRIO MINIMO NA UNIÃO EUROPÉIA



Salário mínimo: Alemanha é exceção na Europa

Redator: Michael Knigge
© Deutsche Welle

Ao contrário da maioria dos países industrializados, na Alemanha não há um salário mínimo estipulado por lei. Especialistas discutem prós e contras. Segundo estudo, trabalhador alemão é o terceiro mais caro da Europa.

Na Alemanha, são as partes negociadoras –sindicatos e empregadores– que negociam os salários em cada um dos setores da economia. No entanto, já faz algum tempo que esse sistema vem apresentando falhas: em tempos de globalização econômica, o mercado de trabalho é tomado por estrangeiros dispostos a trabalhar por um salário mais baixo. Ao mesmo tempo, a pressão aumenta para que empresas desloquem sua produção para países onde os custos são mais baixos.

Problema foi identificado cedo na construção civil

Existe apenas um setor no país que opera com salário mínimo estabelecido por decreto: a construção civil. Desde 1997, a lei garante que a tarifa negociada seja estendida também para trabalhadores de empresas estrangeiras na Alemanha.

O problema remonta a contratos antigos, segundo os quais empresas vindas de fora podiam trazer seus próprios empregados para executar obras no país, o que lhes permitia pagar salários menores e lhes garantia vantagens em relação à concorrência.

Isso acabou gerando não apenas uma derrubada dos preços do setor, mas também a rejeição dos trabalhadores alemães, além de gerar condições de trabalho que não condizem com os padrões sociais do país.

Especialistas divididos

Na União Européia, existe um salário mínimo em 18 dos 25 países-membros, entre eles Grécia, Espanha, Grã-Bretanha e França. Na maioria deles, o salário mínimo é definido de acordo com o pagamento mensal, não por hora de trabalho. Em 2004, o espectro da renda mensal mínima variava de 116 euros na Letônia a 1369 euros em Luxemburgo.

Os favoráveis à introdução de um salário mínimo na Alemanha argumentam baseados na justiça social e no asseguramento de um mínimo necessário para a sobrevivência.

Os que são contra alegam que a medida seria contraproducente, já que empregos cujos salários forem inferior ao estipulado por decreto desaparecerão, ocasionando um aumento do desemprego. Para eles, a justiça social já estaria assegurada pelo auxílio social e o seguro-desemprego.

Trabalhador alemão é terceiro mais caro da Europa

De acordo com um estudo da empresa de consultoria de recursos humanos Mercer, a Alemanha ocupa a terceira posição no ranking dos maiores custos de mão-de-obra da Europa. Com uma média de 50,4 mil euros por empregado por ano, a Alemanha só fica atrás da Bélgica (53,6 mil) e da Suécia (52,8 mil).

Especialistas constataram diferenças consideráveis entre os países europeus. Na Europa Ocidental, os custos de mão-de-obra chegam a ser até quatro vezes maiores que no Leste Europeu. Na Letônia, por exemplo, eles são de 4,75 mil euros por ano.

A média anual européia é de 28,3 mil euros, ou seja, 15% menor que a dos Estados Unidos. No entanto, sem levar em conta os índices dos países da porção Leste, a média da Europa Ocidental seria 23% superior à americana.

Veja a lista dos salário mínimos mensais de diversos países (em euros):

Quelle: Eurostat, dados de janeiro de 2003
Câmbio em 4 de setembro: Euro a 2,58 a compra e 2,79 a venda
Luxemburgo: 1369
Holanda: 1249
Bélgica: 1163
França: 1154
Reino Unido: 1105
Irlanda: 1073
Estados Unidos: 877
Grécia: 605
Malta: 535
Espanha: 526
Eslovênia: 451
Portugal: 416
Hungria: 212
Polônia: 201
República Tcheca: 199
Estônia: 138
Lituânia: 125
Eslováquia: 118
Letônia: 116
Turquia: 89
Romênia: 73
Bulgária: 56


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Enviado por Antonio Sobrinho, Rio de Janeiro-Capital
5 setembro, 2009


www.jornaldosamigos.com.br

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

BC E A TAXA SELIC


Por que o Banco Central mantém a Taxa Selic?

Segundo declarações feitas pelo Banco Central logo após a reunião do COPOM, e divulgada pela imprensa, é que o atual nível da Taxa Selic “é consistente com um cenário inflacionário benigno, contribuindo para assegurar a manutenção da inflação na trajetória de metas e para a recuperação não inflacionária da atividade”. Embora essa seja realmente uma das razões, acredito que não seja a mais importante na atual conjuntura. Existe uma outra variável importante para o equilíbrio do mercado financeiro, e de grande impacto político-eleitoral, que se refere ao tamanho da taxa de juros que remunera a caderneta de poupança, cujo rendimento, como é de conhecimento geral, já ultrapassa a média dos rendimentos, líquidos de imposto de renda, proporcionados pelas aplicações em fundos de renda fixa, DI e não DI. E o pior: já concorre com os rendimentos líquidos oferecidos não só pelos Certificados de Depósitos Bancários (CDB) emitidos pelos Bancos, como também com os rendimentos proporcionados pelos títulos da dívida pública federal, emitidos pelo Tesouro Nacional. Caso o COPON reduzisse a taxa referencial Selic em apenas 0,25 ponto percentual, a TR (Taxa Referencial de Juros) seria, em média, de zero. Obviamente cairia o rendimento da poupança, mas, os rendimentos líquidos dos principais concorrentes citados cairiam numa proporção maior. E esse fato agravaria o equilíbrio do mercado financeiro pela possibilidade real de uma migração para a caderneta de poupança, dos aplicadores nas modalidades concorrentes. Com essa migração, os Bancos seriam obrigados a vender principalmente títulos da dívida pública – que correspondem a cerca de 80% da carteira dos fundos de investimento em renda fixa - para cobrir os resgates efetuados pelos cotistas. Dúvida: como continuar financiando a dívida pública interna? A sorte do governo: milhões de aplicadores em fundos, principalmente aqueles que destinaram para essa modalidade valores de até R$ 20 mil ou R$ 50 mil, ainda não têm consciência de que estão perdendo para a poupança. E por esta razão, a migração tem sido muito pequena ou até mesmo inexistente.
Aproveitando a oportunidade desta matéria, alguns lembretes e sugestões:
1 – A sociedade brasileira tem que se conscientizar de que, considerada a realidade econômica do Brasil e do mundo, atual e projetada, não será possível manter por mais tempo uma taxa de juros de 6,17% ao ano (líquida de Imposto de Renda) como remuneração básica de uma modalidade de aplicação que tem a maior segurança e a maior liquidez;
2 – Uma eventual redução na taxa de juros da poupança tem que ser aprovada por lei específica. E por se tratar de uma medida contrária aos interesses de boa parte da população brasileira, principalmente a de baixa renda, é necessário que os nossos representantes no poder legislativo votem o projeto pensando mais nos interesses do nosso país, do que nos votos dados nas urnas.
3 – Está passando da hora de o Banco Central rever alguns critérios para o cálculo do rendimento da caderneta de poupança. Creio ser absolutamente factível substituir a remuneração mensal baseada no número de dias úteis contidos no mês, pela remuneração mensal, como era até a metade da década de 90, independentemente do número de dias úteis ou corridos contidos no mês;
4 – Também é necessário rever o critério de que depósitos efetuados nos dias 29, 30 e 31 do mês, sejam remunerados somente a partir do dia primeiro do mês seguinte.

Prof. José Dutra Vieira Sobrinho
São Paulo, 3 de setembro de 2009

IMPOSTÔMETRO.


Impostômetro vai ultrapassar marca dos R$ 700 bilhões nesta sexta

Da Redação
economia@eband.com.br

O Impostômetro da ACSP (Associação Comercial de São Paulo) irá atingir a marca de R$ 700 bilhões na tarde desta sexta-feira. Apesar disso, está havendo uma queda de arrecadação dos governos federal, estaduais e municipais, que atingiram esse valor um dia depois no ano passado (3 de setembro de 2008). As informações são do IBPT (Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário), autor do medidor de impostos.

Com a marca de R$ 700 bilhões de impostos arrecadados no próximo dia 04 de setembro, às 12h40, o Impostômetro, da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), confirma que a arrecadação tributária está praticamente igual a de 2008.

O Impostômetro, que está instalado no prédio da ACSP mostra em tempo real desde abril de 2005 o quanto já foi arrecadado no país. Registrou no ano passado 700 bilhões 1 dia antes, em 03 de Setembro. Em 2007, esse montante foi arrecadado 41 dias mais tarde, ou seja, 11 de outubro. Em 2006 os R$ 700 bilhões foram alcançados em 11 de novembro.

Para o presidente da ACSP, Alencar Burti, "apesar dessa estabilidade este ano, os brasileiros ainda pagaram muitos impostos".

No site é possível acompanhar também os tributos que foram pagos pelos brasileiros nos anos anteriores, visualizar o pagamento por estado, produto e até mesmo comparar as arrecadações. Outra possibilidade é verificar o quanto todos pagam no ano, no mês, no dia e a cada hora, minuto e segundo.

O Impostômetro está instalado no prédio da ACSP, rua Boa Vista, 51, Centro, e também pode ser visualizado na internet, no endereço: www.impostometro.com.br

Serviço:

Data: 04 de Setembro de 2009

Horário: 12h40

Local: Associação Comercial de São Paulo

Endereço: Rua Boa Vista, 51 - São Paulo/SP

FINANÇAS INTERNACIONAIS


Os mercados financeiros são o coração pulsante do capitalismo cognitivo’

Para o economista italiano Andrea Fumagalli, "a governança política e social baseada na dinâmica livre dos mercados financeiros não tem condições de garantir uma distribuição de renda adequada em relação à nova forma de acumulação e valorização do capitalismo cognitivo". Na entrevista que segue, concedida por e-mail para a IHU On-Line, "a estrutura da propriedade privada parece inadequada para desenvolver a cooperação social que é necessária para melhorar o processo de acumulação, baseado cada vez mais em conhecimento, relações e aprendizagem". Fumagalli explica que "a compensação entre a propriedade intelectual e a necessidade de livre circulação e difusão do conhecimento é uma das causas da atual instabilidade estrutural. O conhecimento é um bem ‘comum’, e se ele é privatizado, sua valorização social diminui".


Ele explica por que considera que, atualmente, os mercados financeiros são o coração pulsante do capitalismo cognitivo. "Eles financiam a atividade da acumulação: a liquidez atraída para os mercados financeiros recompensa a reestruturação da produção que visa à exploração do conhecimento e ao controle de espaços externos aos negócios tradicionais".

Doutor em Economia Política, Andrea Fumagalli é atualmente professor no Departamento de Economia Política e Método Quantitativo da Faculdade de Economia e Comércio da Università di Pavia, Itália. Seus temas de interesse são teoria macroeconômica, teoria do circuito monetário; economia da inovação e da indústria, flexibilidade do mercado de trabalho e mutação do capitalismo contemporâneo: o paradigma do capitalismo cognitivo, entre outros. Dentre seus vários livros publicados, citamos: Il lavoro. Nuovo e vecchio sfruttamento (Milão: Punto Rosso, 2006), Bioeconomia e capitalismo cognitivo, Verso un nuovo paradigma di accumulazione (Roma: Carocci Editore, 2007), e La crisi economica globale (Verona: Ombre corte, 2009).

Confira a entrevista.

IHU On-Line - O senhor pode falar brevemente sobre as dez teses que o grupo de pesquisadores da Universidade Nômade levantaram recentemente no sentido de tentar compreender a atual crise internacional?

Andrea Fumagalli - As dez teses são fruto de uma discussão coletiva que começou com um seminário sobre a crise financeira, organizado pela Universidade Nômade, em Bolonha, nos dias 12 e 13 de setembro de 2008 e que continua até hoje. Marco Bascetta, Federico Chicchi, Andrea Fumagalli, Stefano Lucarelli, Christian Marazzi, Sandro Mezzadra, Cristina Morini, Antonio Negri, Gigi Roggero e Carlo Vercellone participaram dele, e eu redigi o texto. Podemos dizer que ele é o resultado do "intelecto geral" do movimento italiano, especialmente daquela parte que tem uma abordagem mais heterodoxa da análise marxista e provém da tradição do "operaísmo" (novo movimento operário).

IHU On-Line - O capitalismo está mesmo em crise? O que a caracteriza? Ela representa também a crise da teoria neoliberal?

Andrea Fumagalli - Antes de mais nada, pensamos que a atual crise financeira é uma crise sistêmica. É a crise de todo o sistema capitalista que vem se desenvolvendo desde a década de 1990 até agora. Isso tem a ver com o fato de que, atualmente, os mercados financeiros são o coração pulsante do capitalismo cognitivo. Eles financiam a atividade da acumulação: a liquidez atraída para os mercados financeiros recompensa a reestruturação da produção que visa à exploração do conhecimento e ao controle de espaços externos aos negócios tradicionais.

Isso quer dizer que as origens da crise e suas caracterizações têm a ver com os seguintes fatos:

1. A governança política e social baseada na dinâmica livre dos mercados financeiros não tem condições de garantir uma distribuição de renda adequada em relação à nova forma de acumulação e valorização do capitalismo cognitivo. A negociação individual, a incerteza de receitas estáveis por causa do aumento da precariedade, a redução de salários, principalmente nos países ocidentais, favorecem o aumento de uma dívida especulativa e instável, de um lado, e afetam negativamente a exploração das economias de ganho e de escala (portanto, os ganhos de produtividade), por outro.

2. A estrutura da propriedade privada parece inadequada para desenvolver a cooperação social que é necessária para melhorar o processo de acumulação, baseado cada vez mais em conhecimento, relações e aprendizagem (numa só palavra, no intelecto geral). A compensação entre a propriedade intelectual (o tipo de propriedade privada que substituiu parcialmente a propriedade privada de maquinário) e a necessidade de livre circulação e difusão do conhecimento é uma das causas da atual instabilidade estrutural. O conhecimento é um bem "comum", e se ele é privatizado, sua valorização social diminui.

IHU On-Line - Quais as consequências do fato de esta crise ser sistêmica?

Andrea Fumagalli - A principal é que ela necessita de intervenções sistêmicas e estruturais.

IHU On-Line - O que significa a crise da estrutura do biopoder capitalista atual?

Andrea Fumagalli - Os mercados financeiros, redirecionando forçosamente parcelas crescentes das receitas do trabalho (como, por exemplo, pagamentos por demissão e seguridade social, diferentes das receitas que, através do Estado social, traduzem-se em programas estatais de saúde e instituições educacionais públicas), substituem o Estado como principal provedor de seguridade social e bem-estar. Desse ponto de vista, eles representam a privatização da esfera reprodutiva da vida. Por isso, exercem biopoder. A crise financeira é, consequentemente, uma crise da estrutura do atual biopoder capitalista.

IHU On-Line - Que alternativas podemos imaginar neste momento, do ponto de vista econômico?

Andrea Fumagalli - Pensamos que atualmente não há condições de implementar uma espécie de New Deal institucionalizado (como foi possível na década de 1930), isto é, um New Deal resultante de uma conciliação política entre o trabalho e o capital. Segue-se que podemos nos deparar com duas soluções possíveis: a primeira é um aumento na instabilidade geopolítica internacional (rumo a uma nova guerra global?), especialmente a fim de definir um novo equilíbrio hierárquico econômico global, em que os EUA perderão o controle unilateral das finanças e da tecnologia. A segunda é que um New Deal, que se baseie numa forma nova de distribuição de renda (por exemplo, renda básica) e ultrapasse a dicotomia entre propriedade privada e estatal rumo a uma propriedade "comum", seja imposto pela força do movimento social, isto é, um New Deal a partir de baixo. Uma terceira oportunidade pode residir no desenvolvimento de uma nova trajetória econômica, técnica e social, que normalmente é chamada de "economia ecológica", capaz de resolver qualquer problema com um salto forte no futuro. Mas sou cético quanto a ela, porque esta crise necessita de uma solução de curto prazo e respostas políticas imediatas e gerais.

IHU On-Line - Com esta crise, que outros valores ganham mais espaço no cenário atual? Qual o peso, por exemplo, que adquire o capitalismo cognitivo?

Andrea Fumagalli - Penso que esta é a crise da implementação do capitalismo cognitivo, como a crise de 1929 foi a crise do taylorismo em seu início. A atual crise financeira, que se segue a outras ocorridas nos últimos 15 anos, destaca, de forma sistemática e estrutural, a inconsistência do mecanismo regulatório de acumulação e distribuição que o capitalismo cognitivo tentou se dar até agora. Além disso, com o advento do capitalismo cognitivo, o processo de valorização perde todas as unidades de mensuração quantitativa ligadas à produção material. Essas medições eram, de certa forma, definidas pelo conteúdo do trabalho necessário para a produção de mercadorias, mensurável com base na tangibilidade da produção e no tempo necessário para a produção. Com o advento do capitalismo cognitivo, a valorização tende a ser desencadeada em diferentes formas de trabalho ou mão de obra que cortam as horas de trabalho efetivamente verificadas para coincidir cada vez mais com o tempo geral da vida. Atualmente, o valor do trabalho ou da mão de obra está na base da acumulação capitalista e é também o valor do conhecimento, dos afetos e das relações, do imaginário e do simbólico. O resultado dessas transformações biopolíticas é a crise da medição tradicional do valor do trabalho ou da mão de obra e, junto com ela, a crise da forma do lucro. Uma solução "capitalista" possível era a medição da exploração da cooperação social e do intelecto geral por meio da dinâmica dos valores de mercado. Dessa maneira, o lucro era transformado em renda, e os mercados financeiros se tornaram o lugar onde o valor do trabalho ou da mão de obra era determinado, transformado num valor financeiro que não é outra coisa do que a expressão subjetiva das expectativas de lucros futuros gerados por mercados financeiros que, dessa forma, reivindicam renda. A atual crise financeira assinala o fim da ilusão de que o financiamento pode constituir uma unidade de medição do trabalho ou da mão de obra, ao menos no atual fracasso do capitalismo contemporâneo em termos de governança cognitiva. Consequentemente, a crise financeira é também uma crise da valorização capitalista.

IHU On-Line - Como tem aparecido nos debates econômicos a proposta de uma maior intervenção do Estado na economia?

Andrea Fumagalli - É muito divertido o fato de que alguns dos economistas neoliberais que ainda há dois anos se horrorizavam com a ideia de intervenção estatal agora são a favor dela, talvez citando Keynes e/ou Marx. É claro que esse tipo de intervenção estatal é apenas instrumental. Ela segue o princípio da socialização dos prejuízos, a fim de recuperar no futuro a privatização dos lucros. Mas o principal problema é que a intervenção estatal só desempenha o papel de tapar os atuais buracos resultantes da falta de liquidez monetária (escassez de crédito) sem perspectivas de intervir nas razões estruturais da crise.

IHU On-Line - Neste momento de crise, qual a importância da união entre países, como é o caso da União Europeia, Mercosul, etc.?

Andrea Fumagalli - Ela é muito importante. Um dos resultados desta crise é a morte definitiva da soberania do Estado nacional. Só é possível imaginar uma nova governança política supranacional. Naturalmente, essa possibilidade depende das relações dinâmicas entre as mais relevantes áreas do mundo, especialmente do eixo EUA-Bric (Brasil, Rússia, Índia e China). Quanto à Europa, a crise demonstra as dificuldades do processo de construção da União Europeia econômica.

IHU On-Line - Que cenários de conflitos sociais são abertos pela crise financeira atual?

Andrea Fumagalli - É bastante difícil responder a essa pergunta. Com certeza, essa crise pode ser uma grande oportunidade para os movimentos sociais globais. A razão disso reside no fato de que, no capitalismo cognitivo, não há espaço para uma reforma política institucional que seja capaz de reduzir a instabilidade que o caracteriza. Nenhum New Deal inovador é possível a não ser aquele impelido pelos movimentos sociais e pelas práticas da institucionalidade autônoma mediante a reapropriação de um sistema de bem-estar saqueado por interesses privados e congelado na política pública. Algumas das medidas que podem ser identificadas, desde a regulamentação dos salários baseada na proposta de uma renda básica até a produção com base na livre circulação do conhecimento, não são necessariamente incompatíveis com os sistemas de acumulação e subsunção do capital, como sugeriram vários teóricos neoliberais. De qualquer modo, novas campanhas de conflito social e reapropriação da riqueza comum podem ser iniciadas com a finalidade de solapar a própria base do sistema produtivo capitalista, isto é, a coerção do trabalho ou da mão de obra, a renda como ferramenta de chantagem e dominação de uma classe sobre outra e o princípio da propriedade privada dos meios de produção (ontem eram as máquinas, hoje também é o conhecimento). Em outras palavras, podemos afirmar que no capitalismo cognitivo uma possível conciliação social de origem keynesiana, mas adaptada às novas características do processo de acumulação, é apenas uma ilusão teórica, sendo inviável de um ponto de vista político.

Uma política reformista plenamente desenvolvida (que tende a identificar uma forma de mediação entre o capital e o trabalho que seja satisfatória para ambos), capaz de garantir um paradigma estrutural estável do capitalismo cognitivo, não pode ser delineada atualmente. Assim, estamos num contexto histórico em que a dinâmica social não deixa espaço para o desenvolvimento de práticas reformistas e, acima de tudo, de "teorias" reformistas. O que se segue disso é que, percebendo que é a práxis que orienta a teoria, só o conflito e a capacidade de criar movimentos multitudinários podem permitir - como sempre - o progresso social da humanidade. Só o reavivamento de conflito social forte supranacional pode criar as condições para superar o estado atual de crise. Deparamo-nos com um aparente paradoxo: para tornar possíveis novas perspectivas reformistas e a estabilidade relativa do sistema capitalista, é necessária uma ação conjunta de natureza revolucionária, capaz de modificar os eixos sobre os quais se baseia a própria estrutura de comando capitalista.

Precisamos, portanto, começar a imaginar uma sociedade pós-capitalista, ou, melhor ainda, a reelaborar a batalha pelo bem-estar [welfare] na crise como organização imediata das instituições do comum. Isso não elimina definitivamente as funções da mediação política, mas remove-as definitivamente das estruturas representativas e absorve-as no poder constituinte de práticas autônomas. Em outras palavras, estamos lidando com a transformação do "comunismo do capital" no "comunismo do intelecto geral" como força viva da sociedade contemporânea, capaz de desenvolver uma estrutura de "estar-comum" [commonfare] e de estabelecer-se como uma condição efetiva e real da opção humana pela liberdade e igualdade. Entre o "comunismo do capital" e as instituições do comum não há especulação ou relação linear de necessidade: trata-se, em outras palavras, de reapropriar-se coletivamente da riqueza social produzida, rompendo os dispositivos da subsunção e do comando capitalista na crise permanente.

Em tal processo, o papel autônomo desempenhado pelos movimentos sociais é importante, não só como programa e ação de caráter político, mas também, e acima de tudo, como ponto de referência para as subjetividades, singularidades ou segmentos de classe mais duramente atingidos e fraudados pela crise. A capacidade de subsunção real da vida no processo de trabalho e produção, a difusão de imagens culturais e simbólicas onipresentes com base em elementos do individualismo (começando com o individualismo "proprietário") e medidas de "segurança" constroem os principais pontos críticos do processo de controle social e cognitivo do comportamento dos trabalhadores e do proletariado. O alcance e a organização de uma subjetividade autônoma, que já vive nas práticas de resistência e produção de uma nova composição de classe, são condições necessárias para desencadear processos conflituosos, capazes de modificar as atuais hierarquias socioeconômicas. Deste ponto de vista, todos os excessos e insurgências que as subjetividades nomádicas conseguem alcançar e animar são bem-vindas. É só dessa maneira, como mil gotas que se encontram para formar um rio ou mil abelhas que formam um enxame, torna-se possível colocar em movimento formas de reapropriação da riqueza e do conhecimento, invertendo a dinâmica redistributiva, forçando os que causaram a crise a pagar por ela, repensando uma nova estrutura do bem-estar social e comum, imaginando novas formas de auto-organização e produção compatíveis com o respeito pelo meio ambiente e pela dignidade dos homens e mulheres que habitam este planeta.


Fonte: Unisinos