domingo, 25 de janeiro de 2009

Seu salário e bônus em 2009



Consultamos especialistas para saber como fica o seu contracheque este ano. A conclusão é que o variável dos talentos fica ainda mais agressivo e o reajuste salarial dos altos executivos será menor. Veja ainda como fica o bônus nos setores mais afetados pela crise
Por Fernanda Bottoni
Neste ano, você vai trabalhar muito, mas a sua remuneração não vai aumentar como você gostaria. É que a crise mundial deve ter, sim, efeitos diretos no seu bolso. Embora essa não seja a notícia que gostaríamos de trazer para você, leitor, neste início de ano, ela resume as constatações de pesquisas de grandes consultorias de recursos humanos, de renomados profissionais de remuneração e headhunters ouvidos pela você s/a. As perspectivas são de que a economia cresça menos e com isso o consumo diminua. As empresas vão produzir menos e quem vai sofrer é o trabalhador. “Quando a economia desacelera, os aumentos de salário por mérito diminuem e as negociações das empresas com os sindicatos ficam mais fáceis para elas. O acordo coletivo deve, no máximo, chegar perto da inflação”, diz Marcelo Ferrari, consultor sênior da Mercer, empresa de recursos humanos com sede em São Paulo. Se você tem bônus para receber no começo deste ano, não se desespere. Salvo poucas exceções, o pagamento de bônus referente ao desempenho de 2008 não deve sofrer alteração. Foi isso o que comprovou uma pesquisa da Towers Perrin, consultoria de São Paulo, ao ouvir mais de 160 empresas no Brasil para analisar os feitos da crise financeira no salário dos profissionais. Mais da metade dessas companhias tem faturamento entre 1 e 20 bilhões de reais. Entre elas há uma tendência de redução na verba que seria direcionada para os aumentos por mérito dos seus funcionários e também nos ajustes salariais por acordo coletivo para 2009. Antes da crise, elas consideravam dar, no mínimo, reajustes salariais por acordo coletivo de 6% para os gerentes. Agora, a situação mudou e o reajuste não vai passar de 5,9%. Maior ainda será a redução dos orçamentos salariais por mérito.


Se antes da crise as empresas previam aumento de 3,8% para o nível gerencial, nos últimos meses do ano elas reduziram essa expectativa para 3,3% .Considerando todas as empresas que participaram da pesquisa, a redução da verba de mérito deve ser de 0,5%”, diz Felipe Rebelli, sócio e líder da área de remuneração de executivos e recompensas da Towers Perrin. Quando a pesquisa foi feita, em novembro, 40 empresas já estavam plenamente decididas a reduzir o dinheiro que seria destinado para remunerar seus profissionais por mérito. O arrocho vai ser muito maior nelas. Antes da crise, o orçamento previa aumento de 3,4% para os gerentes. Agora, de apenas 2,3% Se o salário não vai crescer tanto, a quantidade de trabalho vai ser intensificada. Muitas empresas adotaram a medida preventiva de mandar para a geladeira os processos de recrutamento e seleção. Ou seja, quando não há novas contratações, quem sai da empresa ou é demitido não é substituído e quem fica acaba trabalhando em dobro. Segundo levantamento da consultoria Watson Wyatt, de São Paulo, realizado com 245 empresas da América Latina em novembro do ano passado, 44% dos entrevistados disseram que sua empresa já decidiu não contratar novos empregados. Outros 40% disseram que a medida de não recrutar deve ser tomada nos próximos 12 meses . “Foi como se estivéssemos andando a 200 quilômetros por hora e, de repente, alguém puxasse o freio de mão”, diz Carlo Hauschild, diretor-geral da consultoria de RH Hewitt Associates no Brasil. “Muitas empresas que já estavam com a versão final do orçamento de remuneração pronta para 2009 tiveram de voltar atrás e começar tudo de novo”, afi rma ele. VARIÁVEL DESIGUAL Se você tem bônus para receber, fique tranquilo. Para a maior parte das empresas, os pagamentos referentes ao exercício de 2008 não devem sofrer alteração. O estouro da crise chegou ao Brasil no terceiro trimestre, quando os resultados anuais já estavam quase consolidados. “Os maiores efeitos serão sentidos no próximo ano”, diz Felipe, da Towers. Mas, para 24% das companhias ouvidas no levantamento da Towers Perrin, deve haver alguma redução no pagamento de bônus referente ao resultado de 2008 A maior parte delas, 57%, espera redução de até 25%. Alguns setores da economia já foram duramente atingidos pela crise e neles a redução dos bônus vai ser intensa .Na indústria automobilística, que tem sofrido com a queda da venda de carros desde outubro, 60% das companhias irão reduzir a remuneração variável referente à performance de 2008. Nos setores de engenharia e construção, que devem sentir a contração do crédito imobiliário, a queda será de 40%, e no varejo essa fatia será de 42%. Os bônus foram os mais sensíveis à crise. Nos planos de longo prazo de incentivo aos executivos, como os programas de stock options, as companhias ainda não decidiram fazer nenhum ajuste. Esses planos garantem aos executivos o direito a ações da empresa e, neste momento, a maior parte dos papéis está com preço de exercício superior à cotação em bolsa. “Para 2009, será preciso rever os critérios e a lógica do pagamento de bônus e dos planos de incentivo de longo prazo, para garantir que alguma coisa seja paga, de alguma forma”, diz Fábio Mandarano, gerente da área de capital humano e responsável pela pesquisa de remuneração e benefícios da consultoria Deloitte, em São Paulo. Em um ano de incertezas, a regra geral para as organizações é a de não engessar o orçamento. “A recomendação é de montar uma política defensiva, com revisões pelo menos trimestrais”, afirma Carlo, da consultoria Hewitt Associates. Sérgio Nogueira, gerente de remuneração e benefícios da multinacional Kimberly-Clark Brasil, tem a mesma opinião. “O primeiro trimestre dará o tom do ano. Ninguém tem bola de cristal para saber o que vai acontecer”, diz. Na Kimberly-Clark, por exemplo, o plano de crescimento das vendas para este ano foi mantido. Por enquanto, o que se sabe é que a energia para crescer mais de 10% deverá ser redobrada. “O esforço para cumprir o plano será absurdo, mas estamos confi antes”, diz Sérgio. MAIS PARA OS MELHORESMesmo com a crise, os profissionais considerados high potencials, aqueles com talento acima da média, devem ser ainda mais valorizados nas organizações, até mesmo financeiramente. Se você for um deles, pode começar a se animar. Pelo menos por enquanto, 66% das empresas ouvidas na pesquisa da consultoria Towers ainda estão preocupadas com a retenção desses profissionais. Eles são bons e por isso vão trabalhar mais e trazer melhores resultados em épocas de crise. Para agradá- los, 25% das companhias devem oferecer bônus de retenção, 22% vão apostar no aumento salarial, 15% vão investir em incentivos de longo prazo e 10% vão aumentar os bônus .“As pessoas que a empresa não pode perder — ou porque são potenciais sucessores, ou porque entregam muito — devem ser beneficiadas por uma parte maior da verba destinada à meritocracia”, diz Cibele Giarrante, gerente de remuneração e benefícios da farmacêutica AstraZeneca. Cibele dá um exemplo. Se tivesse 500 000 reais para distribuir em bônus e mérito entre 50 funcionários, ela entregaria a maior parte exclusivamente para os que são considerados talentos. “Eles representam mais ou menos 15% do total de empregados de uma empresa. Entre 50, seriam oito, mais ou menos”, diz. Esses oito, então, receberiam 40 000 reais cada um. O restante do dinheiro — 80 000 reais — seria dividido entre todas as outras 42 pessoas. “Num cenário de dificuldade, toda empresa precisa de talentos. Nesses momentos é que eles mais se sobressaem”, diz Marcelo, da Mercer. Ou, como diz Fernando Mantovani, diretor da empresa de recrutamento Robert Half, quando a maré está boa e o céu está azul, qualquer um conduz o navio. “Quando as condições são outras é que as empresas buscam mão-de-obra mais qualificada.” E, claro, pagam mais por ela.

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