quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

PENSANDO EM 2009 !!!


O que será do meu bolso em 2009? Esta é a pergunta que muitos investidores se fazem depois de um ano tão conturbado como o de 2008. Após cinco anos de ganhos, a exemplo da seleção de futebol, o hexa não veio para a bolsa brasileira e o Índice Bovespa acumula perdas de 42% até o dia 29. Já o dólar, que andava meio esquecido entre as aplicações financeiras, encerrará o ano na liderança, com ganhos na ordem de 36%, juntamente com o ouro, com alta de 31%.
Para 2009, os economistas dizem que será preciso apertar os cintos, pois o cenário promete ainda muita volatilidade. A maioria acredita, no entanto, que o céu deverá começar a clarear no segundo semestre, à medida que os dados sobre o crescimento da economia mundial sejam divulgados e o tamanho do problema mensurado.
Mas o temor de um risco sistêmico por conta da quebra de instituições financeiras, como ocorreu em outubro, quando o Ibovespa caiu 24,80%, parece ter ficado para trás. A grande incógnita agora é saber o impacto da crise na economia real. Além de acompanhar o desempenho da economia dos Estados Unidos e Europa, os investidores terão de monitorar de perto a economia da China, que vem puxando boa parte do crescimento mundial.
Diante de tanta indefinição, o investidor pode ficar tentado a apostar no dólar em 2009, mas os economistas não recomendam a moeda americana como aplicação. Enquanto hoje os aplicadores só pensam em proteger o patrimônio, na segunda metade do ano eles devem voltar a buscar rentabilidades diferenciadas, avalia Roberto Padovani, estrategista-chefe do banco WestLB. Por isso, ele estima que o dólar deve voltar a cair. "Não vejo o dólar na casa dos R$ 2,50 por muito tempo", diz o executivo. A equipe de economistas do WestLB trabalha com um dólar a R$ 2,10 para o ano que vem e de R$ 1,80 para 2010. "Os fundamentos sugerem real mais forte e, com o câmbio se apreciando, a pressão inflacionária diminui", afirma.
O dólar só é indicado como diversificação de patrimônio e funciona como uma espécie de seguro, avalia o administrador de investimentos Fabio Colombo. "Neste ano, quem tinha uma parte dos recursos em dólar não sofreu tanto, mas nos anos anteriores perdeu", lembra ele, que recomenda somente de 10% a 15% do patrimônio em dólar.
Mas e quanto ao ouro? Para investir na commodity, o investidor pode comprar contratos que representam 250 gramas de ouro na BM&F por meio de uma corretora. Isso significa que ele terá de pagar um percentual de corretagem para comprar os contratos. O metal fica guardado na BM&F ou em um banco cadastrado e o investidor tem de pagar uma taxa de custódia, cobrada mensalmente. Vale lembrar que os contratos de ouro não têm grande liquidez, o que quer dizer que o investidor pode ter dificuldade em vendê-los quando quiser, lembra Colombo. É possível também comprar o ouro e levar para a casa, mas é algo que o administrador de investimentos não recomenda, por considerar muito perigoso. Além disso, se o investidor quiser vender depois será exigido uma análise de pureza do metal.
Com relação à bolsa, o desempenho do Ibovespa vai depender de como as economias reagirão a essa enchente de recursos que os bancos centrais estão injetando nos países, além do impacto dos cortes de juros ao redor do mundo, diz Rodrigo Menon, sócio do escritório de aconselhamento financeiro Beta Advisors. Com os Estados Unidos, Europa e Japão em recessão, a China é a economia a ser monitorada, pois é a maior consumidora de commodities, cujos preços já caíram bastante, lembra. "O Brasil está particularmente suscetível à expansão da China e ainda não é possível ter a dimensão clara da desaceleração por lá."
As empresas americanas e européias tendem a exibir resultados muito ruins no primeiro semestre e ainda não é possível saber se esses números já foram incorporados nos preços das ações, afirma Menon. Mas, para o executivo, à medida que o cenário for clareando, a bolsa poderá se recuperar e, inclusive, superar levemente o CDI (o juro interbancário que serve de referência para as aplicações mais conservadoras). "Não me arrisco a dizer que o pior já passou, mas também não dá para afirmar que o pior ainda está por vir", diz.
O Índice Bovespa pode até cair um pouco no primeiro trimestre, depois da alta do fim de ano, acredita Glauco Cavalcanti, gestor de renda variável do Credit Suisse. Pessimista no curto prazo, mas otimista no longo, ele alerta os investidores que se sentem atraídos pela forte queda dos papéis, lembrando que os fundamentos da economia e das empresas também mudaram. Em 2009, Cavalcanti estima que o Ibovespa fechará no azul, com 15% a 20% de alta em relação ao fim de 2008, superando a renda fixa. "Mas quem aproveitar as quedas, como a prevista para o início do ano, pode ganhar mais, talvez 30%", diz. Para ele, olhando no horizonte de um ano, quem comprar no primeiro trimestre dificilmente vai perder dinheiro.
A preferência de Cavalcanti hoje está em bancos, elétricas, mineração. Ele está pessimista com Petrobras, pela queda do petróleo no exterior, que exigirá ajustes na empresa pela receita menor. E está fora dos setores de consumo e construção civil, que devem ser afetados pelo desaquecimento econômico do primeiro trimestre e pela queda no valor dos imóveis.
Após a forte queda do Índice Bovespa em 2008, o preço de muitas ações ficou bastante atraente, avalia Lika Takahashi, estrategista da Fator Corretora. "Para os investidores que têm horizonte de longo prazo, de pelo menos cinco anos, estamos num momento histórico para comprar ações baratas", avalia. Para o ano que vem, as projeções da corretora apontam para um Ibovespa na casa dos 51 mil pontos no fim de 2009, o que embute um potencial de valorização de 37% para o próximo ano.
A estrategista diz gostar dos chamados setores defensivos para 2009, de empresas menos vulneráveis, com fluxos de caixa mais estáveis e que são boas pagadoras de dividendos. Nesse segmento, Lika cita as ações de empresas de energia elétrica, que tendem a distribuir bons dividendos. A executiva também vê com bons olhos os setores de telecomunicações e bancos grandes. O crédito deve se desacelerar, mas os bancos grandes ainda vão apresentar retornos satisfatórios, avalia Lika. "A grande questão é como o Bradesco vai se posicionar agora, se será via aquisições ou crescimento orgânico."
Na opinião da analista, o investidor deve neste momento privilegiar empresas com políticas consistentes de investimento. "É hora de premiar as empresas que tenham prudência e olhar bem o fluxo de caixa da empresa."
O primeiro semestre de 2009 não será muito diferente do segundo de 2008, diz Ronaldo Patah, responsável pela área de renda variável da Unibanco Asset Management. As empresas estarão divulgando o primeiro resultado sob o efeito da desaceleração econômica. Nos números a serem divulgados, haverá o impacto da disparada do dólar, da crise de crédito, do fechamento das linhas internacionais e do aumento do custo do dinheiro em outubro, novembro e dezembro. Mesmo o esperado pacote econômico do novo presidente, Barack Obama, não dará resultado rapidamente.
Na renda fixa, o Banco Central deverá cortar os juros no primeiro semestre a adotar uma postura mais cautelosa na segunda metade do ano, avalia Padovani, do WestLB, que trabalha com uma Selic em 12,25% no fim do ano que vem. O primeiro corte pode vir já na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), em 20 e 21 de janeiro.
Apesar da expectativa de queda da Selic, os juros reais (descontando-se a inflação) no Brasil ainda estão elevadíssimos, lembra Fabio Colombo. Portanto, ele recomenda para os investidores os fundos DI, que acompanham o movimento da taxa de juros. Além disso, os papéis atrelados ao IPCA continuam interessantes, avalia. Mas com relação aos papéis prefixados, o administrador avalia que o mercado já antecipou os cortes da Selic e a relação risco/retorno não se mostra interessante para o investidor. (Colaborou Angelo Pavini)
Valor Online

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008


AGRADECEMOS ,

NOSSOS CLIENTES, COLABORADORES,

PARCEIROS E AMIGOS, O APOIO RECEBIDO

EM 2008 E DESEJAMOS A TODOS UM FELIZ 2009 !!

PROFESSOR DUTRA

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

Assim é se lhe parece !!


O que a economia mundial tem a ver com a Teoria Quântica? Muito mais do que se possa imaginar. Nos dois casos, a simples presença do observador já altera o comportamento do objeto observado. Na mecânica quântica, um sistema permanece indefinido até que um observador realize uma medida, mas ao faze-lo interfere no sistema, levando-o a se apresentar num determinado estado. Por exemplo, se um elétron se apresentará como onda ou partícula.Na economia globalizada, cada observador no mundo também interfere, fazendo com que ela se apresente num certo estado, mais ou menos favorável. Ela é, afinal, a soma de todas essas observações e opiniões, que não só se influenciam mutuamente, mas também geram resultados positivos ou negativos sobre as forças produtivas.Simplificando: uma empresa tem valor de mercado definido pelo seu capital acionário. Mas o valor das ações é definido pela opinião pública sobre essa empresa. Se as pessoas acreditam que a empresa tem bons fundamentos econômicos, bases sólidas para enfrentar quaisquer instabilidades, e que aumentará a produção, aperfeiçoará o gerenciamento de seus processos administrativos, ampliará suas instalações e não terá reveses importantes, imaginam que é uma boa opção para investir e lucrar. Muitos fazendo isso, o valor da empresa sobe. E, com esse aumento de valor, a empresa tem mais dinheiro para aplicar nos seus projetos, realizando os seus objetivos e, afinal, confirmando as expectativas dos acionistas.O contrário também ocorre. Se uma empresa perde credibilidade, todos fogem, e como a oferta de ações é maior do que a demanda, seu valor cai, a empresa fica sem capital para investir, acumula resultados negativos e confirma na prática as previsões negativas.Embora a economia global seja bem mais complexa do que isso, fazendo até com que a moeda de um país em descrédito seja valorizada (a razão é que empresas e pessoas desse país precisam repatriar capitais que estavam no estrangeiro, para socorrer suas sedes em crise, elevando a demanda por sua moeda, mesmo que só por algum tempo), é fato esse conceito de que o observador influencia fortemente no seu comportamento. Temos um exemplo disso agora. Com todos falando em crise econômica mundial, a crise se agrava cada vez mais, pois pessoas e empresas temem investir e contratar, e essa falta de investimentos reduz o mercado de trabalho e o faturamento de outras empresas. O desemprego reduz o tamanho do mercado consumidor, os produtos ficam encalhados nas prateleiras, começa a faltar dinheiro para a empresa pagar fornecedores e bancos, ela quebra e quem tinha acreditado nela fica no prejuízo. A recessão se generaliza.Os Estados Unidos, ao entrarem em crise, poderiam ser só um ponto negativo isolado numa economia global. Porém, apresentando o problema como sendo mundial e não apenas da economia combalida desse país, conseguiram puxar o resto do mundo para seu redemoinho. Ao mesmo tempo, as multinacionais em crise forçam as filiais a ampliarem a repatriação de capitais para socorrer suas matrizes estadunidenses, elevando por algum tempo o valor cambial do dólar e dificultando a realização de investimentos em áreas realmente produtivas de outros países, que são assim arrastados para a crise.Pense o leitor: se lhe parece haver crise, então ela existe, e você contribui para agravá-la. Comece a falar em soluções, como nós, e ela desaparecerá. Mas faça isso rápido: é o seu dinheiro e o seu emprego que estão em jogo...

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

PIRÂMIDES OU MEGA - FRAUDES ?


17 DEZ 08 - Caso Madoff: SEC fará investigação interna

A Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (Securities Exchange Commission, ou SEC, o órgão americano que fiscaliza o mercado de capitais) ordenou uma investigação interna para apurar porque a fraude bilionária do financista Bernard Madoff não foi detectada antes.A SEC admitiu que recebeu repetidamente alegações "confiáveis" e "precisas" sobre as práticas comerciais de Madoff desde 1999.Além de examinar as alegações feitas no passado, a investigação também vai se concentrar nas relações entre funcionários da comissão e a família Madoff.Acredita-se que o financista estava à frente do que está sendo considerado o maior esquema "pirâmide" do mundo, no valor de US$ 50 bilhões.Madoff, preso na quinta-feira passada, gerenciava um fundo que pagava juros anunais de cerca de 10%, mas promotores afirmam que, na verdade, ele usava dinheiro de novos investidores para pagar os antigos.Bancos e instituições financeiras de várias partes do mundo tinham investimentos com o financista, mas ainda não se sabe o total de perdas sofridas no esquema.Entre eles estão os bancos espanhóis Santander e BBVA, o banco francês BNP Paribas, Royal Bank of Scotland, HSBC e Nomura, do Japão.Ricos investidores privados e organizações beneficentes também estão entre as vítimas do esquema de Madoff - inclusive a fundação Wunderkinder, do diretor de cinema Stephen Spielberg.
16 DEZ 08 Brasileiros foram vítimas de Madoff
LEANDRO MODÉ E MÔNICA CIARELLI - Agencia Estado

SÃO PAULO E RIO - A maior fraude da história do sistema financeiro dos EUA alcançou também o Brasil. Desde sexta-feira, dispararam as consultas de investidores a escritórios de advocacia. Eles querem saber se podem recorrer à Justiça, no exterior, para recuperar recursos aplicados em fundos geridos pelo americano Bernard Madoff. Ele foi preso na quinta-feira, em Nova York, acusado de comandar um esquema de pirâmide cujos prejuízos globais são estimados em US$ 50 bilhões. De lá para cá, pipocam no mundo todo informações sobre pessoas físicas e instituições financeiras e de caridade que tinham dinheiro investido nos produtos de Madoff.Ex-presidente da bolsa eletrônica Nasdaq, o gestor, de 70 anos, era uma lenda de Wall Street. Os fundos administrados por ele eram conhecidos por seu desempenho constante, sem grandes oscilações. São pelo menos dois os canais por meio dos quais os investidores brasileiros se expuseram à fraude. Um deles é o Fairfield Greenwich Group, que se define, na página na internet, como especialista na aplicação em ativos alternativos. Segundo o site, o grupo tem uma representante no Brasil, Bianca Haegler, que não foi encontrada pela reportagem do jornal O Estado de S. Paulo.Em comunicado aos clientes, o Fairfield informou que, dos US$ 14,1 bilhões sob a sua administração, aproximadamente US$ 7,5 bilhões estavam aplicados em veículos financeiros ligados a Madoff. O jornal tentou contato com a assessoria de imprensa do grupo, que fica nos Estados Unidos, mas não obteve retorno.O outro canal de transmissão para o Brasil já conhecido é o private banking, segmento voltado para clientes de alta renda, do grupo espanhol Santander. A área de private banking para América Latina, localizada em Miami, tem vários clientes brasileiros. Segundo uma fonte, muitos aplicaram recursos em fundos de Madoff oferecidos pelo Santander. Diferentemente do que ocorre no Brasil, no exterior é comum uma instituição financeira oferecer produtos de marcas diversas. O Santander divulgou um comunicado no fim de semana no qual admite uma exposição de 2,33 bilhões de euros a fundos geridos por Madoff.A maior parte do dinheiro - 2,01 bilhões de euros - pertence a investidores institucionais e clientes do private banking internacional. O restante integra carteiras de investimento de clientes do private banking na Espanha. Procurado pelo jornal O Estado de S. Paulo, o Santander informou que não vai se pronunciar especificamente sobre clientes brasileiros.CVM?Não vejo absolutamente nada parecido com isso por aqui. Espero não estar enganada.? Com essa afirmação, a presidente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), Maria Helena Santana, descartou um possível rescaldo para o Brasil do escândalo Madoff.Maria Helena fez questão de enfatizar que, até ontem, não obteve informações mais técnicas sobre o assunto e apenas leu reportagens publicadas em agências de notícias.?É assustador o que saiu (na imprensa). Gente muito, muito qualificada que teria perdido US$ 1,5 bilhão. Então, não é nenhuma brincadeira. Acho que é uma fraude muito bem feita?, afirmou.Segundo ela, o Brasil não deve sofrer rescaldo do caso Madoff porque os fundos do ex-presidente do Nasdaq preso não operavam no País. ?Não tenho como falar muito sobre disso. (..) Eu li todas as matérias, fiquei virando de ponta a cabeça e não consegui entender como uma pirâmide pode fraudar investidores tão qualificados.? As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
16 DEZ 08 Investidores 'caem' em fraude de ex-presidente da Nasdaq
Bernard Madoff é acusado de criar 'pirâmide' com dinheiro de bancos e empresas.

- Alguns dos maiores investidores do mundo teriam sido vítimas de uma fraude de US$ 50 bilhões (cerca de R$ 120 bilhões) aplicada pelo ex-presidente da Nasdaq, Bernard Madoff. O banqueiro de 70 anos foi preso na quinta-feira, um dia depois que teria confessado a pelo menos três empregados que uma de suas empresas, que negociava fundos hedge, era na realidade um "esquema de pirâmide". Entre seus clientes, estariam o banco espanhol Santander e o francês BNP Paribas, além de investidores particulares como o principal dono do time de beisebol New York Mets, Fred Wilpon. Na sexta-feira, um juiz federal apontou um especialista para supervisionar as contas de clientes e os bens das empresas de Madoff. Ele foi libertado após pagar uma fiança de US$ 10 milhões (cerca de R$ 24 milhões). 'Últimos milhões' Madoff fundou a firma de investimentos Bernard L. Madoff Investment Securities em 1960, e mantinha também uma empresa de negociação de fundos hedge. Segundo a queixa registrada na corte pelo procurador-geral dos Estados Unidos, o banqueiro teria dito a empregados que a empresa - que administrava cerca de US$ 17 bilhões (aproximadamente R$ 40,8 bilhões) - era uma fraude e estava insolvente há anos, em um prejuízo de US$ 50 bilhões. Há informações de que ele teria confessado sua intenção de se entregar às autoridades, mas só depois de usar seus últimos US$ 200 milhões a US$ 300 milhões (de R$ 480 milhões a R$ 729 milhões) para pagar "alguns empregados, familiares e amigos". "Ele declarou que estava 'acabado', que não tinha 'absolutamente nada', que 'tudo foi apenas uma grande mentira' e que se tratava 'basicamente de um grande esquema Ponzi'", diz o documento. O esquema, também conhecido como "pirâmide", consiste em pagar rendimentos a investidores usando o dinheiro aplicado por clientes mais recentes. Promotores americanos dizem que, se Madoff for condenado, poderá pegar até 20 anos de prisão, além de pagar uma multa de até US$ 5 milhões. BBC Brasil

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Os líderes de reclamações.



Produtos, assuntos financeiros e serviços são os primeiros em ranking dos Procons
De acordo com o Cadastro nacional de Reclamações Fundamentadas 2008, divulgado pelo Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor (DPDC), as áreas que tiveram mais reclamações foram a de produtos, com 61.041, assuntos financeiros, com 15.175, e serviços essenciais, com 12.925. Em produtos, aparelhos de telefones celulares respondem por 56,1% do total de reclamações registradas e consideradas procedentes pelos Procons estaduais. Já entre os assuntos financeiros, os cartões de crédito são os vilões, com 39,6% das reclamações. A telefonia, fixa e móvel, também tem altos níveis de reclamações - é responsável por 75,5% das queixas relacionadas a serviços essenciais.

Segundo o diretor do DPDC, Ricardo Morishita, tão importante quanto o número de reclamações que uma empresa recebe é quantas dessas são atendidas ou não. Nesse ponto, novamente os celulares lideram o ranking negativo. Siemens, Pantech Brasil Comercialização de Celulares Ltda e Gradiente são as três primeiras da lista de empresas que não atendem as queixas dos consumidores, com 45,6%, 41,5% e 38,4% de reclamações não atendidas, respectivamente. Em seguida, vem a empresa de telefonia móvel Oi, com 37% das queixas ignoradas, e Banco Itaucard, com 36,8%, fechando o ranking das cinco primeiras.

"Trocando em miúdos, se um consumidor levar um produto da Siemens, ele tem 45% chance de ter a sua queixa não atendida caso haja algum problema, mesmo com a interferência do Procon", explica Morishita. "Isso serve para balizar a escolha do consumidor ao adquirir um produto", completa. Segundo ele, esse tipo de cadastro serve também para influenciar as políticas públicas e as ações de fiscalização das agências reguladoras. "Quando não atende a uma reclamação, a empresa pode sofrer várias sanções, como multas", explicou o diretor do DPDC.

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Produtores rurais brasileiros perdem batalha da dívida



Emerson Spigosso, um agricultor de 34 anos do Estado do Mato Grosso, não sabe como pagar suas dívidas."O banco veio levar minhas ceifeiras-debulhadoras, mas não as encontrou", ele disse. "Então ele executou minha dívida na Justiça. Eu não tenho como pagar."Como muitos agricultores locais, Spigosso investiu em terras e maquinário no início desta década, à medida que o Brasil ganhava proeminência como fornecedor mundial de soja e outros alimentos.Mas seca, pragas, a valorização da moeda e a péssima infra-estrutura minaram as vantagens que os produtores rurais do Mato Grosso usavam contra os concorrentes nos Estados Unidos, Argentina e no Sul do Brasil.Agora o arrocho mundial de crédito transformou suas dificuldades em uma crise. Os bancos estão retomando a posse de maquinário agrícola. O crédito para fertilizantes e outros insumos secou. A produção de soja no Estado provavelmente cairá 10% neste ano, dizem os produtores rurais. No próximo ano, ela poderá cair em dois terços.Até recentemente, os produtores rurais do Mato Grosso tinham pouco do que se queixar. Entre 1990 e 2004, a quantidade de terras cultivadas no Estado mais que quadruplicou, de 1,9 milhão para 8,6 milhões de hectares - uma área maior que a Áustria. Hoje, o Mato Grosso produz 30% da soja no Brasil, ou 8% da produção mundial total.Mas no período de 2004-2005, as coisas começaram a dar errado. Duas safras consecutivas foram atingidas por seca e praga. A moeda brasileira se valorizou constantemente frente ao dólar americano, minando os lucros dos produtores rurais.Essas dificuldades expuseram outras. Os produtores rurais no Mato Grosso estão a mais de 2 mil quilômetros dos portos de Santos e Paranaguá, e a 1.500 quilômetros de Porto Velho, um porto em um afluente do Rio Amazonas que, por sua vez, fica a 1.900 quilômetros da costa do Atlântico. Grande parte da produção é transportada por estradas horríveis em caminhões com dois reboques, um sistema altamente ineficiente. Segundo a Agroconsult, uma consultoria em agronegócio, neste ano custará US$ 106 por tonelada para transporte da soja do Mato Grosso ao porto, em comparação a uma média de US$ 30 nos Estados Unidos.Com o acúmulo das dificuldades, muitos produtores rurais se endividaram profundamente. O financiamento subsidiado para maquinário agrícola, por exemplo, é fornecido pelo BNDES, o banco nacional de desenvolvimento do Brasil, canalizado pelos bancos comerciais e outros dirigidos por empresas como John Deere e Case New Holland, que arcam com o risco do não pagamento.A maioria dos empréstimos é quitado ao longo de cinco anos. Quando os produtores rurais enfrentaram dificuldades em 2005, o governo determinou que as prestações que venceriam naquele ano poderiam ser pagas em 2010. Depois disse que as prestações que venceriam em 2006 poderiam ser pagas em 2011. Em 2007, ele disse que os produtores rurais deviam pagar 15% de suas dívidas, e o restante em 2012. Neste ano, ele disse que os produtores rurais tinham que pagar 40%, e o restante em 2013.No Mato Grosso, na semana passada, o FT falou com 26 produtores rurais, sendo que apenas um conseguiu pagar os 40% que devia neste ano, vendendo terras. O governo forneceu R$ 500 milhões em crédito para ajudar no pagamento dos empréstimos para maquinário, mas a maioria não pode usá-lo porque não dispõe de nenhuma caução.A situação de Spigosso é típica. Ele comprou uma ceifeira-debulhadora em 2001 por R$ 220 mil e outra em 2003, por R$ 280 mil. Devido aos juros acumulados, a dívida sobre suas duas máquinas passou para R$ 800 mil, enquanto o valor das máquinas caiu para menos da metade desse valor.O governo forneceu uma linha de crédito rural extra de R$ 13 bilhões neste ano mas, como os empréstimos para maquinário, poucos produtores rurais no Mato Grosso podem usá-lo. Ana Laura Menegatti da MB Agro, uma consultoria de agronegócio em São Paulo, disse que dos R$ 49 bilhões disponíveis para financiar o plantio deste ano antes do financiamento de emergência, apenas R$ 18,5 bilhões foram de fato emprestados a agricultores de todo o país. "Os bancos não gostam de risco e há burocracia demais, de forma que muito pouco financiamento chega aos agricultores", ela disse.A situação se agravou neste ano porque grandes empresas de agronegócio como Bunge, ADM e Cargill estão emprestando muito menos para os produtores rurais do que de costume. Luis Carlos Guedes, vice-presidente de agronegócios do Banco do Brasil, um banco controlado pelo governo, disse que grandes traders fornecem cerca de metade do crédito agrícola no Mato Grosso e que recuaram fortemente devido ao arrocho de crédito.Ele disse que o governo deveria quebrar o ciclo de adiamento interminável dos pagamentos ao crédito subsidiado, que custa cerca de R$ 4 bilhões por ano, e gastar o dinheiro em instrumentos para garantir uma renda mínima para os produtores. Isso daria aos bancos a segurança que precisam para emprestar.Edílson Guimarães, secretário de política agrícola do Ministério da Agricultura, disse que a proposta faz sentido, mas que o governo tem problemas de curto prazo, como o acúmulo de dívidas ativas, com os quais tem que lidar primeiro.Como colocou um produtor rural do Mato Grosso, a proposta do Banco do Brasil é "a solução dos nossos sonhos". Mas enquanto os recursos continuam não disponíveis, a situação difícil dos produtores rurais só pode se agravar. Tradução: George El Khouri Andolfato
Visite o site do Financial Times

domingo, 7 de dezembro de 2008

Para que servem os analistas?


Milhões perderam seu dinheiro seguindo o conselho de economistas, gurus, magos e profetas - ninguém viu o tamanho da crise financeira que abala o mundoParece que foi num passado distante, mas há apenas seis meses uma espécie de euforia coletiva tomou conta do mercado acionário brasileiro. Para a premiada equipe de análise do banco de investimento UBS Pactual, as ações de empresas brasileiras eram uma pechincha em maio de 2008. As razões para tanto otimismo eram de uma clareza científica. As economias de países emergentes, como se sabia, descolavam-se do desempenho dos países ricos. O Brasil havia acabado de receber o tão sonhado selo de país com grau de investimento, e o investidor estrangeiro invadiria a bolsa local na nova fase. A expansão do crédito garantia dinheiro a todos, dos compradores de carros àqueles que financiavam seu primeiro apartamento. O futuro, portanto, sorria para a bolsa brasileira. O UBS Pactual, então, cravou sua previsão para o fim do ano. O Índice Bovespa, que reúne as principais empresas do país e estava em seu recorde histórico, de 70 000 pontos, chegaria a 85 000 pontos até o fim de dezembro. Entre as dez empresas que se destacariam no período estavam as varejistas Lojas Americanas e B2W, bancos e companhias do setor imobiliário. Por alguns dias, a coisa pareceu fazer um baita sentido. A bolsa brasileira continuou subindo até meados de maio - quando começou a descer a ladeira e não parou mais. Quem acreditou no sonho do "Ibovespa 85 000" perdeu dinheiro de gente grande. Das ações recomendadas, todas caíram até o fim de novembro. A que caiu menos despencou 50%. A pior, a construtora Rossi, perdeu mais de 80% do valor de mercado desde então. E o Índice Bovespa rastejava em 34 000 pontos no dia do fechamento desta edição. A projeção se provou errada da premissa à conclusão. Esse, infelizmente, é apenas um exemplo do circo de horrores que vem sendo o trabalho dos analistas do mercado financeiro em 2008. Seguir recomendações de oráculos das finanças tem sido um péssimo negócio. Não importa se essas avaliações vêm de economistas agraciados com o prêmio Nobel, magos das planilhas ou investidores bilionários. A crise financeira global varreu do mundo trilhões de dólares em investimentos e levou junto a reputação de analistas econômicos de toda espécie. O macho alfa da turma, o apresentador de TV americano Jim Cramer, destacou-se nos últimos meses por sua capacidade de errar bisonhamente. Em outubro, quando o índice Dow Jones ficou abaixo de 10 000 pontos, Cramer berrou: "Peguem todo o seu dinheiro e comprem ações! Agora!". No dia seguinte, o índice caiu outros 500 pontos - no final de novembro, beirava os 8 000 pontos, queda de 20% em relação ao fundo do poço identificado por Cramer. Por onde se olhe, pipocam exemplos de trapalhadas de calibre semelhante feitas por iluminados que deveriam entender do que estavam dizendo. O analista Arjun Murti, do Goldman Sachs, virou celebridade ao prever, em 2005, que o barril de petróleo atingiria 100 dólares. Pois em maio o "Sr. Petróleo", como é (ou era) chamado, olhou em sua bola de cristal e viu o futuro - o barril subiria para entre 150 e 200 dólares no curto prazo. Hoje, compra-se um barril abarrotado de petróleo por 50 dólares ou menos. A verdade é que os mais bem pagos analistas do mundo estão, essencialmente, tão perdidos em meio à crise quanto qualquer um de nós. O futuro atrapalhou No Brasil, porém, ninguém errou tão feio - e com conseqüências tão dramáticas para milhões de pessoas - quanto os "especialistas" em ações. Esses profissionais estudam uma empresa, avaliam suas perspectivas futuras e dizem se os investidores devem comprar suas ações ou vendê-las, estipulando um preço-alvo para os próximos 12 meses. Nos últimos anos, os analistas brasileiros foram de um otimismo contagiante. Segundo um levantamento da agência Bloomberg, 55% dos mais de 7 000 relatórios disponíveis no mercado no início do ano recomendavam a compra de ações de empresas brasileiras. E míseros 3,8%, a venda. Os outros 41% recomendavam a misteriosa "manutenção" (mais sobre ela depois). Nos meses seguintes, a Bovespa e suas principais ações atingiriam seu pico histórico. Acertar o momento em que o mercado atinge o ápice é praticamente impossível. Mas, com as nuvens negras se aproximando da maior economia do mundo, não seria prudente orientar os investidores a embolsar o lucro dos anos anteriores? A proporção de recomendações de compra, porém, manteve-se inalterada durante o ano todo. E quem comprou ações em 2008 perdeu, e muito. Empresas como Vale, Petrobras e Gerdau perderam cerca de 50% de seu valor de mercado no ano. Mas essa é a parte amena da história. Ações de companhias como Agrenco, Tenda e Inpar, recomendadas pelos analistas no início do ano, desvalorizaram-se mais de 90%. Em alguns casos, a diferença entre o preço-alvo estipulado pelo analista e a cotação em novembro ultrapassou os 500%. Parece uma oportunidade de ouro. Mas, na verdade, números dessa magnitude indicam um micaço que havia sido vendido como barbada. Nos últimos quatro anos, os investidores brasileiros foram apresentados a um fenômeno muito conhecido em mercados financeiros mais maduros - o excesso de otimismo dos analistas de ações. Como se vê pelos números do parágrafo anterior, é praticamente impossível encontrar recomendações de venda em relatórios. E a razão para isso é uma mistura potencialmente explosiva de conflitos de interesses que envolve o trabalho desses profissionais. Para que servem os analistas? Eles são funcionários de bancos e corretoras, pagos para orientar clientes a investir (alguns são muito bem pagos. Analistas seniores podem ganhar até 2 milhões de dólares num bom ano). Cada analista pode cobrir mais de 15 empresas. O problema é que, como os relatórios são distribuídos de graça aos clientes, a análise de ações não gera um tostão de receita para os bancos. Os empregadores podem, então, ganhar de duas formas com o trabalho dos analistas. A primeira é gerando negócios diários para suas corretoras, o que começa a explicar a mania de recomendar a compra de ações de maneira frenética. É na segunda forma, porém, que as coisas começam a se complicar um pouco mais. Uma das maiores fontes de receitas de bancos é a assessoria a empresas em processos de abertura de capital, emissões de dívida ou fusões e aquisições. E essas empresas são cobertas pelos analistas. "Bancos querem fazer negócios com empresas de capital aberto", diz Ricardo Rochman, professor da Fundação Getulio Vargas e um dos poucos pesquisadores brasileiros que estudam o desempenho de analistas. "Fazer uma cobertura favorável dessas empresas é um passo essencial para conseguir isso." A influência desse conflito na qualidade das recomendações dos analistas foi estudada a fundo nos Estados Unidos - e o resultado não é nada bom. Um estudo de Harvard com 50 000 relatórios mostra que os bancos são muito mais otimistas com empresas que usam seus serviços com freqüência. Durante ondas de aberturas de capital, quando bancos lucram alucinadamente levando empresas à bolsa, esse viés atinge seu patamar máximo. Uma pesquisa da Universidade Cornell aponta que os bancos que coordenaram o IPO de uma empresa são péssimos na hora de avaliar o desempenho futuro da ação. Eles sempre erram para cima. De acordo com o estudo, o nível de erro dos analistas desses bancos chega a 50% em comparação às projeções de outras instituições. Há duas razões possíveis para isso. Segundo uma teoria, os bancos mais otimistas ganham os mandatos de abertura de capital, já que eles prometem aos empresários que irão à bolsa um valor maior que o oferecido pelos concorrentes. A outra tese é mais maldosa - os banqueiros simplesmente prometeriam ao cliente uma cobertura favorável para ganhar o mandato. Há muito a perder num caso de "excesso de independência". O Merrill Lynch estava na disputa pelo mandato da petrolífera OGX, de Eike Batista. Mas Frank McGann, analista de energia do banco, não concordou com o preço estipulado por seus colegas. Os banqueiros temeram que ele recomendasse a venda das ações assim que iniciasse a cobertura e desistiram do negócio. O Merrill Lynch deixou de ganhar 40 milhões de dólares. "Você tem de aplaudir quando isso acontece", diz André Gordon, fundador da GT Investimentos. Conselho de inimigo A onda de IPOs brasileiros está repleta de casos que levantam dúvidas sobre o trabalho dos bancos de investimento (veja quadro acima). Todos eles foram vendidos pelos analistas com perspectivas de ganhos enormes, mas se provaram um mau investimento. Das 115 empresas que foram à bolsa desde 2004, 99 valem hoje menos do que valiam no dia do IPO. "Houve análises indecentes nesse período", diz Aquico Wen, diretor do fundo americano Legg Mason. O incidente mais polêmico envolveu a companhia do agronegócio Agrenco. O Credit Suisse, banco que levou a empresa à bolsa, recomendava em maio a compra das ações da Agrenco, indicando preço-alvo de 19 reais. Enquanto isso, a instituição se desfazia de ações da empresa. Pouco depois da divulgação do relatório, os donos da Agrenco foram presos e as ações caíram até chegar a 22 centavos em novembro. Mais uma vez, a relação dos bancos com as empresas de Eike Batista fornece dados interessantes. Na abertura de capital de suas três empresas (MMX, OGX e MPX), Eike pagou aos bancos quase 400 milhões de reais em comissões. Até hoje, a cobertura de suas empresas é amplamente otimista entre os bancos que ganharam esse dinheiro todo - isso apesar da queda superior a 80% das ações de todas elas no ano. Apenas o Itaú rebaixou a recomendação de MPX e OGX para neutro. Os outros bancos mantêm sua fé no toque de midas de Eike Batista, mesmo que a diferença entre os preços-alvo e a realidade continue aumentando. "Os analistas conhecem a verdade", diz Lucy Souza, presidente da Associação dos Analistas e Profissionais de Investimento do Mercado de Capitais (Apimec) de São Paulo. "Mas, para proteger seus empregos, não diziam o que achavam e acabavam esticando os preços." O que torna esses conflitos mais perigosos é o fato de que o pequeno investidor não está atento à sua existência. Segundo uma pesquisa feita nos Estados Unidos, 87% dos investidores institucionais vêem um viés excessivamente otimista no trabalho dos analistas - e conseguem dar o desconto necessário na hora de seguir ou não suas recomendações. De acordo com um estudo da Universidade da Califórnia, em Berkeley, grandes fundos compram moderadamente após recomendações de "forte compra", mas não seguem recomendações de compra. Já os pequenos investidores reagem imediatamente a todas as recomendações. Um dos motivos para isso, segundo os pesquisadores, é um problema de comunicação. Relatórios são escritos num código específico, feito para ser entendido por seu público-alvo, os grandes investidores. Com o passar dos anos, ficou combinado entre eles que uma recomendação de manutenção é uma forma educada de dizer: "Venda esta ação". Dessa maneira, o analista evita enraivecer a administração da empresa que cobre, o que poderia atrapalhar seu trabalho de coleta de informações e, também, os possíveis negócios do banco com a empresa. Quase 80% dos gestores de fundos americanos entendem dessa maneira. Já os pequenos entendem o "manter" como, bem, manter mesmo - ou seja, quem não tem a ação não deve comprar; e quem tem não deve vender. Analistas comemoram quando rebaixam uma ação para "manter" e o papel cai 50% em alguns meses. Pequenos investidores não conseguem entender de onde veio a pancada. "O trabalho deles não é feito para gente ingênua", diz o professor Ravi Jagannathan, especialista em finanças da Universidade Kellogg. Os pré-analistas No Brasil, os principais clientes dos bancos e das corretoras são os fundos estrangeiros, que não contam com equipes dedicadas à análise de ações brasileiras e, muitas vezes, têm perfil de investimentos de curto prazo. "Eles são úteis para captarmos a percepção do mercado", diz o diretor de um fundo estrangeiro no Brasil. "Leio todos os relatórios e converso diariamente com meus analistas favoritos, mas depois eu mesmo decido o que fazer com o dinheiro, sem prestar muita atenção no preço-alvo." Se têm um grande mercado nos gestores de hedge funds, por exemplo, os analistas encontram desprezo absoluto de investidores que pensam no longo prazo. O mais famoso deles é Warren Buffett, o homem mais rico do mundo, que ignora a fábrica de projeções que é o mercado financeiro. Buffett cunhou a famosa frase "Wall Street ganha dinheiro com a atividade. Você ganha dinheiro com a inatividade". Ou seja, investindo e esquecendo que os analistas existem. E a outra: "Wall Street é o único lugar para onde as pessoas vão de Rolls-Royce pedir conselhos a quem pega metrô". O desempenho dos analistas brasileiros chamou a atenção da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A autarquia pretende endurecer a regulação sobre o trabalho deles. "Detectamos um problema de falta de independência e qualidade", diz Carlos Alberto Rebello, superintendente da CVM. Alguns bancos já começaram a modificar seus departamentos de análise. O Itaú, por exemplo, instituiu que o número mínimo de recomendações de venda tem de ficar entre 20% e 30% do total. Antes, o número não chegava a 8%. Goldman Sachs e Merrill Lynch adotaram política semelhante recentemente. "Se nossa função é servir ao investidor, isso tinha de mudar", diz Ricardo Araújo, diretor de análise da Itaú Corretora. Depurações são comuns após momentos de excessos. Depois da explosão da bolha da internet, os departamentos de análise dos bancos de investimento passaram por uma transformação muito mais dramática. Durante a bolha, as análises feitas pelos bancos eram tão escandalosamente favoráveis às empresas clientes que os analistas se tornaram alvo de uma investigação liderada pelo então procurador Elliot Spitzer (que depois se tornou governador e se viu envolvido em escândalos de outra natureza). Foram encontrados e-mails internos em que analistas desmentiam as próprias análises. Os maiores bancos em operação nos Estados Unidos foram forçados a pagar uma multa de 1,4 bilhão de dólares em razão de suas análises distorcidas e tiveram de criar sistemas de controle para tentar evitar que o trabalho dos banqueiros de investimento contaminasse as projeções. Em defesa dos analistas, é preciso dizer que eles não são o primeiro elo da cadeia de previsões econômicas que levou os investidores a afundar em 2008. Em seus cálculos para chegar ao que consideram o valor adequado de uma ação, dados como projeções de taxas de juro nos próximos anos, câmbio e crescimento econômico são de importância fundamental. "Antes de me criticar, você deveria perguntar ao departamento de macroeconomia do banco por que eles erraram do jeito que erraram", diz o diretor de análise de um dos maiores bancos de investimento do país. Em janeiro, as instituições consultadas pelo boletim Focus do Banco Central previam o dólar a 1,80 real no fim do ano. No fim de novembro, a moeda americana oscilava entre 2,30 e 2,40 reais - diferença suficiente para bagunçar qualquer projeção. O samba do analista doido de 2008 serviu para mostrar a fragilidade dos modelos de previsão do futuro usados por economistas, analistas, grafistas e o resto da patota. Futurólogos do passado usaram diversos equipamentos para prever o que vinha por aí. Nostradamus dizia ver o futuro numa bacia de água. Os antigos usavam as entranhas de animais mortos para pressentir o que se avizinhava. Não há dúvida de que os modelos econômicos são muito mais complexos que 1 litro e meio de água do poço. O problema é que, por mais sofisticados que sejam, esses modelos não conseguem antever as mudanças que as decisões de bilhões de pessoas podem causar ao ambiente econômico. "Nós nunca teremos um modelo de risco perfeito", escreveu recentemente o ex-presidente do banco central americano Alan Greenspan, explicando por que foi tão difícil prever o tamanho da atual crise financeira. "Infelizmente, a economia é uma ciência social, embora os economistas finjam que não é", diz Jim O’Neill, economista-chefe do Goldman Sachs, criador do termo Bric e futurólogo incorrigível. "Nós gostamos de achar que sabemos mais que os outros, mas esse claramente não é o caso." Um dos problemas clássicos das previsões econômicas é a tendência de tratar o futuro como uma continuação das atuais regras do jogo. Assim, é praticamente impossível para um analista recomendar a venda de uma ação que só sobe há quatro anos. Durante a bolha da internet, os mais deslumbrados com a exuberância irracional achavam que a bolsa continuaria subindo indefinidamente - o livro Dow 36 000 foi um marco nesse aspecto. As previsões do Clube de Roma, grupo de cabeças notáveis que se reuniram no fim da década de 60 para discutir o futuro, são um exemplo desse tique. Na época, o consumo de matérias-primas vinha crescendo mais rapidamente que a oferta. Os notáveis concluíram que o fenômeno se perpetuaria, causando fome, pânico e crise em escala global. De certa maneira, ecoaram as previsões do pensador inglês Thomas Malthus. Segundo Malthus, a população mundial cresceria em progressão geométrica, enquanto a produção de alimentos evoluiria em progressão aritmética. Claro, sabe-se que não foi o que aconteceu. Os futorólogos do Clube de Roma (e muito menos Malthus) não anteviram a revolução alimentar da segunda metade do século 20 porque era simplesmente impossível. Isso porque fenômenos transformadores são quase sempre imprevisíveis. Não há entranha animal que faça mágica. Finalmente, economistas têm um forte incentivo a se manter dentro do consenso do mercado, principalmente em momentos menos voláteis. Analistas de ações, inclusive, manipulam o modelo financeiro para fazer sua projeção caber dentro da média estipulada por seus concorrentes. "Quem erra sozinho fica estigmatizado e corre o risco de perder o emprego", diz o analista de mineração de um banco estrangeiro. Parafraseando o economista inglês John Maynard Keynes, pode-se dizer que é melhor estar meio errado do que arriscar estar totalmente certo. Claro, essa tendência universal de se esconder no meio da manada faz com que economistas do contra ganhem imensa popularidade durante uma crise que ninguém previu (ou quis prever). O popstar econômico da vez é Nouriel Roubini, o "Sr. Catástrofe", que teve a fama catapultada por ter previsto que a bolha imobiliária americana se transformaria numa crise sistêmica. Não é a primeira vez que isso acontece. Em 1928, Charles Merrill, fundador do Merrill Lynch, enviou uma carta a seus investidores em que recomendava vender ações e pagar suas dívidas. Merrill viu que o mercado iria virar. Em 1987, a economista Elaine Garzarelli, do Lehman Brothers, anunciou o iminente colapso da bolsa. Acertou em cheio e virou celebridade. O problema para esses gurus da catástrofe é que suas novas previsões são colocadas no microscópio - e, claro, eles erram com freqüência desconcertante. A Elaine Garzarelli pós-1987 é um caso simbólico. O estudo de suas projeções mostrou uma absoluta incapacidade de prever para onde o mercado iria. Suas previsões estavam certas apenas 38% das vezes. Acabou demitida em 1994. Se cuida, Roubini. "O mercado enfrentará um período de muita volatilidade. Quando a confiança voltar, os investidores respirarão e voltarão às compras, de olho nas pechinchas. O risco, porém, é que uma recessão longa demais atrapalhe os resultados das empresas, pressionando as ações no médio prazo." Previsões como essa são tão comuns e ineficazes quanto prognósticos sobre a próxima rodada do Campeonato Brasileiro. Isso porque ignoram a palavrinha mais importante de todas - "quando". Nostradamus era um mestre na matéria. Nenhuma de suas centúrias indica quando se tornará realidade (seria muito dar uma idéia do milênio, ao menos?). O alemão Karl Marx previu que o capitalismo seria inexoravelmente substituído pelo comunismo. Mas não deu data. É por isso que os dons premonitórios de Nouriel Roubini devem ser colocados em seu devido contexto. O economista vem prevendo uma catástrofe americana desde o início da década. Quem acreditou nele há cinco anos e colocou seu dinheiro embaixo do colchão deixou de aproveitar um dos maiores ciclos de alta de que se tem notícia. "Em qualquer momento da história vai ser possível encontrar alguém dizendo que o caos vem aí", diz o economista Eduardo Gianetti da Fonseca, do Ibmec. E, como a única certeza que se tem é que um ciclo de alta será seguido de um ciclo de baixa e vice-versa, o catastrofista acaba acertando uma hora ou outra. Se economistas e analistas erram tanto, por que insistimos em ouvir suas previsões e atribuir a elas um caráter científico? (Os jornalistas de EXAME são réus confessos no caso.) Uma história ajuda a ilustrar a resposta. Durante a Segunda Guerra Mundial, o economista americano Kenneth Arrow (que ganharia um Nobel em 1972) foi convocado para liderar um grupo de pesquisadores. A missão era prever as condições meteorológicas nos campos de batalha com um mês de antecedência. Os estatísticos do grupo logo perceberam que as previsões não tinham o menor valor - ou seja, não eram diferentes de um chute qualquer. O grupo mandou um relatório a seus superiores informando que não enviaria as inúteis previsões. Veio, então, a resposta. "O comandante-geral sabe que as previsões não são boas. No entanto, ele precisa delas para fins de planejamento." Tomamos decisões baseadas em previsões o tempo inteiro. Aceito aquela oferta de emprego? Devo ter filhos agora? Faço um financiamento? As empresas dependem de cenários para tomar decisões de investimento, contratações ou aquisições. Governos precisam de previsões para formular políticas. E o mercado financeiro usa expectativas para sua formação de preços. O futuro, portanto, vale muito dinheiro. "Previsões econômicas constituem parte vital do dia-a-dia de empresas e famílias", diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco. Diante das incertezas que o futuro apresenta, é preciso avaliar os cenários, assumir o risco e decidir. Ou seja, apesar da crise atual, os economistas vão seguir tentando adivinhar o que vai acontecer. Os analistas continuarão recomendando ações. E empresários, jornalistas e consumidores continuarão levando essas previsões a sério - essa é a única previsão que esta reportagem se arrisca a fazer.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

Economia dos Estados Unidos em recessão


É oficial: economia dos Estados Unidos está em recessão há um ano
Apesar dos sinais claros de queda econômica há meses, o Escritório Nacional de Pesquisa Econômica, responsável por determinar quando os EUA entram e saem de recessões, esperou até hoje para anunciar a recessão
por Agência Estado.
Washington. É oficial. A economia dos Estados Unidos está em recessão já há um ano. As evidências estavam claras há meses, com a queda na produção, salários congelados e milhares de demissões. Contudo, o Comitê de Datação dos Ciclos de Negócios do Escritório Nacional de Pesquisa Econômica, responsável por determinar quando os EUA entram e saem de recessões, esperou até esta segunda-feira (1) para anunciar a recessão.

Em um documento divulgado nesta segunda-feira, o instituto declarou que a recessão começou em dezembro de 2007, encerrando um período de expansão econômica iniciado em novembro de 2001.

"Uma recessão é um declínio significativo na atividade econômica espalhada pela economia, durando mais do que alguns meses, normalmente visível na produção, no emprego, na renda real e em outros indicadores", diz o comunicado. Ele acrescenta que "o comitê identificou dezembro de 2007 como o mês de pico, depois de determinar que o declínio subseqüente na atividade econômica foi suficientemente grande para qualificar-se como uma recessão".

De acordo com o relatório, concluído na sexta-feira, mas divulgado somente hoje, "o comitê vê a medição de emprego 'payroll', que se baseia em um número grande de empregadores, como a estimativa ampla de emprego mais confiável. Essa série atingiu seu pico em dezembro de 2007 e declinou em todos os meses desde então". O payroll é um relatório mensal do mercado de mão-de-obra americano.

O órgão acrescentou que revisou dados sobre os ciclos econômicos do passado, mas nenhuma mudança foi feita depois de 1978.

Em reação ao relatório, o porta-voz da Casa Branca Tomy Fratto declarou que "como sempre dissemos, o NBER determina as datas de início e fim dos ciclos econômicos, e eles fizeram isso. Mas o que é importante é o que está sendo feito quanto a isso. As coisas mais importantes que podemos fazer pela economia neste momento são trazer os mercados financeiros e de crédito ao normal e continuar a fazer progressos no setor de moradia, e é nisso que continuaremos a focalizar. Lidar com essas áreas dará o melhor resultado para fazer a economia retornar ao crescimento e à criação de empregos".

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

"Estão demonizando os derivativos "




Para o presidente do Conselho da BM&F Bovespa, quem se recusar a usar o instrumento financeiro estará fazendo “besteira”


Pairava um certo otimismo entre os principais executivos da BM&FBovespa nesta segunda-feira na capital paulista. Durante coletiva de imprensa, o diretor-presidente, Edemir Pinto, e o presidente do conselho de administração, Gilberto Mifano, concordaram que a pior fase da crise econômica já passou. No entanto, não quiseram afirmar em quanto tempo o tsunami financeiro terminará de vez. "Por mim, terminaria em alguns dias", brincou Mifano.
Os problemas verificados por muitas empresas a partir de aplicações envolvendo derivativos ganharam destaque durante o encontro. Para os diretores da maior bolsa de valores da América Latina, é normal que as companhias continuem usando estes instrumentos. Mifano lembrou que, no passado, várias empresas ganharam muito dinheiro com os derivativos. Por isso, segundo ele, não é justo que venham à tona somente os prejuízos de agora. Como exemplo, o executivo disse que o dólar demorou um ano e meio para saltar de R$ 1,55 para R$ 1,85. Nesse período de estabilidade, muitas companhias lucraram com essa modalidade de investimento. "Estão demonizando os derivativos", reclamou Mifano. Para ele, uma empresa que se recusa a usar instrumentos de risco baseados em derivativos está fazendo uma "besteira tão grande quanto as companhias que usaram o mesmo instrumento para especular".
Edemir Pinto aproveitou a ocasião para assegurar que a BM&FBovespa vai acelerar sua política de educação financeira para empresas. E o uso de derivativos vai continuar a ser um dos principais temas abordados nestes cursos. A bolsa retomará um acordo com a Federação e o Centro das Indústrias de São Paulo (Fiesp/Ciesp) para dar continuidade a estes programas.


MARCOS GRACIANI - AMANHÃ.

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

País pode crescer só 0,5% em 2009, diz ONU



Previsão leva em conta agravamento da crise financeira; no cenário otimista, organismo prevê expansão de 3% para o BrasilPara autor de estudo, "a cada dia que passa, o mundo se aproxima mais do cenário pessimista", em que os EUA teriam retração de 1,9%


MARCELO NINIO

ENVIADO ESPECIAL A DOHA


O Brasil poderá ter crescimento econômico quase nulo em 2009, caso se materialize o cenário pessimista traçado pelas Nações Unidas ante o agravamento da crise financeira.Se as condições continuarem a piorar e em seis meses os pacotes lançados por vários governos no mundo não surtirem o efeito de estimular o consumo e a produção e destravar o crédito, a previsão da ONU é que o PIB brasileiro tenha expansão de apenas 0,5% em 2009 e que a economia global recue 0,4%. As projeções, antecipadas ontem em Doha, estão no relatório anual da organização sobre as perspectivas econômicas mundiais, que será divulgado em janeiro.Como de hábito, o estudo tem três cenários: o base, o otimista e o pessimista. No cenário base, o crescimento econômico do Brasil em 2009 ficaria em 2,9%, pouco abaixo da estimativa atual do FMI (Fundo Monetário Internacional), de 3%. É justamente de 3% o percentual "otimista" da ONU.Há pouco mais de uma semana, em conversa com a Folha na Alemanha, o presidente do BC, Henrique Meirelles, classificou de "conservadora" a previsão do FMI, dando a entender que espera mais de 3%. Analistas consultados semanalmente pelo BC prevêem expansão de 3% em 2009.Seja como for, será uma queda significativa para o Brasil, que cresceu 5,4% em 2007 e, segundo a ONU, crescerá 5,1% neste ano. Para o autor do estudo, Rob Vos, "a cada dia que passa, o mundo se aproxima mais do cenário pessimista".Embora o primeiro choque da crise iniciada nos EUA tenha atingido os países ricos, Vos acha que houve "complacência" no mundo em desenvolvimento, o que atrasou a aplicação de medidas contra a crise. Em outubro, ficou claro que ninguém estava a salvo."Isso ocorreu por dois motivos: o primeiro é que os países em desenvolvimento acreditaram que poderiam se descolar da crise, um mito propagado tanto pelo FMI como pelo Banco Mundial", disse Vos à Folha. "E o segundo é que não se esperava uma fuga tão rápida de investimentos."Voz não poupa críticas aos que minimizaram o tamanho da crise, entre eles o diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn. Ele lembra que, em março, depois do resgate do banco de investimentos americano Bear Stearns, Strauss-Kahn chegou a dizer que o pior da crise havia passado."Acho que há uma espécie de falso pensamento positivo, porque muitas das autoridades econômicas são oriundas do mercado financeiro, em que há uma tendência a achar que mensagens positivas podem estimular o mercado", diz Ros.O economista concorda com a avaliação de muitos analistas de que a crise financeira levará ao menos 18 meses para se dissipar. Mesmo que estejam na direção certa, do estímulo fiscal, pacotes de resgate como os apresentados nos EUA, na China e na União Européia levarão meses para terem efeito.Com isso, o cenário-base do estudo vê crescimento negativo de 1% nos EUA e 0,7% na zona do euro. No cenário pessimista, esses números caem para retrações de 1,9% e 1,5%, respectivamente.O estudo da ONU alerta de que o sistema bancário dos EUA, de onde surgiu a crise, ainda poderá provocar novos choques no sistema global.Entre setembro de 2007 e outubro de 2008, 16 bancos nos Estados Unidos entraram com pedido de falência. Outros 100 estão sob observação do Fed, o banco central americano.

sábado, 29 de novembro de 2008

QUEM MANDOU APOSTAR ?





Desvalorização do real: muitos sentiram o golpe.

A primeira a soar o alarme foi a Sadia. No final de setembro, com a disparada do dólar, a companhia processadora de carne de frango anunciava que poderia ter extrapolado os limites estabelecidos pela política de risco da empresa ao investir em mais derivativos cambiais do que necessitava para cobrir suas exportações. Instantaneamente, a companhia demitiu seu principal executivo financeiro, tirou Luiz Furlan de sua aula de tênis e o levou de volta ao conselho da Sadia.
Os anúncios que vieram na seqüência faziam crer que essa era apenas a ponta do iceberg. A Aracruz, maior produtora mundial de celulose de eucalipto, revelou que sua exposição em contratos de target forward poderia ser o dobro dos derivativos atrelados ao pré-pagamento de exportações. Uma situação crítica que só teve um sinal consistente em 4 de novembro, quando a empresa finalmente revelou o valor total da perda - US$ 2,13 bilhões, o maior anunciado -, e que esta já estava sendo renegociada com os bancos, eliminando com isso a exposição em 97% desses papéis.
A falta de informações concretas sobre o número de companhias e o montante envolvido nessa jogada pela solidez do real levava mais tensão ao mercado. A corrida das empresas para resgatar depósitos para cumprir contratos e a possibilidade de calote a bancos fizeram o mercado batizar o evento de subprime tropical. O governo estimou que cerca de 200 empresas estavam envolvidas nesse tipo de contrato, e muitos previam que o buraco poderia ser mais fundo. Afinal, ainda havia um universo inexplorado entre as empresas de capital fechado, outras que poderiam ter negociado diretamente na BM&F Bovespa, além das com contratos no exterior.
Dessa forma, em um lapso de tempo, os derivativos cambiais, que costumam ser avaliados como uma excelente forma de cobertura para as empresas exportadoras, se transformaram em vilão, dando duras lições às empresas que por um momento de euforia desviaram seu foco da proteção e buscaram esses papéis como uma máquina de lucro. Observando seus efeitos em países como Brasil, Rússia e Coréia, Paul Krugman vaticinou no New York Times que o resultado dessa aposta de risco na fortaleza das moedas dos países emergentes seria "o segundo epicentro" da crise financeira mundial.
Outro mercado emergente fortemente afetado foi o México, onde importantes empresas revelaram perdas por suas exposições a esses instrumentos. Segundo Nicolás Olea, sócio do escritório da KPMG na Cidade do México, as perdas no país se explicam porque os gerentes financeiros pecaram por uma confiança desmedida. "A estabilidade experimentada pelo peso mexicano os fez cair em uma zona confortável", explica. "Ao ver que sofriam perdas por operações em que o dólar continuava se debilitando, decidiram assumir um risco extra e apostar em operações contrárias em derivativos para ressarcir perdas anteriores e embolsar lucro extra."
Entre as companhias mexicanas que participam dessa lista estão a Cemex, com perdas de mais de US$ 700 milhões, a fabricante de tortilhas Gruma, com US$ 684 milhões; o grupo industrial Gissa, com US$ 600 milhões e a fabricante de vidro Vitro, com US$ 227 milhões. O caso mais significativo foi o da empresa varejista Comercial Mexicana, que teve que pedir ajuda a seus credores devido aos US$ 1,39 bilhão em perdas relacionadas à exposição a esses derivativos.
Mau precedente
No Brasil, ainda que permaneça a dúvida sobre quando essa onda de prejuízos tocará o fundo, a aposta é de que os anúncios bombásticos já foram dados, e as negociações em curso entre empresas e bancos acalmam o mercado. "Bolhas existirão, e é preciso acostumar-se a elas", diz Gabriel Basaluzzo, diretor do mestrado de Finanças da Universidade San Andrés, em Buenos Aires.
Mas nem todos os que estão em cima dela, grandes ou pequenos, querem aceitar isso. A empresa têxtil Vicunha, por exemplo, devia US$ 100 mil ao Merrill Lynch por perdas com derivativos, e afirmou que não pagaria alegando que a pessoa que assinou não tinha autorização para fazê-lo. Para Carlos Eduardo Gonçalves, professor de Economia da FEA/USP, esse é um precedente arriscado. "Se as empresas não pagarem, o que vai ser do mercado futuro daqui pra frente?", questiona.
Afinal, o jogo não pode ser legal apenas quando se está ganhando, e não é de hoje que as empresas o fazem. Um working paper do Banco Central chamado "Demand for Foreign Exchange Derivatives in Brazil: hedge or especulation", publicado no final do ano passado por Fernando Oliveira e Walter Novaes, analisou contratos de swaps de taxa de câmbio abertos ao final de 2002 e identificou que em períodos de grande volatilidade cambial, como em 2002, a demanda de empresas por esse tipo de derivativo está fortemente relacionada a razões especulativas, sendo as empresas exportadoras as com maior probabilidade de fazê-lo.
Além do risco da perda pelo câmbio, entretanto, o problema está na credibilidade, "já que o acontecido expõe um problema sério de governança corporativa", lembra Gonçalves. "O que o board estava fazendo nessa hora?" E há quem afirme que a aventura mal-sucedida dos derivativos seja motivo para o afastamento de investidores internacionais que buscam negócios na bolsa brasileira, e não querem saber de especulação com seu dinheiro. "O instrumento escolhido por essas empresas é simples, não fixa limites para cima ou para baixo para limitar perdas excessivas e em períodos de volatilidade moderada são eficazes", diz Basaluzzo. "Mas quando uma bolha rompe, cobra tudo de volta, e num só golpe, e a estrutura da tesouraria de uma empresa não está preparada para identificar esses momentos, pois tem seu foco na área produtiva, e não na financeira."
Para José Cézar Castanhar, economista da FGV-Rio, "esse episódio deixou claro que é errada a noção de que se pode acreditar em ajuste automático; e que os executivos precisam focar-se na finalidade da empresa, e avaliar mais seriamente os impactos de suas escolhas."
Correção de rota
Como, então, evitar o desastre? "Não se pode colocar travas nem restringir o mercado, mas do ponto de vista regulatório hoje se está facilitando ao máximo a divulgação de dados, da forma mais transparente possível", diz Edison Arisa, coordenador técnico do Comitê de Pronunciamentos Contábeis (CPC), sobre a iniciativa da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deliberar a exigência de informações mais abrangentes e detalhadas sobre os instrumentos derivativos que as companhias detêm em seus balanços trimestrais, a partir do terceiro trimestre deste ano. Arisa acrescenta que a CVM também pediu às empresas, de forma facultativa, que passem a apresentar uma análise da sensibilidade dos derivativos que operam, com parâmetros pré-definidos.
Para as empresas escaldadas pelas perdas de dinheiro e de moral nesse jogo de azar, a sugestão dos analistas é de trabalhar com políticas de exposição ao risco mais rígidas, como as de um banco.
Para Basaluzzo, outra estratégia possível para retornar uma empresa ao foco produtivo seria uma mudança na política interna da companhia, excluindo o resultado desses mecanismos financeiros da remuneração do CFO. "Esse executivo está aí para garantir caixa e minimizar o risco. Enquanto seja premiado por resultados, poderemos ver tal situação se repetir com mais freqüência". Já Álvaro Cyrino, professor de Economia da Fundação Dom Cabral, afirma que hoje "os executivos são remunerados pela capacidade de criar uma fantasia, e são bem remunerados porque isso é arriscado. Não há no universo condição de crescer nas taxas esperadas pelo mercado, descola-se da realidade e aí se forma a bolha". Mas Cyrino acha que esse modelo já não agrada e que "estamos começando a ver as coisas como elas deveriam ser".
Por ora, a versão do "subprime tropical" está descartada, ainda que as perdas sejam inegáveis. A torcida é para que alguma lição tenha ficado e o pior já tenha passado.
Ao menos até a próxima bolha.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O mundo depende de países como o Brasil

COM CERTEZA E CADA VEZ MAIS .... A DEPENDÊNCIA FIC MAIS EVIDENTE !!!

Em entrevista a AMANHÃ, o diretor do Banco Mundial no Brasil, John Briscoe, fala do status que o país e outros emergentes adquiriram e diz por que o Rio Grande do Sul ganhou atenção especial

Por: Eugênio Esber

Voz influente nas políticas do Banco Mundial, a ponto de merecer um capítulo à parte no livro de Sebastian Mallaby sobre James Wolfensohn, John Briscoe está fazendo as malas para deixar o Brasil. O sul-africano que passou parte de sua juventude em aldeias de Bangladesh, em um auto-exílio de repúdio ao regime do apartheid, prepara-se para lecionar em Harvard depois de três anos como "country director" do Banco Mundial no Brasil. Briscoe leva na bagagem o ineditismo de uma operação que culminou com o empréstimo de US$ 1,1 bilhão para o Estado do Rio Grande do Sul - maior empréstimo já realizado pelo banco no Brasil. Nesta entrevista a AMANHÃ, Briscoe relata como a sua equipe conseguiu viabilizar a operação, sob o olhar cético do board, e explica se é possível atender a outros estados que tenham o mesmo interesse, como Alagoas. Aos 60 anos, um Briscoe que Sebastian Mallaby descreveu como "um jovem idealista" está satisfeito com a crescente influência dos países emergentes nas decisões do Banco Mundial, embora considere necessário transformar este peso político em poder de voto nas decisões do board. "O mundo olha para a Índia, para a China, para o Brasil, como os países que podem dar uma certa estabilidade à economia global, diante das dificuldades globais", afirma Briscoe, na entrevista reproduzida a seguir.
O que há de ineditismo no contrato que o Banco Mundial assinou com o governo do Rio Grande do Sul?
Em primeiro lugar, o tamanho da operação. É o maior empréstimo que já fizemos na América Latina. Em segundo lugar, se trata da primeira operação de financiamento de dívida que fizemos. E a operação é inédita também por envolver um Estado que não atendia às exigências da Lei de Responsabilidade fiscal, o Rio Grande do Sul. Além disso, outro aspecto que há para salientar é a cooperação - fora do normal, eu diria - que se estabeleceu entre o governo do Estado, o BANCO MUNDIAL e o governo federal, por intermédio do Ministério da Fazenda.
Foi difícil, para a equipe brasileira, convencer os quadros de Banco a realizar uma operação deste gênero com uma entidade subnacional que naquele momento não estava cumprindo as exigências da lei de responsabilidade fiscal?
Como você sabe, o Rio Grande do Sul estava numa situação precária. Nessas condições, qualquer operação tratando de Rio Grande do Sul que a gente levava para o board do Banco Mundial era vista com muita cautela. Porque antes já havíamos tido operações que despertaram a esperança de que o Estado revertesse o seu caminho, e isso não havia acontecido. Então havia ficado esta, digamos, bandeira negativa do Rio Grande do Sul. Era a primeira dificuldade a superar.
Não era a única...
Havia uma segunda dificuldade. A lei de responsabilidade fiscal é vista por todos nós, do banco, e também pelo governo federal, como um instrumento exitoso, essencial, para a administração pública. E fomos questionados pelo board: cabia fazer uma operação com um Estado que não estava em dia com a lei de responsabilidade fiscal? Tivemos de fazer todo um trabalho de esclarecimento para mostrar que o Estado estava implementando um programa de ajuste fiscal muito forte e que todas as forças políticas do Estado estavam comprometidas com este esforço de reestruturação da dívida e das contas do Estado. Essa união de deputados, senadores, ficou clara no dia da assinatura do contrato com o BANCO MUNDIAL. Ficou claro, para nossos gerentes, que aquilo não era uma operação com uma governadora que tem mais dois anos de mandato, e sim um compromisso firmado com todas as forças políticas do Estado. E um compromisso que envolve um programa forte de gerenciamento do setor público e, inclusive, de ajuste do sistema previdenciário...
É possível que outros Estados brasileiros que não estejam em dia com a Lei de Responsabilidade Fiscal recebam atenção semelhante do Banco Mundial?
Nesse ponto cabe deixar claro que operações como essa que fizemos com o Rio Grande do Sul têm três agentes: o governo federal, o governo do Estado e em terceiro lugar o Banco Mundial. A primeira exigência que fazemos ao Estado é apresentar um plano para chegar a uma situação sustentável, que lhe permita retomar investimentos e promover o crescimento econômico regional. É o elemento absolutamente essencial, e neste aspecto o governo do Rio Grande do Sul mostrou muita garra e persistência. O segundo passo, para o governador, é convencer o governo federal de que o programa de ajuste é para valer - especialmente se o Estado estiver fora da lei de responsabilidade fiscal. E, de volta ao caso do Rio Grande do Sul, se o governo federal não tivesse mostrado interesse e envolvimento, a conversa com o Banco Mundial acabaria ali...
Há algum outro Estado negociando com o BANCO MUNDIAL?
Há apenas mais um Estado fora do limite de lei de responsabilidade fiscal. É Alagoas. O governo alagoano já manifestou interesse de obter um financiamento do BANCO MUNDIAL. Nós temos mantido várias conversações com Alagoas, quase sempre junto com o governo federal. E agora está nas mãos do governo alagoano definir um programa de ajuste fiscal. Até agora ainda não está muito claramente definida qual é a proposta do Estado. Cada caso é um caso. Ouvimos o governador de Alagoas dizer: "Eu quero fazer o que o Rio Grande do Sul fez." Mas não é a mesma coisa. O caso do Rio Grande do Sul tem especificadades. Assim como o município de São Paulo, que possui uma dívida muito maior que a de Alagoas, também tem peculiaridades.
Ao exigir dos Estados um plano de ajuste fiscal antes de qualquer negociação, o Banco Mundial lembra os protocolos de intenções que o FMI impunha ao Brasil e a outros países que faziam romaria em busca de recursos para fechar as contas externas?
É uma pergunta relevante. Mas são situações diferentes. O que o FMI fazia, dez anos atrás, era dizer aos países "Façam isso ou vocês não têm o dinheiro." Muitas vezes os presidentes até queriam fazer reformas mas preferiam que o papel de bad guy fosse exercido pelo FMI. Não trabalhamos com este tipo de imposição. Mas é verdade que se um governo estadual viesse dizer ao banco "não queremos fazer reforma, não queremos fazer nada para termos uma situação fiscal estável, mas queremo um bilhão de dólares de vocês", de jeito nenhum a gente aprovaria isso. A governadora ou governador tem que ter um programa que, em primeiro lugar, convença o ministério da Fazenda. Porque se não for um programa sério, o ministério não dará apoio. Hoje, a postura do governo brasileiro é de encarar a responsabilidade fiscal como um dever, como algo absolutamente essencial. Quando cheguei aqui, há três anos, tive um encontro com o ministro Palocci e ele foi muito enfático em afirmar isso. E o comportamento do governo brasileiro e dos governos estaduais confirma esta preocupação.
Olhando para os melhores modelos mundiais de gestão pública que o senhor conhece, como avalia a situação brasileira?
Eu ouvi certa vez do Murilo Portugal, que era o vice-ministro de Finanças (Fazenda), uma frase com a qual eu acho que todos concordam: que no Brasil se paga por serviço de cinco estrelas mas não se recebe um serviço à altura. Eu costumo dizer que se paga por 5 estrelas mas se recebe um serviço de três estrelas. Pela carga de impostos que cobra dos cidadãos, o Brasil devia estar entre os países com a melhor gestão pública do mundo. Mas não é assim, e por isso se criou a expressão "Custo Brasil" para mostrar a distância entre o Brasil e seus competidores no mundo. Por isso, ficamos felizes quando vemos programas de ajuste em estados como Minas e Rio Grande do Sul. É preciso melhorar a qualidade do gasto público.
O Banco Mundial e FMI, surgiram da conferência das nações em Bretton Woods. A crise global revela que o mundo carece de novas instituições capazes de coordenar os esforços de diferentes países na direção de soluções consistentes?
Este é um assunto para instâncias mais altas. Mas, falando em termos pessoais, acho que é preciso repensar a arquitetura de operações entre as nações. Ela foi desenhada mais de meio século atrás, quando vivíamos em um outro mundo. E esta situação é diferenciada. Olhando as crises anteriores, você vê que elas começavam com um país emergente, como México, Brasil... E esta crise começa por uma nação como os Estados Unidos. Ainda não sabemos como esta crise vai evoluir. Mas o mundo olha para a Índia, para a China, para o Brasil, como os países que podem dar uma certa estabilidade à economia global, diante das dificuldades norte-americanas.
As economias emergentes têm poder de influência compatível com esta nova importância que começam a assumir?
A voz dos países emergentes nestas organizações de coordenação internacional não correspondem, de jeito nenhum, ao peso, à influencia e à importância que adquiriram. Isso é muito óbvio. O Brasil, por exemplo, tem cerca de 2% de participação no Banco Mundial e a China e a Índia não vão muito além disso. Por isso estes países não têm grande peso nas votações. E, por outro lado, na mesa de votação, você tem uma dúzia de países europeus menores do que vários estados e até municípios do Brasil. São pequenos países que eram muito importantes em 1948. Então, eu acho que, com esta crise, vai começar um processo profundo, essencial e saudável para se dizer algo como "Esse sistema, como está hoje em dia, já não basta".
O mundo está sofrendo as dores do parto desta nova arquitetura mundial?
Eu acho que sim. Será preciso muito empenho das nações. Hoje, diante do tamanho desta crise, nós estamos nos perguntando: quem estava olhando para o que acontecia? O FMI não estava olhando para isso, nem qualquer outra instituição. Mas alguém devia ter olhado. Depois da crise, sempre é fácil dizer, claro. Mas eu acho que não se trata de falta de mecanismos, e sim de um novo momento de poder, de distribuição da influência mundial. E nós vemos com muita excitação este novo momento.
O BANCO MUNDIAL vê como saudável esta afirmação dos emergentes?
Sim. Veja, na parte das ações formais do banco, quando ocorre uma votação, o peso do Brasil é de 2% e o peso dos Estados Unidos é de 15%. Mas está ocorrendo um processo interessante, de alguns anos para cá. Dez anos atrás, as discussões eram completamente dominadas pelos países europeus e pelos norte- americanos. Os diretores dos países emergentes não tinham papel mais ativo na definição das políticas centrais do banco. Hoje em dia, não. Países como o Brasil, Índia, China, Turquia, México têm uma voz muito mais articulada e consistente no BANCO MUNDIAL. O Board é formado por 24 diretores. Quando o diretor que representa o Brasil fala sobre uma política global do BANCO MUNDIAL ele é ouvido com muita atenção. O Zoellik (Robert Zoellik, presidente do Banco Mundial)veio ao Brasil falar com Lula e em nenhum momento se comportou como se estivesse diante de um país com peso de 2%. Ao contrário, ouviu e considerou atentamente tudo o que Lula e Dilma falaram. Então, informalmente, é quase como se já houvesse uma nova arquitetura. Mas formalmente, em termos de votação, o peso destas nações ainda é pequeno, desproporcional. É preciso trabalhar também esta parte formal.
Sua saída está prevista para o fim do ano. Como o senhor deixa o Brasil?
Eu deixo chorando, como todos deixam. Porque para quem trabalha no banco atuar no Brasil é uma honra muito grande. Aqui aprendemos muita coisa. Temos uma relação fantástica com o governo, com os nossos parceiros nos governos estaduais, nos municípios, no setor privado. E isso reflete muito o que é este país. Porque o Brasil é um país que recebe com braços abertos. Todos nós aqui do banco nos sentimos parte desta viagem brasileira.
O país mudou muito desde a primeira vez em que o senhor trabalhou aqui, há 20 anos?
Bom, O que não mudou é esta característica brasileira de ser um país muito cordial e amistoso. Mas quando eu olho para as relações do banco com o Brasil, há vinte anos, vejo grandes mudanças. Eram relações muito difíceis, a toda hora havia disputas entre o Ministério da Fazenda e o Banco. Hoje, é uma relação totalmente diferente. Já faz dez anos que nosso diretor para o Brasil trabalha baseado aqui mesmo e não em Washington. O nosso time que trabalha aqui conhece intimamente o Brasil. As circunstâncias também são outras. Quando trabalhei aqui, em 1986, era o auge da inflação. Todos os indicadores econômicos e sociais, como mortalidade infantil, eram incomparavelmente piores do que os de hoje. Trabalhar agora com o Brasil, fazer projetos inovadores como este que envolveu o Rio Grande do Sul ou o Bolsa-Família na Amazônia, foi uma honra para mim.
O que o senhor fará depois de deixar o Brasil?
Vou atuar num centro de estudos brasileiros de Harvard. E lecionar em uma disciplina ligada a desenvolvimento e uso de recursos naturais, com foco em água.
Qual é a situação do Brasil e do mundo sob este ponto de vista - água?
O problema é que não há mais água. México, China, Índia, todos têm problemas gigantescos de gerenciamento de recursos hídricos. Todos estão usando sua água de forma insustentável, o que coloca algumas grandes áreas de crescimento agrícola e industrial destes países em uma perspectiva extremamente difícil. O Brasil, claro, tem desafios nesta área - principalmente no Nordeste. Mas nada que não possa ser manejado, gerenciado. Se me perguntassem qual país estaria em melhor situação dentro de 20 anos, não teria dúvida em apontar o Brasil. Aqui, basta que o país tenha a capacidade de se organizar e gerenciar seus recursos hídricos. E então o Brasil estará muito bem e eu vou vir para cá, comprar meu lote...

Bolsa em Alta .. Bolsa em Baixa ...


Hormônios que regem mercados Sim, eles afetam o comportamento dos investidores e influem no vaivém da bolsa
Em outubro deste ano, o portal
The Naked Scientists trouxe uma entrevista bastante interessante com o professor John Coates, da Universidade de Cambridge. Assunto: como os hormônios dos investidores acabam alterando os rumos do mercado financeiro global. Parece um trololó sem tamanho, mas o fato é que Coates tem argumentos até bem razoáveis. Por exemplo:
Tolerância ao risco e testosterona: segundo Coates, os investidores que melhor lidam com o risco são aqueles que apresentam níveis mais elevados de testosterona - hormônio que está relacionado à auto-confiança, à coragem e à agressividade.
Auto-confiança exagerada: isso não significa que os investidores devam tomar injeções de hormônios. Ao contrário: testosterona demais tende a levar as pessoas a uma overdose de auto-confiança – que pode se refletir em decisões equivocadas ou simplesmente estúpidas na negociação de ações.
Quem ganha muito está mais vulnerável às perdas: segundo Coates, um dos fatores que elevam o nível de testosterona no organismo é a obtenção de lucros rápidos e fáceis na bolsa. Daí o fato de que as fortes altas do mercado financeiro são, muitas vezes, sucedidas por ondas irracionais de euforia e irracionalidade – que desembocam em crises.
Negativismo e cortisona: por outro lado, quem perde dinheiro na bolsa tende a sofrer com o estresse e a angústia, dois sentimentos que liberam um hormônio conhecido como cortisona. Para quem não sabe, a cortisona tem um efeito repressor. Atua sobre a memória – faz com que as pessoas se lembrem de coisas associadas ao medo e à angústia – e gera uma verdadeira aversão ao risco.

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Dívida do consumidor brasileiro já é de dez meses de salário



Em quatro anos, o endividamento do brasileiro cresceu quase 70% na relação com o número de salários recebidos. Entre cheque especial, cartão de crédito, financiamento de veículos, crédito pessoal e empréstimos imobiliários com recursos livres, o consumidor devia dez meses de salário em setembro. Em 2004, a dívida correspondia a 5,9 meses de salário.
Os cálculos são do consultor para o sistema financeiro e economista pela Universidade de Brasília, Humberto Veiga. Para chegar a esses números, ele considerou a evolução da massa de salários com base nos dados da Pesquisa Mensal de Emprego do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em seis regiões metropolitanas e o montante de crédito concedido ao consumidor.
Segundo o economista, esse descompasso entre o crescimento da dívida e da renda dos trabalhadores faz crescer o risco de inadimplência, especialmente agora que o cenário de desaceleração da economia começa a ganhar contornos mais nítidos e poderá ter impactos no nível de emprego.
Embora as estatísticas mais recentes do Banco Central, que são de setembro, mostrem uma certa estabilidade na inadimplência em geral das pessoas físicas, dados do comércio de São Paulo revelam que o calote aumentou em outubro. A inadimplência líquida, que é o saldo dos carnês em atraso acima de 30 dias com os renegociados, em relação às vendas de quatro meses anteriores, que estava em 5,9%, subiu para 7% em outubro, segundo as contas da RC Consultores, com base nas estatísticas da Associação Comercial de São Paulo.
"Houve uma piora do ambiente do consumidor exatamente quando a economia começa a desacelerar", diz o sócio-diretor da RC Consultores, Fabio Silveira. Além do aumento da inadimplência líquida, ele ressalta que houve aumento de 26%, em setembro, para 31%, em outubro, dos consumidores com contas em atraso que não acreditam que conseguirão pagar as dívidas, de acordo com a pesquisa da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (Fecomércio).
Também o comprometimento da renda dos endividados aumentou de 34% para 36% de setembro para outubro, segundo informações da mesma entidade. Na análise de Silveira, as informações da Grande São Paulo são um indicador antecedente relevante do que está ocorrendo no restante do País, pois a região é o principal mercado consumidor.
"Hoje existe uma superposição de endividamento do consumidor e o calote não reflete a crise. O quadro da inadimplência deverá piorar nos próximos meses", prevê o economista. Ele ressalta que, com o desaquecimento da produção industrial que deve crescer no ano que vem 3%, a metade do previsto para 2008, a tendência será de perda de dinamismo no emprego e na geração de renda advinda da atividade.


Fonte : Folha de S.Paulo 24/11/08

sábado, 22 de novembro de 2008

LULA : O ILUMINADO


Na revista IstoÉ (Da Globo) com foto da revista americana "Esquire" quando anunciou Lula na lista de 75 pessoas mais influentes do mundo, diz: Com popularidade recorde, o presidente brasileiro cutuca os protagonistas da crise econômica, conquista prestígio internacional e ofusca Hugo Chávez na América do SulO mundo discute o petróleo e os modelos energéticos alternativos. O Brasil tem as duas coisas: a perspectiva de se tornar um dos principais produtores de petróleo do mundo graças às reservas do pré-sal e o domínio da produção e a tecnologia para o uso do etanol como combustível. E tem o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que compreendeu a importância estratégica desses dois fatores. E que também exerce o papel de mediador da América do Sul perante os países desenvolvidos, especialmente os Estados Unidos, ofuscando o radicalismo de um Hugo Chávez. Esses foram os argumentos que a revista americana Esquire usou para escolher Lula, na sua edição deste mês, como uma das 75 personalidades mais influentes do mundo neste início de século XXI. A revista diz que Lula é o “Bill Clinton da América do Sul”. Na definição da Esquire, o ex-presidente americano – que também integra a lista das 75 personalidades – é uma mistura de “agente da mudança” e “agitador.”Na mesma semana em que apareceu na relação elaborada pela revista Esquire, Lula também foi personagem de um artigo do principal jornal francês, o Le Monde. Na quinta-feira 18, o jornal chamou a atenção para o papel de Lula e do Brasil na solução da crise da Bolívia, durante reunião dos países da Unasul em Santiago do Chile. “Luiz Inácio Lula da Silva se comporta como líder regional. Ele tem as ferramentas para fechar um consenso e exercer uma influência mediadora aceitável dentro do subcontinente e no Exterior, principalmente nos Estados Unidos”, registra o Le Monde. A atuação de Lula como mediador, aliás, tinha sido ressaltada antes por diversos líderes que participaram da cúpula da Unasul no Chile.Lula de fato vive um momento iluminado. Pesquisa do Instituto Datafolha, divulgada no dia 12 de setembro, aponta que ele bateu seu próprio recorde de popularidade: nada menos que 64% dos brasileiros consideram seu governo ótimo ou bom. É, disparada, a melhor avaliação de um presidente desde a redemocratização do País, em 1985. E Lula surfa nessa popularidade. Nem seus adversários ousam criticá-lo. Em sabatina feita na quinta-feira 18 pelo jornal Folha de S. Paulo, o candidato do DEM à Prefeitura de São Paulo, Gilberto Kassab, classificou Lula, Fernando Henrique e o governador paulista José Serra como os três principais políticos brasileiros.“Nada disso está longe de ser gratuito”, observa o cientista político José Luciano Dias, da C.A.C. Consultoria, de Brasília. “Lula é um exemplo de como um líder de esquerda pode modernizar seu discurso e abrir-se para o mundo sem perder a relevância”, observa ele. Para Dias, a comparação que a revista Esquire faz entre ele e Clinton não é exagerada. “Clinton reciclou as idéias dos democratas para abarcar as teses liberais sem deixar de lado a necessidade de políticas sociais de inclusão. É o que faz Lula no Brasil: mantém um Banco Central independente, mas ao mesmo tempo acelera a inclusão social”, avalia.Para completar, do ponto de vista político, Lula agrega à sua base nada menos que 13 partidos, o que praticamente asfixia a oposição. “Não apenas por causa de Lula, mas também por conta de algumas cooptações feitas pelo PT, as oposições estão praticamente revogadas”, constata o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

terça-feira, 18 de novembro de 2008

As nossas regras são melhores... Nem tanto.



Uma certa mentalidade insular tem propagado um mantra nos últimos meses. As regras financeiras e bancárias no Brasil são melhores do que as existentes nos outros países. Sobretudo, melhores do que as em vigor nos EUA.

Pode ser. Mas tenho dúvidas, embora não milite no jornalismo econômico há algum tempo.

No Brasil, de fato, os bancos são obrigados a terem reservas mais altas para cobrir suas operações de crédito. Nos EUA, bancos estavam alavancados dezenas de vezes (para cada dólar em caixa emprestavam 30 ou 35 dólares na praça; uma loucura).

Tudo verdade. Mas vale ressaltar dois aspectos.

1) capitalismo diferente: os bancos no Brasil sobrevivem numa categoria diferente de livre mercado. É algo que poderia muito bem ser classificado de “capitalismo sem risco”. Os juros mais altos do mundo, há décadas, tornaram a atividade financeira uma moleza se comparada à de países onde há uma única forma de capitalismo, o capitalismo real, com risco.

Por estas plagas, dois amigos têm dinheiro sobrando, abrem um banco, compram títulos do Tesouro brasileiro e certamente terão lucro, sem necessidade de arrojo ou inovação.

Nos EUA, o juro pago por papéis do governo é negativo. O título público norte-americano é uma reserva de valor. Quem compra sabe que o dinheiro estará para sempre garantido na hora do resgate. Daí o juro ser muito baixo.

Para ganhar dinheiro, os banqueiros norte-americanos precisam se jogar aos leões, conquistar clientes, dar empréstimos. Enfim, precisam correr muito mais riscos do que seus colegas brasileiros.

Podemos todos reclamar dos EUA, da arrogância, do belicismo. Podemos parar de tomar Coca-cola para protestar (como um ministro de FHC fez no passado). Tudo bem. Mas é inegável que esse modelo de alta competição deu ao país acima do Rio Grande uma vitalidade nunca vista aqui perto do Trópico de Capricórnio. O risco, inerente ao capitalismo verdadeiro, compele as pessoas à inovação. Quantas Microsofts e Apples surgiram no Brasil com todas as regras mais avançadas que supostamente existem por aqui?

No Brasil, título público é um dos melhores investimentos possíveis. Uma geração de brasileiros rentistas sonhou e sonha em ter dinheiro para colocar no banco e viver de renda. Essa é uma anomalia incompatível com capitalismo. Mas perfeitamente em linha com o “capitalismo sem risco” à brasileira.

Os sucessivos governos, desde o final da ditadura militar, nada fizeram para acabar com essa mentalidade deformada que comanda os nossos empresários –e muitos integrantes da classe média resmungona.

2) proteção ao consumidor: esse é outro aspecto importante a ser considerado sobre as regras daqui e dos EUA.

Os correntistas norte-americanos, até recentemente, tinham até US$ 100 mil garantidos de seus depósitos bancários. Veio a crise atual e o limite subiu para US$ 250 mil.

No Brasil, informa o site do
Banco Central, o valor garantido em contas correntes individuais vai até R$ 60 mil.

Ou seja, o sistema bancário brasileiro pode ser mais regulamentado que o norte-americano, mas o cuidado para preservar a ponta mais frágil do sistema, o correntista, é menos exigente do que o modelo norte-americano.

Por fim, um pitaco a respeito dos papéis exóticos conhecidos como derivativos.

São contratos que empresas, bancos, qualquer um pode fazer para garantir preços e rendas. Por exemplo, um contrato de câmbio futuro. Foi aí que várias empresas brasileiras se estreparam com a crise, pois houve uma grande desvalorização do real.

Nos EUA, esse mercado é muito maior. Foi um dos responsáveis por ninguém saber ao certo o que se passava dentro de determinadas instituições até que a bolha imobiliária estourasse.

Alguns por aqui logo deram risada. Começaram a se jactar sobre as “regras mais rígidas” e seguras do país tropical.

Na realidade, o que se passa na verdade é que as autoridades dos EUA estão se movimentando com extrema rapidez no caso dos derivativos. O
Tesouro dos EUA anunciou na sexta-feira, dia 14.nov, antes da reunião do G-20, regras nunca antes imaginadas para o setor de derivativos.

Os reguladores dos EUA planejam câmaras de compensação para derivativos vendidos em balcão, uma grande novidade (aliás, impuseram esse item apara o G-20, no dia seguinte). Se der certo, a idéia trará muito mais transparência a um mercado hoje dominado pelo segredo. Antes do final do ano esse novo sistema deve estar funcionando nos EUA.

Como esses norte-americanos acreditam de fato em capitalismo, arrancaram logo uma declaração da associação de representantes de emissores de derivativos apoiando a medida. A
International Swaps and Derivatives Association lançou um comunicado também na sexta-feira, dia 14.nov., apoiando a decisão do Tesouro.

No Brasil, há câmara de compensação para derivativos –mas não para títulos vendidos no balcão. Transparência aqui também não é o forte. O governo ficou vendido quando grandes empresas começaram a anunciar grandes perdas no mercado de derivativos futuros em meio à atual crise.

Talvez fosse o caso de perguntar que tipo de vantagem as tais regras financeiras mais rígidas do Brasil trouxeram de benefício para o país nos últimos anos. Além dos lucros astronômicos dos bancos sob FHC e sob Lula, que incentivo houve para os brasileiros em geral sonharem mais em empreender do que com deixar o dinheiro no banco aplicado no fundão para “viver de renda”. No fundo, todos aqui querem ser personagens de Aluízio Azevedo e comprar uns sobradinhos para alugar. Empreender não é a nossa praia.

No fundo, essas regras mais rígidas brasileiras só funcionam quando existe o capitalismo quase sem risco que vamos legar ao mundo como contribuição nacional. Juros altos, lucros altos. A combinação permite exigir muitas garantias do sistema. Mas essas mesmas regras têm compelido a todos nós para a periferia do mundo nas últimas décadas.

Acabar com regras? Nem pensar. Mas aperfeiçoá-las para que produzam riqueza geral e não apenas estabilidade econômica e riqueza para poucos. Há sinal de interesse do governo Lula nesse sentido? Pergunte ao Lula.

Desde o estouro da bolha imobiliária nos EUA e do agravamento da crise, ouve-se dia sim e dia também que as regras do Brasil são as melhores.



BLOG FERNANDO RODRIGUES - UOL.