quinta-feira, 4 de junho de 2009

“ O PERIGO DE INADIMPLÊNCIA DOS EUA “




Paulo Sérgio Xavier Dias da Silva
psxds@hotmail.com

Qualquer dona de casa, que administra a maior parcela dos rendimentos de sua família e aplica com muita propriedade os fundamentos econômicos básicos no seu difícil dia a dia, sabe que não pode gastar mais do que ganha, por um tempo muito prolongado.
Em épocas de crises e dificuldades, como numa fase de desemprego, após efetuar todos cortes e ajustes de despesas necessários, pode até se utilizar de empréstimos temporários para equilibrar seu orçamento doméstico. Mas, tem consciência, de que se trata de um expediente urgente, breve e em caráter excepcional e que terá de buscar, rapidamente, outras soluções para reverter o seu déficit.
Esse preceito deveria também ser obedecido pelas empresas e principalmente pelos governos.
Os empresários bem sucedidos já aprenderam essa lição fundamental e só buscam empréstimos e financiamentos para investimentos produtivos e alicerçados em projetos exaustivamente analisados, que conduzam a uma taxa de retorno atrativa.
No setor público, a adoção daquele princípio fica mais complicado, como no exemplo brasileiro, em que os gastos com o custeio da máquina administrativa são exagerados, a parcela destinada aos investimentos é mínima e, na maioria das vezes, ocorrem déficits orçamentários nominais ou primários, apesar da excessiva tributação. De qualquer maneira, a dívida pública sempre é significativa.
Na teoria econômica, em situações especiais, particularmente em crises de desemprego é até admissível que os governos promovam déficits orçamentários com objetivo de reativar a economia, mas esses gastos adicionais devem ser prioritariamente direcionados para investimentos em infraestrutura e para setores que absorvam mão de obra intensiva e os que atendam demandas sociais carentes e, por um período de tempo determinado.
Não é o caso que vem ocorrendo, há várias décadas, na economia americana, que incentiva um consumo exagerado para os seus cidadãos, sempre acreditando no seu potencial de crescimento econômico contínuo e nas facilidades de crédito abundantes e com menores taxas de juros.
Os governos americanos vêm acumulando déficits públicos internos gigantescos e se não bastasse, aumentam constantemente seu desequilíbrio externo.
Além de não tomarem medidas de ajustes fiscal, se aventuram numa política externa intervencionista e equivocada, ostentando com certa soberba, o título de maior potência do planeta, interferindo em questões internas de outros países e participando de conflitos e guerras desnecessários e muito onerosos.
Essa situação anômala só vem sendo mantida, através da emissão maciça de títulos do tesouro americano, até algum tempo considerados de liquidez extremamente elevada, que financiam todo esse desajuste orçamentário, com juros bastante reduzidos.
Assim sendo, para viabilizar o pagamento das despesas exageradas da maior economia mundial é exigida cada vez mais a participação de credores internacionais.
Como consequência a dívida externa dos EUA está se tornando uma bola de neve e começa a assustar os analistas econômicos mais ponderados e alguns dos investidores daqueles títulos. A ocorrência da recente crise internacional acendeu o sinal amarelo.
Em conversas informais com clientes e amigos, sempre expressamos nossa preocupação com aquele esquema artificial e como resposta ouvíamos que o império americano era praticamente invulnerável, pelas proporções de sua economia, grande participação no mercado internacional e enorme influência política e cultural.
Mas, o panorama mundial mudou, com a crise econômica gerada no próprio seio americano e países como o Japão e principalmente, a China, já estão com as barbas de molho e estão iniciando um movimento de desconfiança no poder de gestão dos EUA em financiar seu déficit fiscal, desequilíbrio externo e na tomada de medidas de aperto necessárias.
Se esse cenário se agravar, a primeira consequência será a elevação dos juros a serem pagos pelos títulos do tesouro americano e pode até chegar a uma perda acentuada de interesse em suas aquisições pelos investidores estrangeiros, derivada do crescente grau de risco envolvido.
Teríamos a inusitada situação de acompanhar, no mercado financeiro internacional, as alterações das pontuações do risco-pais dos EUA.
Deve-se enfatizar também que o dólar, considerado como moeda oficial de trocas internacionais, vem perdendo valor frente outros meios de pagamento e pode deteriorar ainda mais o quadro econômico e financeiro norte-americano.
Felizmente, o novo presidente dos EUA, Barack Obama, parece estar preocupado com esta situação incômoda e, em discurso recente, abordou o grave problema do montante da dívida de seu país.
Se esta preocupação não for traduzida em medidas urgentes e eficazes, os EUA correm o risco de se tornarem, em futuro não muito distante, a maior nação inadimplente do mundo, com sérias implicações para toda a economia global.
Como a maior parte de nossas reservas está lastreada em dólar e aplicada em títulos do tesouro americano, seria prudente o governo brasileiro já ir tomando providências para efetivar uma maior diversificação dos nossos ativos financeiros.


Paulo Sérgio Xavier Dias da Silva
Economista graduado pela USP, consultor e assessor empresarial especializado
Na recuperação de empresas em dificuldades financeiras.
www.paulosergioxavier.zip.net

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