sexta-feira, 8 de agosto de 2008

BOLIVIA.




"Bolívia dos ricos" faz oposição a Evo Morales e quer presidente longe do Palácio Quemado


João PeresEspecial para o UOL


Em La Paz (Bolívia)


Avenidas largas, montanhas ao fundo, casas espaçosas com carros novos na garagem. Assim são Achumani e Calacoto, dois bairros da Zona Sul de La Paz que mais parecem fazer parte de outra Bolívia. E que integram um bloco político completamente distinto daquele que floresce no centro e na periferia da capital. Se nas regiões mais pobres Evo Morales é rei, não se pode dizer o mesmo dos redutos da classe alta.

Nas arborizadas ruas de Calacoto, em La Paz, Evo não tem apoio

A empresária Maria Eugênia Barreiro acha que o país retrocedeu


Nas lojas de grifes famosas, bares e restaurantes de preços mais altos, não há espaço para os tradicionais adesivos "Evo Si" que podem ser encontrados em todo o resto da cidade. E também não existem as pichações em muros louvando as conquistas do presidente indígena.Nas ruas arborizadas de Achumani e Calacoto, cresce uma oposição que não acompanha o sentimento do restante do altiplano boliviano, que é de apoio incondicional a Evo Morales. Para a nutricionista Verônica Cortez, a verdade é que o governo atual não é muito diferente dos anteriores. "Há muita corrupção, muito egoísmo. E é um governo carregado de ódio, de ressentimento, que tem muita energia ruim".A empresária Maria Eugênia Barreiro considera que a Bolívia já era um país atrasado em cem anos e agora está retrocedendo ainda mais. Ela pensa que as nacionalizações de algumas empresas, como as que operavam no setor de gás, foram muito prejudiciais ao país: "quem virá investir se há uma insegurança bárbara? Que empresário virá à Bolívia se não sabe o que vai acontecer amanhã?"Ao lado de Maria Eugência, a contadora Regina Medina concorda e acrescenta que há uma crise econômica terrível. O preço do frango, item fundamental do cardápio boliviano, nunca esteve tão alto.Para o militar reformado Julio Arano Saldaña, a única saída é a revogação do mandato de Evo Morales no domingo, quando a Bolívia vai às urnas para decidir se o presidente e oito dos nove governadores devem continuarseus mandatos. Ele acredita que se Morales não deixar o Palácio Quemado, o país vai chegar a uma guerra civil por conta da demanda de alguns estados por maior autonomia em relação ao governo central.Nos bairros de Achumani e Calacoto, ninguém esconde que a relação de Morales com o presidente da Venezuela Hugo Chávez incomoda. A enfermeira Jaqueline Mela admite que seu presidente chegou até a ter ações que outros governos não tiveram, mas afirma que ele se deixou influenciar muito pelo colega venezuelano. "Agora querem militarizar a todos nós. Não temos porque estar esperando outros países. O governo está provocando a todos, fazendo com que nos enfrentemos".Conforme constatamos, a oposição a Evo Morales está muito mais perto do que ele imagina e não é preciso cruzar a Bolívia até o departamento de Santa Cruz de La Sierra para encontrar descontentes com o presidente do país.
FINAL :

16/08/2008 - 18h01
Confirmada vitória esmagadora de Morales em referendo

Por Carlos Alberto Quiroga
LA PAZ (Reuters) - A Corte Nacional Eleitoral da Bolívia confirmou neste sábado a esmagadora vitória do presidente do país, Evo Morales, no referendo de domingo passado, mas o líder da oposição recebeu o resultado da consulta com uma enxurrada de insultos.
O presidente, de esquerda e origem indígena, acaba de cumprir a metade de seu mandato de cinco anos. Ele foi ratificado no cargo com 67,41 por cento dos votos válidos, informou a autoridade eleitoral, num momento em que setores conservadores retomam manifestações de protesto regionais.
Além de Morales, também foram ratificados os governadores de quatro departamentos que formam a chamada "meia lua" opositora e são liderados por Rubén Costas, de Santa Cruz.
Com esse resultado, permanece ativo o choque entre a nova Constituição "plurinacional" e socialista defendida por Morales e as reivindicações regionais de autonomia.
A divulgação da contagem de 99,99 por cento dos votos das seções eleitorais coincidiu com distúrbios em Santa Cruz, bastião direitista no leste da Bolívia, onde manifestantes defensores da autonomia regional tomaram brevemente na sexta-feira a sede da polícia.
"Os resultados confirmam uma vez mais a legitimidade de duas agendas que se opõem, o que obriga à busca de um ponto comum, antes que os surtos de violência se estendam perigosamente", disse o diretor do independente Centro para a Democracia Multipartidária, Guido Riveros.
O resultado confirmou também a prevista derrota dos governadores dos departamentos andinos de La Paz e Cochabamba, aliados dos quatro departamentos da "meia lua", que desafiam Morales com suas ações pela autonomia.
A proclamação oficial dos resultados não será feita antes da última semana de agosto porque a votação terá de ser repetida em três seções do departamento de Oruro, no Altiplano, mas esses sufrágios são insignificantes no total de 21.974 urnas habilitadas para 4,04 milhões de eleitores em todo o país.
De acordo com o cômputo final, Morales recebeu 2,1 milhões de votos, ou 67,41 por cento, dos 3,3 milhões depositados, superando amplamente a votação com que chegou à presidência em janeiro de 2006: 1,5 milhão de votos, ou 53,7 por cento.
A participação eleitoral foi uma das mais altas na história boliviana: 83,33 por cento, segundo as autoridades eleitorais.
A Organização dos Estados Americanos rechaçou denúncias de supostas irregularidades no referendo e "validou a consulta em todos e cada um dos nove" departamentos, segundo declarou em Assunção, no Paraguai, o secretário-geral da entidade, José Miguel Insulza, de acordo com a imprensa local.

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