domingo, 8 de março de 2009

AMERICANOS FICAM US$ 16.5TRI MAIS POBRES.



Montante corresponde a 13 PIBs do Brasil e foi perdido principalmente com a queda das Bolsas e do valor dos imóveis

Com patrimônio reduzido, americanos compram cada vez menos e tentam poupar, alimentando círculo vicioso que derruba a economia

FERNANDO CANZIANDE NOVA YORK

Os norte-americanos estão enfrentando um súbito processo de empobrecimento que já destruiu cerca de US$ 16,5 trilhões da riqueza disponível entre as famílias nos últimos 15 meses. O valor equivale a mais do que tudo o que os EUA produzem em um ano e a quase 13 PIBs do Brasil. Só de setembro para cá, as famílias ficaram US$ 9,5 trilhões mais pobres.Os números são do IIF (Instituto de Finanças Internacionais), que reúne 380 grandes bancos, e foram divulgados em antecipação a dados semelhantes a serem publicados pelo Fed (o banco central dos EUA) nos próximos dias.São duas, basicamente, as principais fontes de poupança dos norte-americanos: seus imóveis e as aplicações que detêm, geralmente na Bolsa de Valores. Mesmo o dinheiro para a educação dos filhos são normalmente investidos em fundos de ações, que concentram mais da metade da riqueza das famílias, estimada hoje em US$ 61,4 trilhões.Há ainda uma parcela menor de aplicações em contas correntes remuneradas e em outros tipos de investimentos.Embora os preços dos imóveis continuem a cair sem parar nos EUA há quase três anos, a velocidade da queda diminuiu nos últimos meses. O impacto maior e direto da "destruição da riqueza" das famílias está concentrado na Bolsa, onde fica a poupança líquida que pode ser sacada a qualquer hora.De setembro de 2008 para cá, houve uma perda líquida entre as famílias de US$ 7,8 trilhões nesses investimentos na Bolsa (de US$ 33,6 trilhões para 25,8 trilhões). Como comparação, a perda com imóveis é estimada em US$ 1,8 trilhão no período.Obviamente, a queda dos índices no mercado de ações é o termômetro dessa perda. No ano, o índice Dow Jones da Bolsa de Nova York despencou cerca de 25%. Isso não significa que não possa haver uma reação, e as famílias voltarem a ficar um pouco mais ricas.O problema, porém, é que ao terem sua poupança dizimada, as famílias estão comprando cada vez menos e tentando poupar (o nível de poupança em janeiro atingiu o maior patamar em 14 anos).Essa combinação de fatores só reforça mais o já vicioso círculo em que a economia norte-americana está metida: o crédito secou, os consumidores compram menos, as empresas demitem e cada vez mais as famílias evitam gastar.Na sexta-feira, o Departamento do Trabalho dos EUA divulgou que mais 651 mil empregos foram cortados em fevereiro nos EUA, o que só reforça o ciclo descrito acima."Não há nenhum sinal de fim desse processo no horizonte. Em março ainda teremos o mesmo e não vejo nenhuma melhora para abril", afirma Tig Gilliam, executivo da Adecco, empresa de recrutamento de mão-de-obra para grandes companhias, como o Wal-Mart.O fenômeno de "destruição da riqueza" não é só americano (o índice FTSEurofirst 300, referência para as principais ações na Europa, está no seu nível mais baixo em 12 anos), mas em nenhum outro país há tanto dinheiro de pessoas físicas investido em ações.Além da perda nos valores das ações, os dividendos pagos pelos papéis aos investidores está hoje no nível mais baixo desde 1938, segundo cálculos da agência Standard & Poor's.Tamanha é a queda no mercado desde outubro de 2007 que cresceu dez vezes o número de ações negociadas abaixo de US$ 1, levando a Bolsa de Nova York a rever sua política de retirar de negociações papéis abaixo desse valor.Fantasma da DepressãoO empobrecimento das famílias, seu endividamento recorde e a necessidade de poupança são tão grandes que redes de varejo gigantes nos EUA, como Kmart e Sears, já ressuscitam modalidades de vendas que ficaram populares na Grande Depressão dos anos 1930.A principal é conhecida como "layaway", uma espécie de consórcio que ajuda consumidores indisciplinados a poupar antes de adquirir o produto. O cliente paga aos poucos pelo artigo e só o leva para casa quando tiver pago 100% do valor.Já o Wal-Mart, maior rede de varejo do mundo, iniciou estratégia agressiva para distribuir cartões de débito entre os estimados 35 milhões de americanos sem contas bancárias.Os cartões podem ser "carregados" com dinheiro nas lojas, mas a empresa informa que muitos consumidores que costumavam gastar cerca de US$ 1.500 ao mês cortaram suas despesas para US$ 800, valor médio do seguro-desemprego nos EUA.Mesmo assim, o resultado do varejo em fevereiro nos EUA só não foi negativo porque a venda cresceu 5,1% no Wal-Mart."Pouquíssimas redes têm boas estratégias de vendas voltadas exclusivamente para as classes mais pobres, mas quem as serve direito é rei em um momento como o atual", diz Bernard Sosnick, analista da Gilford Securities.

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