quinta-feira, 20 de agosto de 2009

BANCO PÚBLICO E ELEVAÇÃO DO CRÉDITO




Paulo Sérgio Xavier Dias da Silva
psxds@hotmail.com

O governo acertou ao utilizar bancos públicos para expansão do crédito e para desobstruir o empoçamento da liquidez

Demorou, mas enfim chegou o momento de elogiar um dos poucos acertos da equipe econômica do atual governo.
Depois de perder um precioso tempo no processo de diminuição das taxas básicas de juros, da ineficácia na gestão dos programas de investimentos em infraestrutura e logística, do engavetamento da reforma tributária, da inércia na redução dos encargos trabalhistas e do custo Brasil, da falta de maior incentivo ao mercado interno e da ausência de uma política econômica mais consistente para o enfrentamento da atual crise, entre outros equívocos, temos que admitir o êxito na decisão do governo em utilizar os bancos públicos para a expansão do crédito e para desobstruir o empoçamento da liquidez da economia.
Atuando na defensiva, as instituições financeiras privadas usaram a tática dos times de futebol mais retranqueiros, ficando apenas com um atacante na frente e os demais jogadores, do meio de campo para trás, ou seja, mantiveram os juros em patamares elevados e atuaram com excessivo rigor na concessão de crédito.
Conforme já havíamos alertado em nosso artigo “Bancos e os riscos do negócio”, publicado no DCI, em 25/05/09, os bancos precisam relembrar que o risco faz parte de qualquer negócio e da necessidade de direcionar mais os seus recursos para créditos ao setor produtivo, já que a época das “vacas gordas” dos lucros exagerados e fáceis, oriundos das aplicações maciças em títulos públicos, estava acabando, com a redução gradual da taxa básica de juros, Selic.
Além da curiosa aversão ao risco, derivada daquele perfil demasiadamente conservador de seus investimentos, os bancos privados tentaram evitar ao máximo, a redução dos juros nos empréstimos concedidos e de qualquer ação que implicasse num decréscimo da margem de lucro de suas operações financeiras.
Neste cenário, exigiram até que o governo mudasse as regras de remuneração da caderneta, em vez de diminuir as absurdas taxas de administração dos seus fundos de investimentos, e só depois de perceberem que aquelas medidas anunciadas ficaram na geladeira é que iniciaram um processo forçado de redução.
Também não se esforçaram para a implantação do cadastro positivo, mesmo alegando que a inadimplência representava um terço do custo do spread bancário.
Quando postos em cheque porque não reduzem as suas taxas de juros e incrementam seus empréstimos ao setor produtivo, principalmente para as pequenas e médias empresas, defendem-se alegando o alto risco envolvido nessas operações.
Neste aspecto, quem diria, os bancos públicos deram uma verdadeira lição estratégica e apostaram na expansão do crédito, ampliando significativamente suas carteiras de empréstimos, enquanto os maiores bancos privados apresentaram redução.
Como resultado, o Banco do Brasil obteve um excelente desempenho no primeiro semestre, conseguindo conciliar o aumento da concessão de crédito com a queda da inadimplência.
Assim sendo, o Banco do Brasil (BB) apresentou um expressivo lucro - de R$ 4,01 bilhões - , apesar de registrar um pequeno crescimento em relação ao idêntico período de 2008, e voltou a liderar o ranking dos maiores bancos do País, com R$ 598,8 bilhões de ativos totais, recuperando a posição perdida anteriormente para o Itaú Unibanco.
A continuar nesse ritmo, o BB, em termos de lucratividade, poderá ultrapassar o Bradesco, que teve um lucro quase idêntico (R$ 4,02 bilhões) e a ameaçar a liderança do Itaú Unibanco (R$ 4,58 bilhões). Talvez isso explique o desabafo do ministro da Fazenda Guido Mantega, em resposta às provocações de Roberto Setúbal, do Itaú Unibanco, de que as taxas cobradas pelos bancos públicos são insustentáveis.
Além de lamentar “a dor de cotovelo” do representante do Itaú Unibanco, preferimos enaltecer as declarações do presidente do BB, Aldemir Bendine de que aquele banco público adotou a estratégia correta ao dar um voto de confiança ao País e trabalhar para o destravamento das linhas de crédito.
Devemos ressaltar também a mesma atitude adotada pela Caixa Econômica Federal, que vem expandindo suas operações de crédito e reduzindo as taxas de juros.
A partir deste momento, cabe aos bancos privados reverem seus critérios de concessão de crédito, reduzir os juros e acreditar mais no empresariado nacional, para não perder o bonde da história ou figurar como um dos vilões do crescimento econômico brasileiro.
O Brasil só conseguirá reverter os efeitos adversos desta crise internacional e partir para um desenvolvimento econômico sustentável se contar com a valorização do seu setor produtivo e com a presença de um setor financeiro atuante e parceiro.
A concorrência entre os bancos, como nos demais setores da economia, é salutar e não deve ser temida. Basta de premiar o ganho fácil e a especulação financeira.

Paulo Sérgio Xavier Dias da Silva, economista graduado pela Universidade de São Paulo (USP), consultor e assessor empresarial, especializado na recuperação e expansão de empresas em dificuldades financeiras.

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