segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Special Management Program - John Percival


Com o dinheiro dos outros

Em vez de criar valor, a FedEx destruía valor, erodindo o investimento dos acionistas. Confira como o professor John Percival chega a essa conclusão.
No que tange ao giro de capital (Giro de capital = receitas/capital total), outro indicador importante, que expressa a receita que geramos para cada dólar investido, tanto uma quanto outra empresa tiveram declínio, mas a UPS apresentou situação mais confortável. “Se o giro de capital diminui, enquanto a receita cresceu, provavelmente houve, por parte da FedEx, investimentos consideráveis em lindos aviões, logística e tecnologia de ponta”, explica Percival que, a respeito de Fred Smith, comenta “O edifício sede da FedEx é suntuoso. Ele adora investir o dinheiro dos outros”.

A consequência direta é um abalo no ROIC (ROIC = NOPAT/capital), que mede o retorno sobre o capital investido. Para a FedEx, o ROIC foi se tornando menor do que o custo de capital (Custo do capital = (passivo/capital)+ (patrimônio líquido/capital)), ainda que o custo de capital fosse baixando. “Mas o custo de capital ia baixando, porque os juros estavam caindo, não porque a gestão era boa. O ROIC caiu ainda mais; isso significa que Fred Smith destruiu o valor do capital da FedEx”, avalia o professor. Isso não acontecia com a UPS.

Custo de capital

“Capital tem custo! Qual o custo da dívida?”, provoca Percival. Ele explica que o custo médio ponderado do capital é a soma do custo do passivo com o custo do patrimônio líquido. O palestrante alerta para os equívocos de apostar nos juros dedutíveis de impostos: “Os juros são dedutíveis do imposto, mas só interessam quando se está lucrando”. Nos Estados Unidos, as empresas tomam dinheiro emprestado e deduzem os juros dos 25% de impostos. Isso contribui para a superalavancagem de empresas no mundo todo. “Vamos, então, colocar os juros após a tributação”, conclama.

Ele acrescenta que o custo de capital é a medida do que deveríamos ter ganhado. O retorno é o que ganhamos de fato. A criação de valor, portanto, começa com o custo de capital. “Se você não está criando valor, está destruindo, e isso é inaceitável. Invista em alguém que sabe o que está fazendo!”, recomenda.

EVA e MVA

O EVA (EVA = lucro econômico = (retorno do capital total – custo do capital) x capital) é uma medida, em unidades monetárias, do valor econômico agregado. “O que você investiu será um número positivo. Dada a definição do EVA, a condição necessária para valor econômico agregado positivo é que a taxa de retorno seja maior do que o custo de capital”. Isso era exatamente o que não acontecia na FedEx. Mas acontecia na UPS.

O MVA (MVA = valor de mercado do capital – valor contábil do capital), por sua vez, é o valor agregado segundo o mercado. É uma medida que se obtém considerando o preço da ação, que é o valor de mercado do capital, e subtraindo-se o valor contábil do capital. Na FedEx, o MVA era de US$1,9 bilhões em 1985; dez anos depois, era US$ 600 milhões de dólares menor, ou seja, US$ 1,3 bilhões. “A maré crescente não fez esse barco flutuar, ele estava afundando, mas Fred Smith estava usando cada vez mais o dinheiro dos outros”.

Por outro lado, a UPS mais do que dobrou seu MVA nos mesmos dez anos, saindo de US$3,5 bilhões e atingindo US$9 bilhões em 1994. Em outras palavras, ela aumentou o valor do dinheiro que o investidor colocou na empresa.

A conclusão a que se chega, diante desse quadro comparativo entre duas empresas aparentemente semelhantes, é que a UPS –ainda que “marrom” e conservadora– adotou um padrão de excelência para a execução da estratégia e a gestão financeira muito superior ao da FedEx, tendo sido muito mais competente da criação de valor.

Movimentos de mercado e excelência

Não apenas à grandiosidade de seu fundador se pode atribuir a ingerência financeira da FedEx. Percival não se furtou a comentar uma mudança fundamental no mercado: já não é tão importante que as entregas cheguem em 24 horas ao seu destino, o que é a promessa da FedEx e foi seu grande diferencial por muito tempo. As mensagens chegam praticamente em tempo real por e-mail e, em relação às compras efetuadas pela internet, o consumidor parece aceitar com facilidade um prazo de três dias para entrega. Nesse sentido, a FedEx vê desbotar um dos seus diferenciais e aproximar-se da UPS na mente dos clientes.

Percival conta que, ao longo dos anos e até os dias atuais, a FedEx realizou um trabalho de buscar a excelência em finanças, enquanto a UPS realizou o benchmarking das operações da FedEx. As duas, portanto, vêm desenvolvendo seu aprendizado. O MVA da FedEx atingiu US$11,5 bilhões em 2007. O da UPS, até hoje se mantém em patamares superiores: US$53,8 bilhões.




HSM Online
03/08/2009

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