segunda-feira, 27 de abril de 2009

A FATURA COMEÇA A CHEGAR AO GOVERNO



Artigo publicado no DCI, edição de 13/04/09
Paulo Sérgio Xavier Dias da Silva
psxds@hotmail.com


A máxima “ se a economia vai bem, tudo vai bem “, parece cada vez mais apropriada para o recente caso brasileiro.De fato, enquanto o mercado interno crescia vigorosamente, mais a reboque da expansão do comércio internacional, a popularidade do governo Lula parecia intocável.
Os sucessivos escândalos oriundos tanto do seu primeiro escalão, quanto da sua base aliada no Congresso, protagonista do famigerado mensalão, não eram capazes de abalar a reputação e o julgamento do desempenho governamental e, muito menos do nosso Presidente.Ao cidadão comum bastava, o seu emprego, o aumento da renda e os programas assistenciais que retiravam muito de nossos irmãos da pobreza absoluta.
Até boa parte da classe empresarial compartilhava daquela aprovação, pois a economia estava aquecida, e até os equívocos da política monetária eram tolerados.
Mesmo a oposição, sem dispor de um programa econômico alternativo, ficava quase sempre silenciosa, em cima do muro e sem forças para reagir politicamente, com medo da falta de respaldo popular.
Quando algum esclarecido argumentava que o crescimento tão enaltecido pelo governo era inferior aos de muitos países emergentes, que os juros básicos estavam em patamares estratosféricos e que o governo não estava fazendo sua lição de casa, era taxado de inconformado e pessimista.
A frase preferida “ nunca na história desse País ... “ precedia o anúncio das conquistas, muitas delas só resultaram em projetos incompletos ou promessas, e ficamos aguardando a ocorrência “ do espetáculo do crescimento “.Entretanto, a crise econômica internacional, apelidada pelo Presidente, de marolinha, chegou para valer.
Como imaginar que uma crise financeira de sérias proporções gerada no seio da maior economia do planeta - responsável por grande porcentagem do comércio internacional e sendo o dólar, a moeda oficial das transações mundiais - não teria maiores repercussões no Brasil? Seria muita ingenuidade ou sinal de arrogância e soberba.
Era evidente que o nosso primeiro mandatário não poderia sair apregoando o pessimismo, mas deveria ter reconhecido que apesar da crise ter conotação global, o Brasil estava em condições para enfrentá-la.E realmente estava, como comentamos no artigo do DCI, de 11 de fevereiro deste ano. Mas a equipe econômica não se preparou para enfrentar desafios e ficou na inércia, torcendo para que os efeitos adversos fossem mais brandos e de ligeira duração.
O Ministro da Fazenda, Guido Mantega, ainda afirmava nos EUA, depois do primeiro encontro entre os presidentes Lula e Barack Obama, que o governo ainda tinha muita bala na agulha. Só que a fera, ou inimigo a ser liquidado está crescendo e vindo para cima, e, se os disparos demorarem, não adiantará ter um revólver: será necessário acionar rapidamente, um canhão de grande calibre.
Até quando teremos essa poderosa arma em nosso arsenal econômico ?O Banco Central, guardião de nossa moeda, com todos os dados e informações disponíveis, teve uma atitude míope, de manter por longo tempo, o juro básico extremamente elevado, na contramão das demais economias, e subestimou os efeitos da crise.
Só recentemente, admitiu seu erro, como consta do último relatório de inflação, divulgado em 30 de março, reconhecendo que, mesmo se a taxa Selic for reduzida para um dígito, a inflação ficaria abaixo do centro da meta.
Aliás, o final do mês de março foi um período nada agradável para o governo, repleto de más notícias, que devem servir de alerta para uma mudança radical da postura dos mentores da política econômica:
- retração do nível de atividade e dos investimentos, principalmente do setor industrial.
- redução da projeção do crescimento do PIB ( Produto Interno Bruto )estimada pelo Banco Central, para 2009.
- aumento do desemprego;
- início dos protestos dos sindicatos dos trabalhadores;
- decréscimo na arrecadação de tributos;
- corte substancial no orçamento, afetando inclusive setores estratégicos como educação e segurança;
- queda na avaliação do governo federal nas últimas pesquisas;
- diminuição na aprovação do desempenho pessoal do presidente.
Ou seja, parece que a festa acabou , mas os escândalos continuam. Enquanto as empresas cortam custos e demitem pessoal, o Palácio da Alvorada continua com quase 1.800 funcionários , repleto de assessores bem remunerados, e o Senado, ainda está superlotado com 131 diretores, depois da extinção de 50 diretorias. Faltava espaço para tanto diretor, que até inventaram diretorias virtuais.
Só restava ter sido criada a Diretoria para Assuntos Escusos e Aleatórios.
Como o ambiente está mudando, as faturas da inércia e da incompetência da área econômica estão chegando para o governo pagar. Se elas continuarem a serem enviadas para ao Palácio da Alvorada, em valores cada vez mais elevados, será que o governo vai ter “ mais dinheiro político e apoio popular “ para pagá-las ?

Nenhum comentário: