quarta-feira, 16 de julho de 2008

Como ganhar com as commodities



A escalada no preço das matérias-primas tem sido impressionante nos últimos anos. Ainda dá tempo de lucrar com o boom? Sim, dizem os analistas


Por Guilherme Fogaça
EXAME A sirene da inflação começou a soar mundo afora em 2007 quando ficou claro que o preço das matérias-primas tinha fôlego para continuar a escalada iniciada nos anos anteriores. Se por um lado essa alta dos preços tem assustado políticos, dirigentes de bancos centrais e a população em geral, por outro tem feito a alegria de milhões de investidores. Quem aplicou 1 000 reais nas ações da Petrobras há três anos, por exemplo, hoje pode colocar mais de 3 600 reais no bolso. E quem perdeu essa chance? Passado mais de um ano desde o início do grande salto nos preços de matérias-primas agrícolas e de energia, muita gente anda se perguntando se ainda é hora de apostar no boom das commodities.
A resposta é positiva, de acordo com os 15 analistas de bancos e corretoras ouvidos por EXAME. Para a maioria deles, hoje o investidor comum deve alocar até 10% de seu portfólio em commodities. Isso porque as aplicações em matérias-primas, apesar de estarem mais turbulentas, ainda guardam boas oportunidades. Mesmo estando em seus maiores níveis históricos, os preços devem passar por novas altas, acreditam os analistas. O motivo? Os principais fatores que trouxeram a elevação até aqui — explosão do consumo nos países emergentes, dificuldade de aumentar a produção rapidamente e desvalorização mundial do dólar — não desapareceram. “O mundo está passando por um momento de grande demanda, assim como aconteceu na reconstrução dos países depois da Primeira e da Segunda Guerra Mundial. Desta vez, porém, trata-se da construção do parque industrial chinês e do crescimento dos países emergentes”, diz Paschoal Paione, analista de mineração e siderurgia da Quest Investimentos. “Mesmo que os preços das principais commodities, como petróleo, aço e grãos, oscilem no curto prazo, há espaço para novas altas, pelo menos enquanto a oferta e a demanda mundial não voltarem ao equilíbrio.” Além da perspectiva de alta, a aplicação em commodities tem uma vantagem adicional: em tempos de inflação elevada, ela confere um caráter de proteção ao portfólio. Quando os preços sobem, as pessoas tendem a perder tanto como consumidores quanto como em muitas aplicações financeiras. Faz sentido, portanto, ter parte da carteira em ações de empresas que vão ganhar com a alta dos preços.
No Brasil, há duas grandes opções para quem quer investir em commodities: aplicar em ações de empresas ligadas ao setor ou investir em contratos no mercado de derivativos — nesses casos, o investidor assume o compromisso de comprar ou vender um ativo (soja, milho, entre outros) por determinado preço numa data futura.
Como os investimentos no mercado de futuros tendem a ser mais arriscados do que as ações, o ideal é começar pela bolsa. Vários bancos oferecem fundos de ações de companhias ligadas ao setor de commodities e, por isso, encontrar uma alternativa não chega a ser um problema. Nesse caso, a única escolha relevante é quanto ao tipo de fundo — há fundos de empresas de petróleo, mineração e infra-estrutura (que inclui também empresas fora do segmento de commodities). Para quem prefere aplicar diretamente na bolsa de valores e escolher uma a uma as ações, é importante lembrar que, embora o cenário seja positivo no longo prazo, as cotações das companhias de commodities devem oscilar. “A forma de se proteger da volatilidade é buscar as empresas mais negociadas no mercado, como Petrobras e Vale”, diz Júlio Martins, diretor da Prosper Gestão de Recursos. A boa notícia é que o momento atual é favorável à compra. No primeiro semestre, os papéis da Petrobras se valorizaram 5,2% e os da Vale se desvalorizaram 5,2%. No mesmo período, as cotações do petróleo e do minério de ferro subiram 48% e 65%, respectivamente. “Essa diferença torna as duas ações relativamente baratas”, diz André Paes, diretor de análise e estratégia de produtos da Infinity Asset.
Outra atração entre as commodities são as companhias siderúrgicas. “Com a produção de veículos batendo recordes no mercado interno, as empresas estão operando perto do limite da capacidade”, diz Eduardo Cotrim, sócio da área de trading do banco Modal. Embora atraentes, as ações dessas companhias têm um risco maior do que Petrobras e Vale. Como o setor siderúrgico é muito dependente do mercado interno, ele sofreria mais com uma eventual diminuição do ritmo da economia brasileira causada pela alta dos juros. O setor de alimentos, outra indicação dos analistas ouvidos por EXAME, possui produtos mais facilmente exportáveis e pode readequar suas vendas conforme a demanda, focando nos países que apresentarem maior aquecimento no consumo.
Quem tem mais apetite por risco pode também colocar parte das economias no mercado de derivativos. Embora haja poucos fundos que apliquem no mercado de futuros na BM&F Bovespa, a maioria deles tem um robusto histórico para apresentar — até porque estão surfando a onda das commodities. O Sparta Cíclico, da gestora paulistana Sparta, que aplica em sete commodities, já deu resultados superiores a 1 000% em menos de três anos de funcionamento. Apesar do aparente sucesso desse tipo de aplicação, o investidor precisa prestar atenção nas promessas de grandes retornos. “Fundos que investem em uma única commodity são muito arriscados. A diversificação é fundamental para a sobrevivência”, diz Victor Abou Nehmi Filho, gestor de fundos da Sparta. Para os investidores mais experientes — e valentes —, existe a alternativa de ganhar com commodities aplicando diretamente no mercado de futuros, ou seja, sem a intermediação de um fundo. “Esse é um mercado bastante arriscado e com pouca liquidez, atrativo para poucos”, afirma Octávio Magalhães, gestor da Guepardo Investimentos, de São Paulo. Independentemente da alternativa de investimento escolhida, uma coisa é certa. O aplicador que decidir apostar em commodities vai precisar de um coração forte. A expectativa é que elas passem por grandes variações de preço nos próximos meses, o que não é necessariamente uma notícia ruim. Como gostam de dizer os gestores, é justamente nos momentos de alta volatilidade que se encontram ótimas oportunidades de ganho no longo prazo.

PORTAL EXAME.

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