terça-feira, 4 de novembro de 2008

Lírio Parisotto : A encarnação do otimismo .


O empresário e investidor Lírio Parisotto viu 600 milhões de reais em ações desaparecerem. Sua empresa, a Videolar, passa por dificuldades. Medo? Pânico? Que nadaGermano Lüders Parisotto, em seu escritório: a frustração é não ter mais dinheiro para investir.Nas últimas duas décadas, o empresário gaúcho Lírio Parisotto, de 54 anos, construiu o que pode se chamar de uma história de sucesso. Nascido numa família de agricultores, trabalhou como representante comercial até criar a Videolar, em 1988. A empresa, que nasceu produzindo fitas cassete e VHS, hoje fatura 1,4 bilhão de reais e é líder de mercado entre os fabricantes nacionais de CDs e DVDs. Uma década depois da criação de seu negócio, em 1998, Parisotto decidiu entrar no mercado de ações aplicando recursos próprios na bolsa. Em seu melhor momento, chegou a multiplicar por 7 os 200 milhões de reais que investiu no período, transformando-se num dos maiores investidores individuais da Bovespa. Tudo parecia bem até 15 de setembro, quando eclodiu a crise financeira que derrubou os mercados do mundo inteiro. Em pouco mais de um mês, Parisotto perdeu nada menos que 600 milhões de reais, dinheiro suficiente para deixar qualquer ser humano prostrado. Mas ele continua otimista. "Prefiro pensar que não perdi nada porque não vendi nada. As ações vão subir", disse Parisotto a EXAME em seu escritório, instalado dentro da corretora Geração Futuro, responsável pela carteira. "Mas é claro que eu adoraria ter vendido todas um dia antes da queda." Parisotto é um fundamentalista da bolsa de valores, aquele tipo de investidor que, depois de convertido ao mercado acionário, simplesmente o transforma numa profissão de fé. Desde que deixou o comando da Videolar, no início do ano, passa a maior parte do tempo no amplo espaço composto de três salas na Geração Futuro. Esse arranjo foi idéia dos donos da corretora, um sinal de deferência pelo tamanho de sua carteira de ações. Mesmo com o tombo dos últimos tempos, o portfólio de Parisotto está hoje em torno de 700 milhões de reais, e é parte de um fundo ainda maior que ele tem, com outros 15 investidores - a quem chama de confrades. Quando está em sua sala na corretora, o que acontece de segunda a sexta, desde de manhã até bem depois que os mercados fecham, Parisotto acompanha as oscilações de seus investimentos em um monitor de 26 polegadas. Ao fim do pregão, o mesmo ritual: um dos operadores lhe entrega um boletim com o saldo do dia. Por enquanto, seu desempenho tem sido melhor do que o da bolsa - seu fundo perdeu 46% no ano, ante os 54% do Ibovespa. Apesar do mais de meio bilhão de reais perdido, o empresário-investidor vem desenvolvendo uma estratégia ainda mais agressiva nestes tempos de crise. A idéia é usar tudo o que for pago em dividendos das empresas da carteira - algo como 100 milhões de reais por ano - para comprar o que estiver na bacia das almas. Para ele, os papéis de Vale, Usiminas e Randon estão "de graça". "Triste não é a queda da bolsa, é não ter mais dinheiro para investir. Sinto-me como Imelda Marcos numa loja de sapatos", diz, referindo-se à mulher do ex-ditador das Filipinas Ferdinand Marcos, famosa por sua coleção de 3 000 pares de sapatos. Com quase uma década de bolsa de valores, Parisotto desenvolveu uma cartilha bem própria para definir que papéis comprar e o melhor momento para fazê-lo. Entre suas regras peculiares, está manter distância de IPOs. "Para mim, o que chegou à bolsa é lixo." Não compra Petrobras ("a empresa é muito emperrada") e também tem horror a cadeias varejistas e companhias aéreas. "Se não estão quebradas, quebrarão um dia", diz. Antes de sair às compras, estuda a fundo os balanços das empresas e, principalmente, verifica se a companhia é boa pagadora de dividendos - em média, se dá por satisfeito com 40% do lucro. "Queda de preço não me preocupa. O que me deixaria apavorado é queda no lucro." Isso é o que mais o tem incomodado em relação a algumas empresas de seu portfólio. "Estou perdendo a paciência com a Braskem. Já passou da hora de essa empresa dar mais lucro." Na defesa de seus interesses, Parisotto chegou a cobrar uma melhora nos resultados diretamente do presidente da companhia, na época José Carlos Grubisich, de quem é vizinho. "Acho que ele passou a mudar de caminho quando me via, porque depois disso não o encontrei nunca mais." Para ajudar no processo decisório, Parisotto tem ainda um método especial que, segundo ele, é infalível para saber se os executivos de uma companhia são dedicados ou não. "Basta ver se contratam consultorias. Consultoria é coisa de executivo preguiçoso." Neste momento, a bolsa tem sido um enorme desafio para Parisotto, mas está longe de ser o único. A empresa que deu origem à sua fortuna, a Videolar, também passa por momentos de dificuldade. No ano passado, a receita caiu cerca de 10% e o lucro diminuiu 70%. Os números não são tão trágicos quanto as perdas no mercado de ações, mas foram encarados como um aviso de que a situação requer cuidados. Nunca, em 20 anos de história, a Videolar havia registrado queda de faturamento. Tal resultado é atribuído à concorrência de produtos piratas, principalmente CDs e DVDs gravados, e à invasão de produtos chineses, especialmente de discos para gravação. "Estamos fazendo um esforço imenso para manter em 2008 os números do ano passado, mas não está fácil", diz Phillip Wojdyslawski, sócio de Parisotto na Videolar e atual presidente da empresa. Parisotto lhe passou o cargo depois de concluir, há dois anos, que se cansou de enfrentar os problemas do setor. Àquela altura, vivia com pressão alta e insônia. "Decidi jogar a toalha em relação à pirataria, porque a sociedade a tolera", diz o empresário. Sob o cerco dos chineses Para alguém tão chegado ao mercado de ações, a hipótese de abrir o capital chegou a passar pela cabeça de Parisotto, mas ele acabou não se animando muito. "Quando ainda presidia a empresa, havia pilhas de propostas de bancos em minha mesa. A Videolar está arrumada, tem balanços auditados, mas eu não abriria o capital de uma empresa que não tenho coragem de oferecer a meu melhor amigo", diz. Num recurso extremo, Wojdyslawski pediu recentemente salvaguardas ao governo brasileiro em relação aos produtos chineses. Os trâmites do processo demoram um ano e, caso o governo aceite os argumentos da empresa, os importados deverão ser sobretaxados. Com isso, a Videolar ganhará oxigênio extra. "Seremos os últimos a apagar a luz, produziremos até o último cliente, mas sei que esse negócio não tem futuro", diz Parisotto. Outra tentativa para recuperar a empresa é um investimento de 100 milhões de dólares previsto para 2012: a ampliação de uma petroquímica que é parte do grupo e produz resinas em Manaus. A unidade foi construída em 2002 para, inicialmente, fornecer plástico à Videolar e, eventualmente, vender o excedente a outras indústrias de eletrônicos da Amazônia. O negócio vai bem e, hoje, responde por um terço das receitas e quase todo o lucro da Videolar. "Essa será a nova cara da empresa." Quem não conhece a trajetória de Parisotto pode estranhar o otimismo com que o empresário enfrenta os desafios. Ele nasceu em Nova Bassano, no interior do Rio Grande do Sul, numa família pobre de agricultores. Sua história de empreendedor é exemplar. Na década de 70, Parisotto vendia toca-fitas para automóveis comprados em São Paulo. Na época, poucos carros que saíam de fábrica tinham o aparelho como item de série e a empreitada foi um sucesso. Em 1980, abriu uma loja de equipamentos eletrônicos em Caxias do Sul. Em 1985, foi convidado pela Sony para participar de uma convenção no Japão e, lá, conheceu o processo de fabricação de fitas de vídeo sob medida para o tamanho do filme e de gravação de filmes - o que evitava desperdícios e, portanto, custos. Mais tarde, em uma viagem a Nova York, conheceu o videocassete. Dois anos depois, com o país em crise, Parisotto vendeu a loja aos sócios e, em 1988, com 2 milhões de dólares em caixa, montou a Videolar, em Caxias do Sul. A empresa, localizada a mais de 1 000 quilômetros do principal mercado consumidor - a cidade de São Paulo -, foi a primeira fábrica brasileira de gravação de conteúdo em fitas fabricadas sob medida para o tempo de reprodução. "Sempre fui um otimista". As perdas na bolsa Nos últimos 60 dias, Parisotto só saiu duas vezes da frente de seu monitor. Foram duas viagens rápidas ao exterior. Na primeira, foi a Nova York fechar a compra de um apartamento. "Os preços caíram", diz. Na segunda, foi com quatro amigos à região da Borgonha, na França, visitar produtores do famoso vinho Romanée-Conti, um dos mais caros do mundo e uma de suas paixões. Garante que, em ambas ocasiões, não entrou na internet nenhuma vez para ver os fechamentos do pregão. "Assim como o ministro Guido Mantega, não perdi uma noite de sono com a crise." Quando reafirma sua postura de tranqüilidade, Parisotto preocupa-se em não parecer, com a atitude, tripudiar sobre as desventuras econômicas alheias. "Sei que as pessoas estão num momento ruim. Mas é preciso trabalhar e olhar o longo prazo, porque as crises têm início e fim." Nesse sentido, diz que quem o inspira é o mítico investidor americano Warren Buffett, o homem mais rico do mundo. Parisotto está lendo sua recém-publicada biografia, Snow Ball, de Alice Schroeder. Assim que Buffett anunciou que compraria 5% do banco de investimento em crise Goldman Sachs, há um mês, Parisotto decidiu comprar dez ações de sua empresa de participações, a Berkshire Hathaway, por 115 000 dólares cada uma. O objetivo é participar, no próximo ano, da assembléia de acionistas da empresa em Omaha, no remoto estado de Nebraska, apenas pelo prazer de estar lá. "Quem dera ter o discernimento e a serenidade de Buffett", diz. Com a calma que Parisotto demonstra diante de um tombo de mais de meio bilhão, até que ele não está tão longe de seu objetivo.Confissões de um investidor Como Lírio Parisotto vê a crise que tem abalado a Bovespa "Dou uma garrafa de Romanée-Conti a quem me disser qual analista previu a bolsa nos 30 000 pontos de agora ""A hora certa de entrar na bolsa não é na alta nem na baixa. É quando se tem dinheiro, e estou triste por não ter mais dinheiro agora para comprar mais ""Quando o mercado está em baixa, me sinto como uma Imelda Marcos em uma loja de sapatos "Não compro papel nem de empresas de varejo nem de companhias aéreas. Comércio e companhia aérea, se já não estão quebrados, um dia quebrarão ""Quem me dera um dia ter a tranqüilidade e o discernimento de Warren Buffett ""Não abriria o capital de uma empresa se eu não tivesse coragem de oferecê-la a meu melhor amigo"

Um comentário:

Fernando Bonilha disse...

Quero minha garrafa de Romanée-Conti!!!
Se ele tivesse acompanhando meu blog teria acompanhado indicações de desaranjo no mercado cambial:(http://aviso-navegantes.blogspot.com/2008/10/santa-elisa-vale-sadiae-falta-de.html)e mesmo a previsão de queda da bolsa: (http://aviso-navegantes.blogspot.com/2008/07/anlise-bovespa-eua.html)
Voces podem me dar o e-mail dele?
Abs
Fernando Bonilha