quinta-feira, 9 de julho de 2009

O SILENCIO DO SENADOR EDUARDO SUPLICY.


Outro dia, conversando com um amigo, descobri que ele era fã do Eduardo Suplicy. Meu amigo fez rasgados elogios ao eterno senador. Discordei na hora, e argumentei que poderia dar mais de uma dezena de razões para não admirá-lo como político. Aliás, como pessoa comum, eu o elegeria um dos homens mais puros da terra.
Alinhavei as razões das minhas ressalvas:
Vamos lá:
Suplicy é tão ingênuo que acha que sabe de tudo o que acontece no congresso.
Não sabe.
Quando querem tramar alguma barbaridade, os políticos sempre procuram esconder do Suplicy o que estão aprontando.
Quando querem dar um ar nobre a uma idéia estapafúrdia qualquer - dessas que nascem ao borbotões em Brasília - os políticos dizem: peguem o apoio do Suplicy e vocês ganham a mídia e a opinião pública.
Suplicy acha que todo pobre é um anjo disfarçado e a pobreza é a reserva moral da humanidade.
Uma crença dessa só é possível para quem nunca foi pobre como é o seu caso.
Ele não conhece trabalho duro e por isso tem imensa dó de quem trabalha.
No entanto nunca demonstrou dó de quem é obrigado a dar quase a metade do salário ao governo na forma de impostos de todo tipo.
Aliás Suplicy adora dar esmola aos pobre; quase chora quando fala da sua monomaníaca “renda mínima”. Acredito que nem sabe o que é renda. Renda é o que rende do trabalho de alguém. Dar dinheiro para pobre - mesmo que pela nobre razão de matar-lhe a fome - não é distribuir renda, é dar esmola ou dar presente. É dar esmola com o bolso alheio, ainda por cima.
Outra coisa, o senador é uma espécie de bobo da corte em Brasília. Gostam de ouvi-lo quando precisam acalmar as consciências pesadas e dão bordoadas nele quando se empolga e começa a exagerar em suas cantilenas.
Essa pureza ingênua acaba criando um ar menos fétido à classe política e isso não é bom para o povo. Sem querer, Suplicy transformou-se numa espécie de reserva moral dessa classe e isso é um absurdo.
Por fim, embora seja honesto e sincero como pouca criatura nesta terra, Suplicy não é um radical, nunca quis ser um São Francisco que abriu mão de todo conforto, de todo luxo e foi viver com os mendigos e experienciar a vida dos que não possuem absolutamente nada. Pelo contrario, cultiva com carinho a boa e confortável vida que herdou dos pais.
Uma coisa positiva nele é que jamais segue rigorosamente a cartilha do PT. Nunca foi confiável à cúpula do mesmo. Embora seja um ícone luminoso da história da esquerda brasileira, não participa do núcleo de poder do partido; seus dirigentes preferem ostentá-lo como figura imaculada e exemplar da atividade parlamentar, uma figura decorativa apenas.
Suplicy tem consciência, segue suas convicções acima de tudo e de todos, uma coisa raríssima nesse mundo de personagens gelatinosas e fugidias. Todo mundo sabe o que pensa o senador, todo mundo sabe que será bem tratado por ele. Respeita tanto parceiros de militância quanto adversários ideológicos.
Não sei se convenci meu amigo, mas percebi que ele ficou quieto e pensativo por algum tempo e depois mudou de conversa. Nunca mais tocou no assunto.


Quem não falar agora nunca mais será ouvido pelo Brasil que presta
22 de junho de 2009

O suspeitíssimo silêncio dos oposicionistas, sublinhado pelo sumiço dos éticos, foi quebrado no domingo pelo pernambucano Sérgio Guerra. ”No cargo de diretor-geral, Agaciel Maia foi o operador de um grupo de senadores”, disse o presidente nacional do PSDB. ”O que o grupo queria, ele resolvia, e por isso ficou tanto tempo. Agora continua intimidando todo mundo, com a mesma cara e a mesma autoridade”. Parecia um bom começo. Mas era tudo o que Guerra tinha a dizer.

Os brasileiros decentes exigem que Guerra complete e traduza com clareza e coragem o falatório cifrado. Quem faz parte do grupo que teve Agaciel como operador? O que é que o grupo quis e o diretor-geral resolveu? Quantos e quais senadores compõem esse “todo mundo” que o delinquente federal anda intimidando? De quais segredos Agaciel se apoderou para virar extorsionário? Sérgio Guerra é senador faz tempo. Conhece suficientemente o clube dos pais da pátria para saber quem é quem. Se não contar o que cada sócio fez ou deixou de fazer, será apenas outro cúmplice por omissão.

Nesta segunda-feira, também renunciou à mudez o senador Artur Virgílio. As declarações e o discurso na tribuna melhoraram o ânimo dos homens honestos, mas imploram por mais capítulos. O tucano amazonense passou ao largo do coração das trevas que Sérgio Guerra apenas tangenciou. Só confirmou a desconfiança nacional: entre os chantageados por Agaciel Maia figuram remanescentes da diminuta bancada dos aparentemente honrados . Mas nenhum deles, presume-se, está no “grupo” a quem Agaciel serviu como operador.

”Ele acoelhou o Pedro Simon, o Eduardo Suplicy, o Cristovam Buarque”, exemplificou o tucano amazonense. Cristovam entrou em recesso por achar que deve ao superfuncionário do Senado o emprego da mulher no Congresso. Simon e Suplicy, para não terem de penitenciar-se de viagens ao Exterior ─ um com a mulher, outro com a namorada. ”É por isso que, quando a gente fala do Agaciel, eles fogem do plenário”, disse Virgilio. “Nenhum deles fez nada de grave, mas, infelizmente, a imprensa criminalizou esses episódios”.

Se os contrange o envolvimento em episódios menores, o que esperam todos para se curarem de vez da afasia oportunista e vocalizarem a indignação aprisionada na garganta dos eleitores honestos? Se estão fora do bando mencionado por Sérgio Guerra, por que não desmascaram os senadores homiziados nas catacumbas atulhadas de atos secretos e espertezas ultrajantes?

E onde andam os outros? Por que Jarbas Vasconcelos deixou de incomodar-se com o mau cheiro que até recentemente o nauseava? O que impede Álvaro Dias de tratar José Sarney como um pecador comum? Por que o próprio Artur Virgílio não escancara com a habitual veemência o que fizeram, fazem e farão os renans, jucás, idelis e outras abjeções vizinhas?

É bom que os senadores sem vínculos com a quadrilha recuperem a voz de imediato. Que falem agora ou se calem para sempre, o mais silenciosamente possível. Porque nunca mais conseguirão ser ouvidos pelo Brasil que presta.

Felizmente, o Senado Federal reage e toma medidas com vistas a corrigir os sérios problemas que foram constatados nas últimas semanas. Terça-feira, a Mesa Diretora anunciou a instalação do Portal da Transparência no sítio eletrônico do Senado. Nele constarão informações relativas à execução orçamentária e financeira; licitações e contratos; verbas indenizatórias; contratos de mão de obra; boletins suplementares e a relação dos funcionários do Senado Federal com a respectiva lotação e o cargo. Atendendo a requerimento que apresentei, a Mesa Diretora anulou, a partir desta semana, os efeitos do Ato, de 2000, que concedia auxílio médico vitalício ao Diretor-Geral e ao Secretário-Geral da Mesa.

É praticamente certa a aprovação do projeto de resolução do Senador Arthur Virgílio, também assinado pelo Presidente José Sarney, que prescreve que o novo Diretor-Geral deverá ser aprovado pelo Plenário; e seu mandato, deverá ser de dois anos, renovável só por mais dois, conforme projeto do Senador Aloísio Mercadante.

Além de divulgar o relatório da Comissão, que investigou os atos assinados de 1995 a 2009 e não publicados, foram anunciadas outras medidas: auditoria do Tribunal de Contas da União na folha de pagamento e nos contratos; e eliminação das folhas suplementares de pagamento. Uma Comissão Especial de Sindicância identificará os beneficiários desses atos, por que foram mantidos secretos e quem determinou que não fossem publicados.

Os Senadores Pedro Simon, José Nery e eu recebemos do Presidente do Sindicato dos Servidores do Senado Federal, Sindilegis, Magno Lessa, suas preocupações com respeito ao Projeto de Resolução que apresentei, o qual dispõe que o Senado Federal deverá publicar, no seu sítio eletrônico, o nome de todos os seus servidores, função, lotação – que já está no Portal da Transparência – e a remuneração. Ele argumenta que a proposição fere o princípio da privacidade, além de instar o seqüestro dos servidores. Ponderamos que deve prevalecer o princípio da publicidade, previsto no Artigo 37 da Constituição. Conforme os Professores Gofredo Silva Telles e José Affonso da Silva asseguraram em pareceres elaborados, quando fui Presidente da Câmara Municipal de São Paulo, e providenciei a publicação de todas as remunerações: é direito do povo que os paga saber o quanto recebem os servidores. A remuneração de senadores é de R$ 16.500,00 e não nos torna mais sujeitos a sermos assaltados do que os demais cidadãos. Privacidade de fato refere-se a como se gasta o salário.

O Senador Antonio Carlos Jr. foi designado relator deste projeto na Comissão de Constituição e Justiça. Disse que vai ouvir a todos os lados, inclusive o Prefeito Gilberto Kassab, de São Paulo, que tornou pública a folha salarial dos servidores municipais, para saber dos efeitos dessa medida.

Acredito que a transparência completa em muito contribuirá para coibir as irregularidades.

por Eduardo Suplicy // 01/07/2009 - 16:56

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