segunda-feira, 6 de julho de 2009

OS PERIGOS DA DESMORALIZAÇÃO ...


OS PERIGOS DA DESMORALIZAÇÃO DA CLASSE POLÍTICA E DA FUNÇÃO PÚBLICA

Artigo publicado no DCI, edição de 30/06/09
Paulo Sérgio Xavier Dias da Silva

psxds@hotmail.com


A sucessão de escândalos parece infindável. Toda semana surgem mais novidades escabrosas e os nossos poderes constituídos revezam-se nas manchetes dos jornais, ora o executivo, ora o legislativo e, em menor escala, até o judiciário.
Os maus políticos e executivos corruptos da alta administração governamental confundem cada vez mais a sua vida particular com a vida pública.
Utilizam-se da Praça dos Três Poderes, para Poder desviar e se apropriar do dinheiro público, para Poder ganhar sem precisar trabalhar e para Poder ignorar e se lixar para a opinião pública.
A sociedade brasileira já está cansada de tanta patifaria, tanto que até já se acostumou com essas notícias e parece desanimada, o que é um sério perigo.
A situação está ficando insuportável e a desmoralização pode se generalizar, colocando, no mesmo saco de gatos, bons e maus servidores, sérios e picaretas políticos.
Devemos evitar, a todo custo, que as nossas instituições sejam abaladas, antes que apareça um grupo reacionário de plantão e se aproveite de um agravamento do quadro político, pois o regime democrático, que às vezes pode parecer inoperante e injusto, é , sem dúvida, o melhor regime de governo existente no nosso planeta.
Neste triste cenário, configura-se a necessidade da ocorrência de uma verdadeira revolução moral e ética, por parte de toda nossa sociedade, induzida e convocada principalmente pelos segmentos mais esclarecidos e formadores de opinião, como os meios de comunicação, empresários, sindicatos de trabalhadores e associações de classe, professores, religiosos, bons funcionários públicos e políticos sérios.
Estes dois últimos, mais interessados e afetados por aquela mancha moral, deveriam sair na frente, protestando de forma veemente, demonstrando que não fazem parte daquela corja e denunciando os bandidos e todos seus atos escusos, que sejam de seu conhecimento.
Aliás, o servidor público comum é, via de regra, honesto, trabalhador, bem intencionado e mal remunerado, com exceção de alguns cargos, particularmente os de comissão.
Observa-se uma melhoria gradativa do nível dos funcionários, com o ingresso na carreira pública, de pessoal mais qualificado, admitido através de concursos públicos cada vez mais concorridos e com provas cada vez mais complexas.
Desde recém formados de nossas universidades até profissionais mais experientes e categorizados estão sendo atraídos pela vantagem da estabilidade, em função das dúvidas sobre o futuro da economia e das ameaças do desemprego.
No entanto, o nível de qualidade do serviço público poderia ser melhor, e contar com mais e melhores funcionários, se os objetivos primordiais para a sua admissão fossem o interesse em servir o bem comum e orgulho de pertencer a uma classe respeitada e admirada por toda a população.
Além do mais, funções típicas do Estado, como saúde, educação, segurança e justiça deveriam ser mais valorizadas e receber maior atenção e recursos financeiros do governo.
É evidente que temos na classe política, representantes que merecem nossa consideração, que são honestos e bem intencionados, mas que precisam se unir, criar coragem e expurgar os seus péssimos pares do Congresso Nacional.
Os partidos políticos deveriam também fazer uma verdadeira faxina moral, selecionando melhor seus afiliados e candidatos, atraindo cidadãos idôneos e comprometidos com o bem-estar público. Só assim teríamos a verdadeira reforma política.
Retomemos aos maus servidores, locados em sua quase-totalidade no alto escalão, e os políticos sem escrúpulos, que apresentam como grande atributo, a cara de pau, lustrada com óleo de peroba.
Tomemos alguns exemplos, desde o mais antigo, como de um famoso professor, “candidato ao Prêmio Nobel de Economia e Mestre em Finanças“, ao nos ensinar que não havia caixa dois no episódio do famigerado mensalão e sim, movimentação financeira não contabilizada.
Outros mais, que vêm constantemente ocorrendo, como afirmar com convicção: “não sei de nada do que aconteceu”, apesar de tudo ter ocorrido na minha sala ou na sala vizinha, “não se pode sair acusando ninguém sem provas“, mesmo tendo todas evidências e várias provas, “por aquele companheiro, eu ponho a minha mão no fogo“, desde que o fogão esteja desligado e sem gás, “vamos apurar todas essas denúncias”, mas vai ser praticamente impossível superar todos os obstáculos que iremos colocar, “o tempo dirá que tenho razão“, pois o brasileiro tem memória curta e na certa vou me reeleger tranquilamente na próxima eleição.
Um dos mais recentes, “parentes e amigos façam turismo e viajem á vontade, que tudo fica por minha conta”, digo das contas públicas, e, o último, “nesta casa tem muita transparência”, só os vidros da janela, porque o resto está debaixo dos tapetes e relacionado nos atos secretos.

Se esta situação continuara se deteriorar, a Praça dos Três Poderes poderá ficar mais conhecida como a Praça dos “Três Podreres“, e muitos políticos e administradores públicos vão ter que ouvir, contrariados, o povo cantar aquele antigo samba, com o famoso refrão: “ Se gritar pega ladrão, não fica um, meu irmão“.



Paulo Sérgio Xavier Dias da Silva
Economista graduado pela USP, consultor e assessor empresarial, especializado na recuperação e expansão de empresas em dificuldades financeiras.
www.paulosergioxavier.zip.net

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